Sinceridade de Uma Conversa Franca - Parte 1

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A noite caiu, e como o combinado. Pedro, Jorge e Eric se reuniram na casa de Jorge para falar com Jeffrey, que já estava "desaparecido" a algumas semanas.

Jeff chega com seu carro na casa de Jorge e o deixa em frente a casa enorme do amigo. Adentrando a pequena grande casa, Jeff encontra Pedro mexendo no celular sentado no sofá de costas para a porta sem perceber que o pai havia chegado. Olhando mais a fundo, Jeff enxerga Jorge cochilando na cadeira da mesa de jantar enquanto Eric repintava algumas peças de jogos de tabuleiro ao lado do amigo que roncava forte.

-Me diz que o Jorge fez aquele macarrão ao molho branco... O cheirinho está maravilhoso.

Pedro permanece inerte no sofá e direciona a palavra para Eric.

-É... Parece que eu te devo 20 pila, Eric, ele realmente veio.
-HAAAA EU TE DISSE! -Eric grita acordando o amigo que ficou bravo com o jeito que o acordaram-
-Eric seu ogro gordo destrambelhado do caralho, tá pingando tinta na minha mesa de jantar novíssima e exclusiva! Eu te falei mais de mil vezes. Pode e pintar essa casa do jeito que você quiser, mas fica longe dos meus móveis! Você vai limpar isso com sua língua.

Algumas coisas nunca mudam...

-Apostaram que eu não viria por 20 reais? Eu estou tão barato assim?!
-Não queríamos apostar nada, mas era o único jeito do Eric colocar dinheiro no rolê.
-Engraçadinhos.
-E você Jeffrey, tem muito o que falar com a gente. -Jorge diz empurrando a cabeça de Eric para a mesa na tentativa de fazer o grande homem lamber a tinta que sujara sua nova mobília-
-Aí aí aí, meu pescoço, seu violento. Isso dói viu? Seu insensível -Eric escapa do ataque repentino do amigo e coloca a mão no pescoço-
-Bom, nada mais justo do que comermos, agora que a vossa majestade Jeffrey já chegou. -Pedro diz se levantando do sofá e jogando o celular no assento reclinável que ficava do lado de onde ele estava, e dirigindo-se para a área da piscina/churrasco-
-Vamos para a área de churrasco, eu levo o tabuleiro, já que os pratos já estão na mesa. -Jorge diz-
-A barriguinha de Eric precisa de macarrão! -Eric diz levantando a blusa e puxando a cabeça de Jorge para dentro da camisa- Olha só como ela está vazia Jorge.
-Sua criança do caralho, para com isso, Agora não.

A noite ia avançando e durante o jantar, Eric brincava irritando Jorge a todo o momento, fazendo Pedro e eu rirmos um pouquinho. Quando acabamos nossa refeição, Eric foi na cozinha e nos trouxe uma bandeja repleta de docinhos de morango que ele mesmo fizera com a ajuda de Pedro. O sabor não podia estar melhor, Nesqik de morando e leite condensado fazem uma combinação perfeita nas mãos de Eric.

-Entao, agora que terminamos de comer, vai explicando. -Eric diz cruzando os braços e passando a ideia de estar nervoso com o ato do amigo de se esconder-
-Olha só ele tentando bancar o macho alfa gente... Não é a coisinha mais linda desse mundo? -Jorge diz brincando com os lábios do amigo que se rendeu a brincadeira de Jorge e começou a rir também-
-Hahahaha Muito engraçado vocês dois. Até me faz lembrar que já fiquei com ambos- Jeff diz pegando um docinho e jogando os três na boca- Aí meu Deus, até parece que vocês são santos.
-A gente já sabia que você era rodado Jeff, mas acho que eu ainda ganho. Vai precisar de mais que dois ao mesmo tempo pra passar o Jorginho aqui- Pedro fica espantado com a fluidez do assunto-
-Quem pega dois ao mesmo tempo, é você Jorge. Eu e Eric sabemos disso melhor que qualquer um.
-Pera aí, do que a gente tá falando mesmo? Não viemos aqui pra discutir a odiotisse do meu pai?
-Ah, sim, passamos a palavra para o babaca maior. Jeff... -Eric diz comendo um docinho-
-Bom, por onde começo... Vou explicar como se deu um pouco da minha infância pra vocês entenderem o porque eu precisava dar fim a tudo isso.
George sempre foi invejoso, esse é o nosso ponto de partida. Sabendo disso, vocês já deduzem que ele sempre tinha ciúmes de todos, mas eu sempre fui o "alvo" por ser o mais velho e sempre ter a razão. Meu pai chapava todas e voltava violentíssimo do bar, sobrava pra todo o mundo. Eu, minhas irmãs e o George. Eu sempre limpava a barra dele tentando fazer o pai não vê-lo pra se esquecer dele. Por um tempo deu certo, mas ele sabia que tinha quatro filhos e não três. Ele procurou a casa inteira pra surrar George por se esconder e o encontrou dentro da máquina de lavar roupas antiga que fora do pai do meu pai, vulgo nosso avô- Jeff pega um docinho na mesa, joga na boca e continua contando, mesmo de boca cheia- e aí, quando ele viu George escondido, trancou ele lá dentro, encheu de água até a metade e deixou ele lá por 2 dias. Sem ir ao banheiro, sem comer, sem beber e gritando até perder a voz. Quando saiu, ele estava diferente. Não conversava conosco depois disso, Ele tinha duas únicas manias. Brincar no carro quando o pai estava fora, e montar quebra cabeças. Era o dia inteiro, e fora as idas ao banheiro e a cozinha para comer, ele não fazia outras coisas. Quando o pai chegava nos dias de fúria, ele batia em todos, mas somente Eu e George não chorávamos. Só se ouvia os tapas. Eu ainda soltava alguns grunhidos mas George era silêncio total enquanto estava apanhando. Papai fechava a porta, então eu realmente não sabia o que ocorria lá dentro. Mas era sempre o mesmo barulho. -Jeff se levanta da cadeira, desabotoa a calça e desce até a região do joelho deixando sua coxa a mostra- Um barulho idêntico a este- Jeff abre a mão e começa a bater forte nas suas coxas, deixando uma lagrima cair dos olhos na décima quarta batida- Quando acabava, George saia de casa e voltava depois de alguns minutos sempre com a camisa molhada-Jeff sobe a calça, abotoa a novamente e senta na cadeira comendo mais um doce- eu não sei o que ele fazia, nunca me interessei, mas a medida que fomos crescendo, George foi parando de falar com todos, e quando falava, era pra pedir dinheiro. No começo dávamos porque ele sempre foi o que mais apanhou, sentíamos dó, mas descobrimos que ele estava comprando drogas e paramos de dar, ele resolveu sair de casa e disse que ia se acertar. Os anos passaram, minhas irmãs foram morar fora e tive uma visitinha dele perguntando se posso quebrar o galho e pagar uma dívida pra ele. Eu paguei mas disse que seria a última. Ele não parou de me incomodar, fui pro exterior, conheci o Eric, apanhei, quase entrei em depressão mas peguei tudo o que me restava, que você - Jeff aponta para Eric apoiando o cotovelo na mesa e dizendo com os olhos vermelhos cheios d'água- VOCÊ, ERIC, gastou se drogando e bancando o playboy. Depois disso voltei fodido pro Brasil, conheci esse homem de coração maior que o mundo chamado Jorge Dias. Morei no bar por não sei quanto tempo. Anos eu acho...
-três, anos. -Jorge o corta-
-Exato, três anos. Estudei, resolvi dar a volta por cima, e montei meu primeiro celular, consegui contatos com Jorge e montei minha empresa. O que nos leva a esse pirralho de 14 anos que está me tratando como um bosta por tudo o que eu fiz por ele. Eu matei meu irmão para te proteger, eu sabia que se eu pagasse George ele voltaria a te procurar. EU ME TORNEI UM MONSTRO, PRA TE PROTEGER, PEDRO! E VOCÊ ME TRATA COMO UM BOSTA! -Jeff se levanta da cadeira, entra para a cozinha e começa a beber uma garrafa de cachaça do Jorge-
-Ei, calma aí garotão, não é assim que se bebe- Jorge toma a garrafa de Jeff, pega um copinho de dose, vira o líquido, e entrega para o amigo-
-Eu tava precisando disso.
-Não, você precisa se desculpar com Pedro, e Eric principalmente.
-Eles vão ficar bem. Bota mais!
-Não sei se Pedro vai querer voltar pra casa com você depois do que você disse.
-Voltando ou não, eu não tô nem aí.
-...
-Eu sacrifiquei sangue do meu sangue pra receber essa ignorância? Não mesmo.
-Bom, você deveria repensar suas ações. Não é o Pedro que está chorando lá fora.

Urso MilionárioOnde histórias criam vida. Descubra agora