Capítulo 8 - Viajando pela Costa Leste : Tentações.

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Essa decisão foi uma das mais radicais que eu já havia tomado. Viajar assim do nada, eu jamais faria esse tipo de coisa em meu estado natural de sempre viver na zona de conforto, tudo em minha vida era premeditado, eu sempre tive em mente o que e como fazer e seguia religiosamente esse plano, sempre sabia a hora de ir e voltar antes mesmo de sair de casa...

- Não acredito que você está fazendo isso - Noah diz desacreditado enquanto faz um sinal de negação com a cabeça - O que você tem na cabeça????

- O que VOCÊ tem na cabeça?! Quem decide ir para tão longe assim do nada, sem pensar em nada? Você sabe em que pousada vai dormir? onde vai comer no caminho? Você sabe pelo menos o caminho???

- Não, mas eu sei para onde estou indo, e isso já e o suficiente - ele diz um pouco mais calmo enquanto liga o rádio.

O que Noah disse ecoou na minha cabeça, por um momento estava pensando em pedir para ele me levar em casa e desistir de toda aquela loucura. Ele não sabia o que estava fazendo, mas sabia para onde iria... Eu gosto de ter as coisas sob controle, de saber de fato o que estou fazendo, mas o que adianta se nem sei para onde quero ir? Nesses malditos 24 anos sempre tive a impressão de que estava tudo conforme os planos, mas naquele momento no carro com Noah enquanto tocava uma música ridícula no rádio pensei que talvez eu estivesse completamente perdida sem perceber, nada que faço é porque gosto e meus plano não são meus. Depois de analisar friamente a situação decido continuar ali e dizer ao meu chefe que terei que me ausentar por uns dias, inventarei algum motivo e ele acreditaria já que nunca faltei nem mesmo na faculdade, depois voltarei para minha vidinha chata e sem graça.

Após 40 minutos na estrada, continuamos em silêncio, até que começo a cantar sweater weather do Neighbourhood que toca na rádio, ele me olha com reprovação, mas não resiste ao refrão então começamos a cantar juntos.

'Cause it's too coooold for you here and now, so let me hoooold both your hands in the holes of my sweater

(porque está muito frio para você aqui e agora, então me deixe segurar suas duas mãos nos bolsos do meu suéter)

Depois rimos um do outro por cantar extremamente mal.

-Como cantor você é um ótimo motorista - falei rindo

-Você também não é uma das melhores cantoras minha querida - ele disse debochado.

E rimos novamente.

( 2 horas de viagem)

Já havia escurecido, e me dei conta de que não tinha nenhuma troca de roupa, nesse momento caiu a ficha de que eu estava em um carro com um cara que só sai uma vez e canta terrivelmente mal em outra cidade.

-Então você morava lá? Cadê seu bronzeado então? - Noah pergunta.

-Sim, é um lugar incrível para se crescer mas odeio pegar Sol, você sabe que faz mal né?

-Seus pais moram lá?

-Sim, mas faz tempo que não vou visitá-los... Digamos que minha mãe não seja uma das pessoas mais agradáveis do mundo.

- Puxa, senti tanta mágoa na sua fala agora, ela deve ser terrível.

-Na verdade ela só quer o meu bem, do jeito dela, mas quer... Não a culpo por ser assim, estou fazendo o mesmo com você agora. - dei um sorriso tímido.

- Então ela fez certo, você tem um ótimo emprego, mora em um belo apartamento, qual é o problema?

- O problema é tudo que deixei de fazer para ter tudo isso, esse ótimo emprego e esse ótimo apartamento eram os planos dela, sequer tive tempo para arquitetar os meus. Eu dançava quando era pequena.

Mostrei uma foto minha com a roupa do balé, ele tira os olhos da pista por alguns segundos. Conto toda aquela história triste da garotinha que queria ser bailarina mas virou médica e prefere culpar todos a sua volta da frustração de não ter sido o que queria ao invés de culpar a si mesma por não ter corrido atrás disso. Ele me olha espantado com a história

-Mas você ainda sabe dançar? - ele pergunta.

-Devo estar um pouco enferrujada, mas ainda dou pro gasto, minhas apresentações na sala são as melhores, pergunta pro Nick - ri mas logo em seguida caiu a ficha, MEU GATO, deixei Nick em casa.

Liguei para Lauren e pedi para que ela o levasse para sua casa, ela me pergunta para onde estou indo, guardo o segredo de Noah e digo que minha mãe estava precisando de mim.

-E o Noah, tem notícias dele? - pergunta Lauren

- Sim amiga, ele está bem. Sabe como são os homens né? Todo aquele lance de medo de se apegar e blá blá blá - rimos juntas.

Desliguei o telefone e vi Noah me encarando se segurando para não rir.

-Sério mesmo? Medo de se apegar, não tinha uma desculpa melhor não? - ele não se aguenta e começa a rir.

-Ué, foi o que eu tinha pensado - falei séria.

-Olha bem pra mim, você acha que eu sou esse tipo de cara? - falou com um sorrisinho malicioso enquanto orientava com as mãos que o olhasse de cima a baixo.

Ri e o observei, ele realmente não era aquele tipo de cara, mas era o MEU TIPO DE CARA, engoli seco minha vontade de beijá-lo loucamente, estamos aqui em uma missão e eu não vou ficar com ele. Não vou. Repito para eu mesma. Somos só amigos, só isso e se ele realmente quisesse alguma coisa comigo teria ido para aquela festa. Tento esquecer tudo isso e me distrair com o celular, mas toda vez que olho para o lado lá está ele, a minha tentação, credo. Ainda tenho 12 horas para me segurar, mas toda vez que ele travava o maxilar e passava a mão no cabelo que bagunçava com o vento minha vontade era de pular no seu pescoço. Não faz besteira Caren, por favor. Penso sozinha.

Aprendendo a dançar na chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora