Capítulo 48 - A teoria dos C's

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     Viro meu rosto rapidamente e vejo Mat apoiado na parede com um cigarro entre os dedos. Não soube muito bem o que fazer, eu estava assustada e ele estava lá, me encarando com aquela postura intocável, tranquilo, tinha uma expressão enigmática.

—Está tudo bem? — ele me encara de uma forma serena, ignorando toda a confusão que acontecia lá dentro

— Sim, só estava um pouco... tonta — gaguejo 

Ele se aproxima, o característico cheiro do seu perfume amadeirado é familiar ao meu olfato, agora acompanhado pela fumaça que o seguia lentamente, meu estômago revirava enquanto seus braços cercavam meu corpo. Mat lembrou do meu aniversário e de como foi o último, nós estávamos tão diferentes mas tão... iguais. Não conseguia entender, apesar de toda a mudança que o tempo nos fez ainda continuávamos os mesmos, ele ainda tinha o mesmo olhar do cara da cafeteria e eu ainda me derretia com isso.

Mat passa a mão no meu rosto e nossos olhos continuam estagnados, petrificados uns aos outros. Toda e qualquer coisa que acontecesse ao redor não passava de um borrão, mera moldura para a cena que mesmo durando milésimos aconteceu em câmera lenta. Fomos surpreendidos por um trovão, e a claridade feita no céu tirou minha atenção daqueles olhos. 

—Quando começou a fumar? — mudo de assunto, tentando disfarçar o que tinha acabado de acontecer

—Há pouco tempo— ele apaga o cigarro com a sola dos sapatos — Nunca ouviu falar na teoria dos C's?

Faço cara de interrogação e me encosto na parede, não conseguia tirar os olhos dele

—Algumas pessoas chamam de maldição, mas não acredito nisso, sabe. Dizem que tudo que é bom ou viciante começa com C. Cerveja, Chocolate, Café, Cocaína, Cigarro... 

—E qual desses você acha mais viciante? — pergunto inocentemente

— Ultimamente, Caren, tem sido você — ele responde com uma naturalidade invejável

Começo a corar e ele pousa sua mão nas minhas bochechas que ardiam de vergonha

— Eu senti muito sua falta, muito mesmo. Toda hora. Quando eu acordava, quando ia dormir, enquanto dormia. Você não faz ideia do quanto sonhei com você nesses últimos tempos, mas quando eu acordava nunca tinha uma mensagem sua e isso me enlouquecia, Caren — Seu semblante muda, a tranquilidade de antes agora era tomada pelos olhos marejados —Não teve um dia em que eu não pensei em falar com você, em que eu não lembrasse da tua risada — ele pausa quando sua voz começa a vacilar — mas você estava vivendo a sua vida, eu tive que aceitar isso. O que me sobrou foi esse Pub e o maldito cigarro...

Eu desabo, e o choro sai desesperado, em soluços. Tudo que eu queria estava na minha frente, sempre esteve. Eu fui cega demais para não notar. O orgulho que sustentávamos nos separou durante muito tempo, e a única coisa que eu fazia era engolir seco e fingir que não doía, que não me rasgava o peito. E eu fui empurrando com a barriga, como sempre fazia com tudo, como fiz com a faculdade e o plano de tv a cabo que nunca tive coragem de cancelar. Eu me senti péssima. Tive vergonha da covardia, por ter me escondido atrás de um cara que, convenhamos, não tinha nada a ver comigo, por ter mudado de assunto em todas as vezes em que me perguntavam sobre Mathew, pelas mensagens que comecei a escrever e apaguei. Por orgulho, pela incerteza e o pior de tudo, pelo medo.

 Apoio a cabeça em seu ombro, e com a fraca claridade do poste de luz vejo uma lágrima cortando seu rosto

Me sentia a pessoa mais frágil do mundo, e eu era apesar de sustentar uma postura que não era minha, apesar de fingir que minha perna quebrada não doía ou que não tinha medo de dormir sozinha. Mas isso não importava mais, não enquanto ele me abraçava, eu estava vulnerável, mas de um jeito bom. Sem armaduras ou fingimentos, eu era eu. A menina que sentia falta da mãe, que ligava a tv para não se sentir sozinha, que se cobria com o edredom quando chovia muito forte. Quando ele me abraçava tudo parecia insignificante perto das sensações que me causava, era como se a gente pudesse conquistar o mundo e voltar, e mesmo que no meio do caminho eu me cansasse não importaria, porque ele estaria lá.

Uma fina garoa começa a tocar minha pele

—Eu te amo — a frase escapa da minha boca, não foi pensada. Parecia que algo preso na minha garganta há muito tempo tivesse saído, e a sensação de alívio foi instantânea — Eu.Te. Amo, é isso. Eu amo você, Mat.

(continua)

     

Aprendendo a dançar na chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora