Capítulo 47 - Tem alguém aí?

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~~Caren~~

Passei o resto do dia vendo TV e respondendo mensagens enquanto devorava uma caixa de bombom enviada por Rick, coitado, depois de tudo que eu fiz com ele... pelo menos os bombons estavam gostosos.

Por volta das 20hrs desse dia estranhamente melancólico finalmente recebo uma mensagem de Lauren, não era um parabéns como eu esperava, ela foi curta e grossa "Vem aqui, agora".

O que ela quer dessa vez?

Bato na porta, uma, duas vezes e nada. Segundos depois ela grita: 

—ESTÁ ABERTA— Claramente estava impaciente.

Abro a porta de madeira e vejo as pessoas que mais queria estar perto dentro de uma mesma sala. 

FELIZ ANIVERSÁRIO!!— Todos falam ao mesmo tempo, quase como se tivessem ensaiado.

Vejo Andrew com um chapeuzinho ridículo da Barbie na cabeça - claramente caçoando da minha devoção pelos filmes da Barbie quando era mais nova- Jenny não continha o riso naquela cena cômica, nem eu. 

Todos estavam lá: Liam, com quem eu tinha as melhores conversas sobre cervejas artesanais e até mesmo Noah que segurava um embrulho mal feito que claramente era uma garrafa de uísque.

Antes mesmo de conseguir abraçar todos Lauren me puxa pelo braço e coloca uma de suas máscaras para dormir com desenho de panda sobre os meus olhos.

—A gente tem uma surpresinha pra você— mesmo sem poder vê-los, senti risinhos maliciosos desenhados em suas bocas.

Entrei em um carro e não sabia ao certo quem acompanhava eu e Lauren, mas sabia que o resto nos seguia em outro carro logo atrás, era assustador não saber para onde estavam me levando, o som alto na rádio não deixava eu ouvir meus próprios pensamentos, mas eu sabia que se essa música eletrônica escandalosa não estivesse castigando meus ouvidos eu só pensaria em uma coisa: Onde será que Mat está agora?

O carro para com um forte solavanco, com certeza devia ser Jenny dirigindo. Desço do banco de trás com dificuldade e Lauren me guia pela calçada, os barulhentos carros indicam que estávamos na avenida, e logo os motores são substituídos por um barulho abafado de pessoas conversando, tacos de sinuca e copos enquanto entrava em algum lugar. O cheiro era familiar, de petiscos e álcool, antes de concluir o raciocínio "onde estou?" Lauren tira a venda dos meus olhos, era inconfundível, a pouca iluminação e o estilo europeu, estávamos no pub do Mathew.

Eu olho a redor e vejo apenas rostos familiares, meu antigos colegas da faculdade com copos nas mãos, meus primos que não via há séculos da Georgia, alguns colegas de trabalho - não vi Rick entre eles, para minha sorte- e as pessoas que frequentavam as festas que eu e Lauren fazíamos. No teto uma faixa de "Feliz aniversário, Caren", logo me vi cumprimentando a todos. Lauren era realmente boa em fazer lista de convidados.

O tempo começou a voar depois de algumas doses enfiadas goela abaixo por supostos "médicos" que já estavam embriagados.  Me dei conta que já passavam das 23h e muita gente desconhecida entrava na minha festa, para toda pergunta "Quem é esse?"  sempre era amigo de um amigo de um conhecido. O lugar já estava lotado e era mais difícil encontrar rostos familiares até que finalmente encontro Lauren e Andrew na mesa de sinuca.

—Gostou? — ela pergunta enquanto pede outra bebida

—Adorei, obrigada elo que fizeram por mim. Eu estava tendo um dia péssimo— tomo o taco da mão de Andrew mas erro o buraco.

—Não foi só a gente que fez isso, você tem que agradecer a ele — ela aponta com a cabeça para alguém atrás de mim.

Viro o rosto e vejo de longe, era ELE, com a tradicional camisa preta. Inconfundível. Era Mat, alto e forte. Com mais músculos que a última vez que o vi, ele devia estar malhando. Seus olhos escuros encontraram os meus por alguns milésimos, o suficiente para perdê-lo de vista. Tomada por uma impulsividade tempestuosa começo a passar por entre as pessoas que bloqueavam meu caminho, eu não fazia ideia de como encontrá-lo no meio de tanta gente, nem mesmo para que lado ele tinha ido. Mais uma vez me vi perdida entre tanta gente, me sentia sozinha de novo, a respiração se tornou difícil. Como alguém é capaz de deixar o amor escapar tantas vezes? 

Meu telefone toca, era o número de casa. Automaticamente atendo com um "mamãe?", mas era meu pai, logo caiu a ficha, ela nunca mais me ligaria, e saber disso era como um soco no estômago. 

—Caren?? Está me ouvindo querida? — o barulho do local dificultava a compreensão do que baixa e calma voz de Carlos tentava me dizer. 

Tampando um dos ouvidos podia escutar apenas pequenas frases que ele falava, mas ele era um doce e sempre dizia a coisa certa. No meio de gritos e a música que já estava mais alta que antes ouço "eu te amo", tento achar a saída daquele lugar

—Só um minutinho pai— digo, mas ele continua calmamente seu discurso.

Antes de conseguir achar a saída ele se despede, entre frases como "qualquer coisa é só me ligar" e "estou esperando sua visita" consigo entender  "sua mãe também te amava muito, ela estaria orgulhosa de você agora", o ar falta outra vez, outro soco no estômago e ele termina a ligação com "Beijos saudades".

Procuro desesperadamente uma saída, ou algum lugar em que eu pudesse chorar sem que alguém me visse. Abro uma porta escondida atrás do bar e a música alta fica abafada atrás da pequena porta. Eu podia respirar novamente. Do lado de fora, onde ficavam as lixeiras e caixas vazias estava escuro, me encosto na parede. Finalmente, não tem ninguém aqui.

—Caren? — uma voz surge do nada atrás de uma pilha de caixas.

Ou pelo menos eu achava que estava.

Aprendendo a dançar na chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora