A lição.

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As coisas não andavam bem para Pedro, ao chegar em casa, o mesmo se encontra chorando em seu quarto depois de apanhar feio do pai por ficar o dia todo fora e voltar apenas com R$ 5,00 reais o menino não se conformava em ter que fazer aquilo todos os dias para apanhar, estava decidido a um dia, nem que seja anos para frente, enfrentar seu maldito pai e sair daquele cubículo que vivia, ele e suas irmãs.

-AÍ minhas costas... não quero mais fazer isso.
-Você precisa Pedro, do contrário o pai vai te matar qualquer dia.
-Se eu fugir, você vai abrir a boca?
-Depende, se me levar.
-Katarina, sabe que não posso cuidar de mim e você ao mesmo tempo... seria quase impossível, se bem que eu faço isso a noite inteira quando tem tiros pela rua - diz ele de cabeça baixa e limpando os olhos molhados pelas salgadas e dolorosas lágrimas-
-Você faz muito por nós duas, eu e Yasmin temos orgulho de você.
-É o que me dão energia pra continuar.
-Com certeza os céus.....
-Não, não vem com essa babaquice de "céus me recompensarão por todo meu esforço"
-Precisa acreditar pra isso acontecer.
-Então nunca vai. Não acredito!
-Deixa de ser babaca Pedro, precisa de alguma motivação pra continuar resistindo a esse mundo.
-A partir de hoje... minha motivação, é a felicidade.
-Se é assim que você quer se motivar, vá em frente, a felicidade é sua motivação.
Bom, agora que esse pesadelo acabou, vou dormir. Dorme com De...
Durma bem.
-Obrigado, e, você também. Durma tranquila, ja passou.

Depois de Katarina sair de seu quarto, Pedro tranca a porta, abaixa e passa a mão por baixo da dura cama em que dormia, pega uma caixa de sapato com algumas notas de 2 reais. Ao todo dentro da caixa, tinham 8 reais contados, e Pedro sabia que era mais que o suficiente para seu pai comprar a droga que ele queria e começasse o pesadelo batendo em sua mãe, suas irmãs e nele próprio.
Foi quando alguns passos se escutara em direção ao seu quarto e rapidamente foi recolhida e guardada a caixa de dinheiro.

-Pedrinho... é a mamãe, posso entrar?-diz dona Helena batendo na porta-
-Nunca pediu permissão... porque agora?
-É porque eu vi a Katarina saindo e quis ver se queria algo.
-Sossego, pode ser?
-Merda moleque, abre logo essa merda de porta!
-O que...

O tapa que ele tomou, ecoou por todo o quarto ao abrir a porta para sua mãe, e sem entender aquele gesto, ele abaixa a cabeça, e diz com a voz trêmula:
-O que você quer? Bruxa!
-Dinheiro, amanhã no mínimo 20 reais ou então vai morar na rua, moleque mal agradecido, tem comida, cama e o que pedimos, é que vá trabalhar, e você não consegue juntar 10 reais. Quando você não trás, quem apanha... sou eu!
-Então... amanhã eu volto com mais.
-Se não voltar, dorme na rua, não posso alimentar 5 bocas Pedro, precisa dar um jeito, suas irmãs são novas demais para trabalharem, você precisa nos sustentar.
-Sim senhora -diz pedro rangendo os dentes-.

Eram 23 horas, quase todos da minúscula casa dormiam... e os tiros começaram mas diferente das outras vezes, era mais intenso... Pedro correu para o quarto de suas irmãs e ao chegar, percebeu que elas estavam protegidas dentro do armário de cimento que ficava na parede, não deu tempo de Pedro se esconder, então ele apenas abaixa e sai rastejando para baixo da cama que havia no quarto para se proteger. Até que depois de longos quatro minutos e meio de tiroteio, vem a calmaria... um silêncio infernal que consumia as irmãs e o próprio Pedro. Os tiros tinham sido perto dali. Os bandidos claramente poderiam esconder em sua casa, já que só havia uma porta de madeira separando a rua, do primeiro cômodo da residência...

Ao sair do quarto de suas irmãs preocupado, Pedro se dirige a cozinha onde encontra sua mãe ensanguentada, caída, gritando de dor e com Marcelo (seu pai) desmaiado no sofá rasgado, inconsciente das drogas pesadas que consumiu, Pedro percebeu que era ele por ele. O que o prendia em casa era o amor que a mãe o dava, mesmo violento, um amor que ele precisava receber. Marta não era carinhosa, mas era atenciosa e ao primeiro sinal de problema, corria para o quarto de suas filhas. Naquela noite ela não apareceu. O primeiro tiro foi dado e ela foi vítima de bala perdida.
Pedro agora está sozinho no mundo.
Suas irmãs estão sozinhas, o que ele faria sem a ajuda da mãe para cuidar das suas irmãs? Isso tudo passava como um filme pela sua cabeça, mas não era hora de sentar e esperar um milagre, ou a polícia. Ele precisava agir!

-Yasmin, Katarina, encham a mochila com roupas, vamos sair em 20 minutos.
-Cadê a mãe...? Ela sabe?
-Ela me mandou fazer isso, anda, precisamos ser rápidos, não abram a porta até eu chegar.
-Por que? -Diz Katarina, assustada com os olhinhos castanhos arregalados.-
-PORQUE SIM, PORRA, FAÇAM A MOCHILA E NÃO FALEM NADA.
-Preciso fazer a minha. Enquanto eu não disser saiam, não saiam.

Pedro correu para seu quarto, pegou algumas roupas que davam para ser usadas de novo e colocou-as dentro da mochila. Ao sair de seu quarto escuro, foi logo em direção ao de suas irmãs.

-Meninas, saiam e vão direto pra porta, não vão para a cozinha, andem.

E lá se vão os três, sozinhos na noite fria, solitarios, abandonados como filhotes de pinguins não pertencentes ao bando.

Andaram muito, até os pés, dizerem chega, a sola de seus pisantes se sujaram muito, No local onde moravam, tinha muita terra e no dia anterior, choveu o que era previsto para todos os 2 meses seguintes, a rua estava um lamaçal.

-Aqui meninas, estamos cansados, dormiremos aqui.
-Eu não!
-Sinta-se a vontade para escolher algo melhor.
-Eu vou mesmo -Diz Katarina com nojo do local escolhido por Pedro-
-Vá com Deus, não nos achará aqui amanhã.
-Não preciso de você. Vem Yasmin, vamos procurar um lugar descente.
-Uhm hum -murmura Yasmin com a boca em sinal de reprovação com a cabeça-
-Até ela percebeu que é melhor ficar onde estamos, o túnel é grande, cabe um carro sem problemas, sobra pra gente, tem papelotes ali que dá pra usar como coberta, ao menos vocês que são menores.
Eu fico de olho nas duas.
-Sem chance- Diz Katarina resistindo a ideia de Pedro em dormir no túnel-
-Olha aqui sua peste, você vai dormir aqui, sim ou não? Estamos cansados, se quer dormir em outro lugar, sinta-se a vontade, não vou discutir, estou morto demais pra provar meu ponto de vista.
-Ok, então eu vazo e ninguém vem atrás de mim.
-Faça como quiser. Yasmin, passa pra lá, pega aqueles papelotes ali e se cubra.

Ao dizer isso, Katarina sai do túnel e some na noite. Ela ficaria bem, já que estava num bairro relativamente "nobre" e que não tinha muitos vagabundos pelo local. Mesmo sabendo disso, ela não quis deixar seus irmãos. Mas precisou, queria mostrar que não se pode depender sempre do mais velho. Não demorou muito para ela achar um orfanato e adentrar a pequena residência. Ela estava segura, mas e quanto aos seus irmãos?

-Boa Noite Yasmin, sei que não é muito, mas tente não se mexer para o frio não entrar tanto pelos buracos.
-Pedrinho, Katarina vai ficar bem?
-Não sei, mas ela é esperta, vai conseguir um lugar pra ficar.
-Tomara. Que sim.

Repousando a cabeça no ombro de Pedro, Yasmin adormece, e logo em seguida, seu irmão também...

Urso MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora