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TRILHA SONORA DO LIVRO
Toda a trilha sonora foi composta e produzida pelo autor originalmente para este livro https://soundcloud.com/brunodiedrichs/sets/saga-depois-do-mundo

ARTE DO LIVRO
Todas as imagens foram desenhadas à mão pelo Autor
https://brunodiedrichs.wixsite.com/brunodiedrichs


Nas gélidas e brancas ruas de Emiliano, dois irmãos caminhavam discretos, e a densa noite camuflava seus aflitos e ansiosos passos. Uma forte neblina contribuía, encobrindo os olhares astutos, e sutilmente certificava-se de que ninguém os seguiria.

– Isso é loucura, Débora. Não podemos nos arriscar tanto!

– Estamos quase lá! – ela o conduzia.

Os soldados constantemente cruzavam seus caminhos e os irmãos escondiam-se por entre as sombras, misturando-se à tenebrosa paisagem da neve, e o perigo os confrontava.

– Essa foi por pouco! – ela suspirou aliviada.

Finalmente alcançaram uma área pouco habitada, ao leste da cidade, e encontraram um pequeno corredor escuro entre dois armazéns. Débora tateou as paredes, procurando algo, e seu irmão temia o pior:

– Isso é loucura!

– Confie em mim! – ela sussurrava.

Ela tocou uma pedra e uma passagem abriu-se diante deles:

– Conseguimos!

Débora era mulher de aparência delicada, cabelos ruivos, sardas espalhadas pelo rosto, camuflando bem sua força e destreza. Ricardo, seu irmão e de similar aparência, não era de se esperar tanto.

Nos início do Novo Mundo, a fumaça e as saraivas lançadas pelos impiedosos vulcões obrigaram os humanos a escavarem galerias subterrâneas, fazendo delas suas moradas. Outros optaram pelas cavernas, fugindo da ira de Deus e da perturbadora natureza que transformara seus lindos campos em trigonométricas formas quentes e avermelhadas. Quase um século para os homens retornarem à superfície e à sua medíocre vida, não como antes, porque o mundo não era mais como se lembravam. Com o nascimento dos reinos, essas galerias foram esquecidas, e sobre elas surgiram cidades. O império tentou vedá-las, soterrando-as ou inundando-as. Certificaram-se de que nenhum Filho de Deus iria perambular por elas.

Débora e Ricardo desceram as escadas de pedras brutas e de cortes únicos, tateando as grossas e robustas paredes frias até encontrarem a galeria subterrânea. O lugar era sujo e escuro, iluminado por tochas de fogos presos a algumas esquinas. Ratos corriam em todas as direções, e pragas sobreviventes da chacina natural seletiva espalhavam-se aos cantos, e os antigos soldados de Altair e os Filhos de Deus os aguardavam, e ao aproximar-se Débora, mostraram-se animados e ansiosos.

– Débora! – um deles a recepcionou.

Ela o abraçou, e a todos acenou cordialmente. O homem, por sua vez, estava atordoado e confuso, trêmulo no falar:

– Vimos o que aconteceu ao nosso irmão João! Tememos o pior!

Débora o tocou e dirigiu uma palavra a todos:

– Filhos de Deus! Precisamos permanecer na fé! O nosso Deus nos guiou até aqui, e tem nos animado a perseverar! Não podemos desistir agora!

O discurso, apesar de simples, aqueceu os corações, e eles levantavam suas mãos radiantes, porém trouxe discórdia a outros, e um deles manifestou-se insatisfeito:

– Nossos filhos são arrancados de nós e o exército se multiplica como cadelas no cio! Como podemos enfrentar algo tão poderoso assim?

– Deus nos ajudará! – respondeu.

– Deus não descerá e lutará com espadas!

Alguns inflamaram apoio ao homem e a multidão agitou-se de imediato. Débora, temendo uma tola agitação, continuou:

– Deus é capaz de fazer um único homem derrotar dez, com um só golpe, se nele depositarmos a nossa fé!

– Por que não subimos até Thális e pedimos ajuda?

– Thális possui as montanhas mais difíceis de todos os reinos e uma guarda imperial vigia o pé da cachoeira. Não temos como passar invisíveis.

– Tem que haver outro caminho!

– O mar ao entorno é impossível de atravessar. Mesmo que explorássemos aberturas nas falhas, levaríamos décadas e inúmeras embarcações para encontrá-las, se é que existem. Até o imperador desistiu desse plano.

– O que faremos então?! Morreremos aqui? – Eles agitaram-se novamente e discutiam.

Um homem surgiu na multidão e a questionou:

– Por que lutamos?

– O que disse?

– Thális não nos permite entrar em suas terras, você mesmo afirmou. Então por que lutamos por eles?

– Lutamos por liberdade! Pela causa! Pelo nosso Deus!

– Causa? Nosso Deus? Por que nos atribui estes enfados?

– Não vejo correntes em seus pés! – Débora irritou-se.

Um grande alvoroço formou-se e todos falavam ao mesmo tempo, até que um deles interferiu, gritando e defendendo-a:

– Por favor, acalmem-se! Acalmem-se! – Fez uma pausa e continuou: – Débora está ao nosso lado!

– E quem a pôs por líder sobre nós, ou por porta voz de Deus?

Ela suspirou, contrariando seu irmão que desejava o abandono da causa, e falou ao povo:

– Meus irmãos! Há tempos temos sofrido nas mãos do império, com sua falsa doutrina e ensinamentos. Ele corrompeu a todos, destruiu nossos lares, levou nossos filhos, somos o que restou da semente de Deus! Se pesarem na balança o que tenho feito por vós e como tenho me comprometido, sofrendo suas dores e lutando por vossa causa, julgarão com razão.

Todos se calaram.

Débora buscou inspiração e inflamou seu discursou:

– Por que estamos nesta cidade corrompida? Por que não fugimos quando tivemos a chance?

Ninguém ousou respondê-la, e ela emendou:

– Nossos pais nasceram aqui, fundaram esta cidade! Deram suas vidas carregando pedras e madeira para que nós hoje tivéssemos um lar. Eles nos ensinaram as leis de Deus, e a perpetuaram quando nada mais havia neste mundo, E agora, o imperador nos toma sem ao menos nos permitir praticar a nossa fé. Não veem que é um plano diabólico? Corromper-nos, como fez aos demais. Não é isso que tenho mostrado a vocês? Diante de vós eu apresentei o livro sagrado, lendo e relendo! Não expus a vocês o livro de apocalipse que explica o que passou e o que passaremos, e como ele nos dá esperanças de alcançarmos a vitória! Faremos novamente como os homens do passado, que tiveram tudo e não acreditaram? Ou reconstruiremos nossa história, enfrentando o que é mutável. Se lutarmos, venceremos!

O povo levantou suas mãos e bradaram com seus corações esperançosos. Ela terminou triunfante:

– Aquele que não quiser mais fazer parte da causa, sinta-se livre para passar por aquela porta, e nada o acontecerá, ficando ele ao julgamento de Deus e ao arbítrio do império. Mas ao que ficar, entenda: seremos mortos, atormentados, decapitados como João, mas não desistiremos, até que nossos filhos sejam livres, até que a paz retorne ao nosso mundo. Quem está comigo?

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora