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Era uma grande e forte embarcação, a única de ferro existente e ainda de pé, adaptada a carvão e totalmente preservada, sobrevivente ao Novo Mundo. Nos tempos antigos, foi usado para transportar mercadorias de um lugar chamado China, para um lugar chamado Brasil, segundo os documentos encontrados à bordo.

Daniel estava sentado na popa entre centenas de pessoas, e admirava o mar e o som das águas que colidiam contra o casco. Rebecca o avistou, e caminhou até ele, sentando-se ao seu lado e sentindo o vento balançar seus cabelos. Eles admiravam a paisagem, ainda que desprovida de beleza e abarrotada pela espessa camada cinza de fumaça que sobrevoava o céu.

– E pensar que tudo isso já foi lindo e azul! – ela recordou-se das fotos do aparelho de Nick.

– Graças ao seu Deus não é mais...

– Você tem tanta mágoa assim?

Ele a encarou rapidamente e a perguntou:

– Como pode estar ao lado de um Deus que permite tanta maldade?

– Deus tem uma definição diferente do que é o bem e o mal.

– Conheço apenas uma interpretação...

– Quando tentou salvar aquela mulher na mata, intentou matar aqueles andarilhos, certo?

– Era única opção.

– Mas acreditou praticar o bem.

– Não acreditei. Era o bem.

– Não na visão do Andarilho... Às vezes, o que entendemos como bem, pode ser o mal, depende do lado.

– Então ele praticou o bem quando permitiu o meu filho morrer?

– Todos nós iremos um dia... A morte é a única certeza que temos. Precisa aceitar.

– Desculpe desapontá-la...

– Você precisa enxergar as coisas boas. Elas te perseguem.

– Não vejo nada de bom neste maldito mundo...

– E quanto à Mago, Elimar e Nick. Não compreende?

– A morte me persegue. Veja o que o império fez com sua cidade.

– Mas você me salvou. Isso não significa nada?

– Talvez o acaso...

– Todo o acaso ou destino é traçado por Deus, Daniel. Ele traçou o seu, traçou o deles e o meu. Você é mais que um homem Daniel... É um escolhido! – ela tocou sua mão, e por um instante seus olhares se entregaram.

Nick caminhava pela popa, e apareceu entre eles, ficando desajeitada ao perceber o clima.

– Ops! Foi mal! – Ela tentou retirar-se, mas Rebecca a impediu.

– Fique!

– Está louca? Esse aí de mau humor é um saco!

Eles riram.

– Hei! Vejam! – Rebecca apontou e o continente de Purga apareceu no horizonte diante de seus olhos.

– Chegaremos em Porto Belo mais rápido que imaginamos! – Daniel mostrou-se preocupado.

– E o que nos espera?

Daniel firmou seus olhos na terra seca e respondeu seco e se retirando:

– Talvez o seu Deus tenha a resposta.

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora