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O Novo Mundo possuía apenas dois portos: um em Emiliano, ao sul do continente principal e outro em Porto Belo, extremo oeste do continente de Purga, constituindo também a única rota marítima em todo o temido Mar dos Reis.

Barqueiros atravessavam pessoas e mercadorias em seus navios e embarcações, cobrando taxas e pagando impostos ao imperador. Não eram muitos, até porque o tempo de travessia não era tão longo, mas às vezes congestionavam as vagas no cais.

Pedro não tinha facção, nem afeto religioso. Magro e raquítico, seus cabelos ainda avermelhados eram aos ombros, protegidos por um lenço que cobria parte de sua calvície. Ele tinha uma casa simples, com móveis rústicos e um fogão de pedra embutido à parede, típico de Emiliano. Solitário, sua família era o mar, sempre navegando pelas frias águas do sul.

Alguém bateu na porta, e ele estranhou, encostando seu ouvido para tentar descobrir quem o importunava naquele atípico horário.

– Quem está aí? – perguntou ele arisco.

– Um amigo! – respondeu Mago.

Pedro reconheceu a voz, e abriu a porta vagarosamente.

– Está sozinho?

– Bem acompanhado.

Vendo ele Daniel e Elimar, permitiu que entrassem, mas vendo Rebecca e Nick, ficou curioso:

– Novos amigos?

Mago o abraçou e sorriu.

– Estão conosco!

Rebecca passou por ele, e o encantou, extraindo dele um sorriso e palavras de agrados:

– Há tempos minha casa não é presenteada com extrema beleza! – sorriu ele.

– Cuidado, velho lobo do mar! – Elimar brincou.

– Já está tarde, mas ainda tenho uma quente e maravilhosa sopa que restou!

– Maravilha, tio! – Nick se serviu sem cerimônias.

– E esse garoto? Não me digam que é fruto de alguma aventura e...

– Não! – eles responderam juntos e desengonçados.

– É só um pulgão! – zombou Daniel.

– Um pulgão que salvou sua vida, idiota! – ela se deitou ao canto, depois de se fartar.

– E quanto à bela dama?

– Ela é o motivo de nossa visita.

– O quê? Vocês a trouxeram para casar comigo? – ele sorria carismático. – Apesar de ser muito bela, temo que a deixe. Jamais trocarei a minha rainha por qualquer outra dama.

– Ele fala do barco – explicou Elimar.

Rebecca sorriu.

– Precisamos chegar em Porto Belo... – explicou Mago.

– Do que estão fugindo agora?

Eles entreolharam-se rapidamente e Mago respondeu:

– Ela é Rebecca. A mulher da profecia.

Pedro saltou para trás e quase tombou da cadeira, assombrando-se de imediato. Ele se levantou perplexo e comentou assustado:

– Sei que vocês são os homens mais loucos que conheci em toda a minha vida, mas dessa vez vocês se superaram! O imperador busca por ela em todos os reinos!

– Precisamos levá-la para Thális! – continuou Mago.

– Mas Thális fica ao norte. Estão na direção errada!

– Temos que encontrar a Feiticeira. Ela sabe como entrar na cidade.

– Vocês estão loucos! – ele arregalou seus olhos, coçando sua careca.

– Precisamos de sua ajuda – Mago implorou.

Pedro balançou a cabeça por algumas vezes, olhou para eles e depois para ela e disse:

– Quer saber: no fundo, eu não acredito nessa tal profecia e estou pouco me importando para toda essa baboseira. Mas se o imperador a procura, é porque ele a teme, e isso já me satisfaz! – Ele virou-se para Mago e emendou: – A sorte sorriu para vocês: o meu navio zarpará em algumas horas.

Pedro caminhou até a estante e pegou uma chave, entregando ao amigo que tanto estima.

– Aqui está, Mago, a mesma de sempre. Fiquem escondidos até sairmos de Emiliano, e evitem chamar atenção. Não quero problemas com o império.

– Obrigada – Rebecca o beijou no rosto.

– É melhor descansarem um pouco! – ele sugeriu.

– Aquela ali já apagou! – Elimar apontou para Nick dormindo ao canto.

– Ela? – Pedro assustou-se.

– É uma longa história! – concluiu ele.


Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora