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TRILHA SONORA DO LIVRO
Toda a trilha sonora foi composta e produzida pelo autor originalmente para este livro https://soundcloud.com/brunodiedrichs/sets/saga-depois-do-mundo

ARTE DO LIVRO
Todas as imagens foram desenhadas à mão pelo Autor
https://brunodiedrichs.wixsite.com/brunodiedrichs

A devastada paisagem colidia as com relutantes e sobreviventes plantas sem adornos, desprovidas de silhuetas e vida, incapazes de inspirar o mais nobre artista, e conduziam a solitária jornada de Daniel à Divisa. Três dias ele cavalgou com seu fiel companheiro por entre aviões destroçados, arranha-céus tombados, carros retorcidos e cadáveres de todos os tipos, tão secos que se confundiam ao chão quente e arenoso. O grande Mar dos Reis, como era chamado pela típica coloração avermelhada, o acompanhava firme, sem pestanejar, soando o doloroso canto de suas ondas flertando com as rochas, e aquecido pelas fendas vulcânicas em suas águas, impedindo a vida ou a sua travessia. O único trecho navegável conhecido estava na ponta sul do continente, no porto de Emiliano, nas frias águas do Novo Mundo.

Daniel finalmente chegou.

Uma gigante bacia aberta e profunda, desprovida de vida, composta por uma densa lama e um fino rio ao centro, trazido pelas terras de Santa Cruz, com uma antiga e longa ponte que a atravessava de leste a oeste, quase duas horas de caminhada sobre ela. Embarcações tombadas e afundadas reforçavam seu tenebroso e aterrorizante aspecto, o acesso impossível, e a morte ansiosa à queda.

A ponte tornou-se visível após a área com grandes caixas metálicas compridas. Algumas delas estavam destruídas e outras completamente saqueadas, em cores vermelhas ou azuis em sua maioria. Daniel usou o binóculo quebrado de Elimar para sondá-la, e avistou o seu primeiro desafio:

"Gafanhotos gigantes!", pensou desanimado, ao ver aquela enorme besta de dois metros, com aparência similar ao abutre e exoesqueleto esverdeado.

Daniel amarrou seu cavalo numa pequena caverna desabitada que encontrou à noite, deixando água e comida. Ele o acariciou e despediu-se melancólico:

– Se eu não voltar pela manhã, retorne para casa – seu amigo parecia compreendê-lo, retribuindo o carinho.

Ele vestiu sua mochila e trilhou convicto e solitário, sentindo seu braço arrepiar ao entrar naquele local, afinal, ele era o prato principal. Passou por debaixo de blocos, entre as gigantes caixas metálicas e estruturas destruídas, evitando ser visto e fazendo o mínimo ruído possível. Uma das caixas dizia: "Made in China".

Daniel estava preocupado, pois os gafanhotos são muito sensíveis ao som e o descobririam facilmente se ele apenas respirasse um pouco mais forte. A única desvantagem deles é que são cegos e burros.

Daniel preparou-se para passar, quando um par de garras aproximou-se à poucos metros de distância. Ele ficou imóvel, enquanto a criatura girava lentamente a cabeça, procurando algo para devorar. Ele suou frio, esperando a besta desimpedir a saída.

"Merda!", pensou ele irritado.

Qualquer movimento seria o seu fim, e nada pôde fazer, senão esperar e controlar o seu humor. A fera abaixou-se um pouco, mostrando-se à Daniel, fitando seus olhos em sua direção, e caminhou em passos curiosos até a porta daquele contêiner. Daniel lentamente segurou sua espada, temendo o pior.

Ouviu-se à retaguarda o som de um animal em galope, e o gafanhoto saltou, disputando a carne de um Jirath maratonista com pelo menos uma dúzia de irmãos famintos. Azar do animal e sorte de Daniel. A distância tornou-se favorável, e ele fugiu rapidamente, alcançando a entrada da ponte, escondendo-se atrás de um dos milhares de carros amassados e destruídos, enterrados sob a ferrugem. Estava seguro, por enquanto, e suspirou aliviado. Ele pegou uma chapa metálica e cinzenta caída ao chão, despencada do automóvel destruído, e leu em voz baixa: "Rio de Janeiro, BAD 1978". Depois, ele caminhou algumas horas sobre a ponte, até que finalmente chegou ao outro lado.

O local era inóspito, com edificações resistentes ao tempo e uma vegetação um pouco mais alta e densa que o natural, o lugar perfeito para encontrar até o que não desejava. Ele puxou seu arco, iniciando sua tão esperada caça.

Havia um prédio semidestruído, com o térreo e segundo andar ainda de pé e intacto. Ele subiu as escadas, encontrando um cômodo e uma antiga porta de aço, passando vagaroso e com cautela por ela, mas nada havia além de uma cama de palha e uma fogueira apagada, o convite perfeito para uma boa e confortável noite de sono. Ele ficou admirado ao encontrar um grande latão de ferro em perfeito estado, usado para guardar alimentos, e dentro havia grande quantidade de sal, certamente para conservar carne.

"Aqui é um posto de caça!", deduziu ele, remexendo a fogueira recém apagada. "Melhor dobrar a vigilância", concluiu.

Ele se aproximou de uma janela que apontava para o norte, observando a vasta vegetação e viu algo distante mover-se. Pegou seu binóculo e ficou surpreso, sorrindo como criança. Pouco menos de um quilômetro um boi pastava solitário, pronto para servi-lo. Daniel pegou seu arco, uma faca e uma grande bolsa embrulhada em sua mochila, descendo em largos passos, e após alguns minutos, chegou ao local.

Inocente e desavisado, pastando sua última refeição, o animal não percebeu sua presença. Daniel olhou em todas as direções e ninguém encontrou, para que não fosse torturado pela consciência. Ele preparou seu arco, prendeu a respiração e ficou atrás de uma velha árvore seca, dando um tiro certeiro no pescoço do animal, não permitindo agonia, nem remorso, e depois ele o cortou em grandes pedaços, colocando a carne na grande bolsa, retornando ao prédio.

Exausto, após uma longa caminhada carregando aquele peso em seus ombros, ele jogou a bolsa ao chão, cortando a carne em pequenas partes e colocando-as no latão. Acendeu a fogueira, assou um belo bife e a noite o acompanhou, trazendo rapidamente o frio. O cansaço tomou o seu corpo, e ele desabou torto e desajeitado na pequena cama de palha forrada ao canto.

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora