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A noite caiu, e eles ajeitaram-se entre os compridos bancos soltos de um vagão abandonado para descansar e acenderam uma pequena fogueira para aquecê-los, até que o sono chegasse e os aliviasse deste mundo por um tempo.

– Está frio... – tremeu Nick.

– Melhor vestirem casacos. Quando a madrugada chegar, vai piorar – Mago sugeriu.

Enquanto Daniel assava a carne da mochila, Nick encostou-se em Elimar, para ficar mais aquecida, e reclamou:

– Estou sem sono!

– Eu também... – concordou ele.

– Amanhã será um dia difícil – explicou o Mago. – Poupem suas energias.

– Desde que conheci vocês eu só gasto energia!

Eles riram.

– Bem que poderia ter uma Tarrila aqui! – ela sugeriu.

– Está ficando viciada? – Elimar se preocupou.

– Não... É que pelo menos aquece!

Eles concordaram.

Nick perguntou para Rebecca:

– Como descobriu que é a escolhida?

Rebecca sentiu-se desajeitada e Elimar descontraiu:

– É a sua vez de contar!

– Não sei...

– Ah! Conta... Vai! – ele implorou.

Ela sorriu e tomou coragem, iniciando a história:


Quando a profecia foi anunciada pela primeira vez, ninguém sabia quem seria a escolhida, nem seu nome, nem sua idade, a Feiticeira apenas apontou para Líliam, trazendo um grande alarido sobre a cidade. Todas as jovens estavam ansiosas e muitas até desesperadas, famílias inteiras entraram em pânico, e a cidade ficou temerosa por um longo tempo.

Eu tinha oito anos, e naquela manhã minha mãe penteava vagarosamente os meus cabelos com suas mãos suaves, apreciando cada fio, trançando uma pequena mecha que guardo até hoje.

– Agora pode brincar! – sorriu ela ao terminar.

E eu corri e me aventurei pelas áreas abandonadas da cidade, como fazia todas as manhãs e remexi algumas ferragens, até que sem querer um pedaço do penhasco cedeu, e uma estreita fenda surgiu, e me deixou ainda mais curiosa. Eu passei pela fenda e encontrei um túnel escuro, mas a luz da fenda iluminou aquele chão liso e cinzento com faixas brancas. Então eu segui as faixas até chegar a outra saída. Cheguei numa área inexplorada e abandonada, e a maior parte das construções estava destruída e ao chão, mas algumas ainda estavam intactas, por milagre, e entre elas uma igreja antiga e aberta, e ouvi alguém cantar, e me assustei. Minha curiosidade foi maior, e me aproximei da porta principal, e vi um homem sentado em um dos bancos. Ele cantava solitário e eu fiquei paralisada. De costas para mim, ele falou:

– Rebecca.

Eu saltei para trás, mas não consegui correr, e ele continuou:

– Não tenha medo.

Eu senti algo tocar o meu coração, e tomei coragem, cruzando aquele tapete que se estendia ao centro, entre os bancos, e sentei no banco ao lado e me virei a ele. Ele vestia um grande roupão branco e carregava uma espada na cintura, e sorriu para mim.

– Olá Rebecca!

– Você me conhece?

– Sim.

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora