Ele estava parado em minha frente sorrindo, como sempre, até me convidar para um abraço. Confesso que esse tempo em que estive com Rick tem sido bom, ele estava me apoiando desde a minha recuperação e há uns 4 meses estamos saindo. Digamos que ele é um cara legal, quer dizer, ele era meu treinador e tenho que admitir que no começo foi um pouco estranho mas o Rick de moletom e meias com chinelos era totalmente diferente do Rick que brigava quando deixavam marcas de dedos no espelho da academia.
—O trânsito estava horrível né, eu imagino, mas pelo menos estava em seu carro novo, qual foi a sensação? — ele pergunta atencioso enquanto ajeita o prato na mesa para mim.
Eu estava bem, pela primeira vez não havia motivo para estar preocupada nem pelo que roer as unhas ou passar madrugadas inteiras chorando em um bar qualquer, Rick é um cara legal, eu tenho um carro legal, um apartamento legal, um emprego legal e tudo que seria necessário para uma pessoa se sentir... legal, certo?
—Não sabia que pudessem existir tantos carros em uma só cidade, aquela avenida simplesmente não andava — falo indignada.
E assim foi o resto da noite, falamos mais sobre o trânsito (um dos nossos assuntos decorrentes), tomamos vinho legal, assistimos um filme legal e dormimos na minha cama, não tão legal assim.
—Preciso de uma nova, olha isso — Falo apertando o pobre colchão que estava nos seus últimos dias de vida e me fazendo sentir terríveis dores nas costas.
—Realmente, tenho a impressão de ter sido atropelado toda vez que acordo — Rick diz e nós dois rimos;
—Amanhã vou procurar por uma nova — digo quase bocejando e me deito na dura e velha cama.
Acabaram os assuntos, então nós dormimos.
No dia seguinte depois de uma longa conversa sobre o preço da gasolina meu carro ainda com cheiro de novo para em frente a academia onde às segundas-feiras eu não tinha aula e Rick desce, vou em busca da loja de colchões mais próxima. Passando pelas lentas ruas de NY mesmo que em uma segunda-feira, olho atentamente as lojas as quais não dava tanta atenção, vejo as vitrines repletas de cartazes imensos, os bares que por incrível que pareça já estavam abertos e em uma esquina, aquela mesma esquina, a qual eu vinha muitas vezes a pé antes de estar em um carro legal, a antiga cafeteria, que agora tinha virado um pub (bem que Mat dizia, que essa moda pegaria aqui), fico curiosa e um pouco nostalgica tudo isso misturado com um pouco de tristeza e outro sentimento que eu não consigo lembrar.
—Bom dia, o que deseja? — pergunta um garoto magro e com um rosto engraçado
—Eu quero um cappuccino, por favor.
Fico um pouco envergonhada em dizer isso depois que um garota jovem e bonita se encosta no balcão ao meu lado e com um tom exagerado de flerte interrompe meu pedido e pede um tal de Irish Coffee, procurei no letreiro e vi que era um tipo de café com uísque, chantilly e outras coisas que pessoas ultrapassadas como eu que pedem cappuccino não se atreveriam em beber uma hora dessas. Eu me sentia um pouco velha e sem graça naquele momento
—A senhora quer provar? É um sucesso aqui — ele fala com uma falsa animação
SENHORA?? Me senti um pouco ofendida naquele momento, eu não tinha noção de que pedir bebidas sem alcool pela manhã tinha se tornado algo fora de moda, com o ego ferido e uma ousadia momentânea que havia deixado de ser comum após os 25 peço o café irlandês e me surpreendo com o sabor, bem jovial, era esse gosto que eu tinha me esquecido, de ser jovem, ou pelo menos se sentir assim. Me empolgo e peço mais um, a juventude era tanta que tinha esquecido do meu carro estacionado na rua de trás o qual não estaria apta a dirigir após um café tão descolado como aquele.
Pago e saio do caixa um pouco tonta, uísque não era algo presente na minha nova fase "legal". Minha pressão fica baixa e uma sombra escura aparece no canto dos meus olhos, dificultando a visão, me sinto prestes a desabar até sentir uma mão quente tocar meu ombro com delicadeza.
—Você está bem?? — uma voz grossa e grave surge em meio aos ruídos de pessoas conversando
—Estou sim — não dou muita atenção e tento continuar andando, aliás não quero parecer tão patética como alguém que não aguenta dois copos de café.
—Tem certeza? — o dono da voz me vira rapidamente pelo braço, e aquele rosto,eu jamais confundiria com nenhum outro.
Era Mat, e ele estava mais alto que a última vez que eu o tinha visto, talvez a camisa social tenha dado essa impressão, mas ele parecia ótimo, deixou a barba crescer e ela estava incrivelmente bem desenhada pelo seu rosto que não estava tão diferente.
—Mathew?
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Aprendendo a dançar na chuva
RomanceCaren Miller é uma jovem que ao chegar em Nova Iorque para começar a nova carreira entra em uma jornada para descobrir mais sobre seus próprios medos, dúvidas e o amor, em meio a decepções e triângulos amorosos. A vida é uma grande oscilação entre m...