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Uma antiga ferrovia se arrastava por uma longa e reta trilha cercada de grandes muros tombados, fios e estruturas abandonadas ao longo dos desalinhados e retorcidos trilhos de ferro, predominando um tom enferrujado, e as devastadas construções se confundiam ao terreno.

– Vamos com cautela! – comentou Mago. – Há poucos Jiraths por aqui, mas encontrar um será dor de cabeça.

Algumas escadas e rampas ligavam o alto daquela antiga estação de trem ao solo, e uma parede com grades tipo lanças restara de pé, e Nick admirou o lugar, lendo as placas que relutavam em se manterem vivas diante dos enfurecidos ventos oeste.

– Tancredo Neves... – ela comentou.

– As placas identificavam as estações – comentou o Mago.

– Ah! Tipo a gente colocar uma placa na entrada da caverna assim: "lar do idiota"?

Eles riram, e Daniel deu de ombros.

Rebecca recolheu os braços, sentido um vento gelado, e comentou:

– Está ficando cada vez mais frio.

– Estamos nos aproximando das terras de Emiliano, no ponto sul do continente. Costuma nevar no olho da cidade – explicou o Mago.

– E quanto tempo até lá?

– Por esse atalho... Três dias.

Ao lado, uma espécie de galpão abandonado sustentava-se de pé, teimoso, pendurado por estruturas metálicas costuradas com cordas, e alguns habitantes surgiam entre as brechas para observá-los. Rebecca estava montada com Daniel, e atenta observava o devastado palco de horrores que se tornara o mundo. Ela virou-se para aquele galpão e assustou-se.

– Vejam! Crianças!

– São órfãos... Abandonados e esquecidos pelos Filhos de Deus – completou Daniel.

– Eu pensei que os Filhos de Deus lutassem pelo bem da humanidade?

– Bem vinda ao mundo real! – ele finalizou seco.

– E como elas conseguem sobreviver?

Havia casas derrubadas nas ruínas de uma antiga comunidade e outras crianças corriam de um local a outro, e ela continuava admirada. À frente, alguns trens tombados atrapalhavam a visão do caminho, e vultos passaram correndo entre os vagões, assustando Rebecca. Crianças saltaram dos escombros, descalças, tocando os cavalos, impedindo a passagem.

– Vocês têm comida? – eles suplicavam.

– Água! Água!

– Jirath! – gritou uma das crianças, e todas elas saltaram com pequenas facas no animal e rapidamente o mataram, deixando todos admirados. Elas guardaram suas armas e retornaram até eles, e seus olhos suplicavam. Mago pegou uma garrafa pet com água e uma bolsa com sobras de coelho e entregou. Daniel e Elimar também ajudaram. As crianças agarraram os presentes e correram para a devastada área, desaparecendo entre as destruídas ruínas de telhados cinzentos.

– Ainda tem dúvidas de como elas vão sobreviver? – Daniel a perguntou.

Rebecca chorou, e sem perceber agarrou Daniel pela cintura.

– Desculpe... – ela se ajeitou.

– E essa tal Feiticeira? Ela nos ajudará? – Nick seguia com Elimar.

– Ela é a única que pode – respondeu Daniel.

– Não é a mesma Feiticeira que amaldiçoou o império?

Eles confirmaram.

– Acho muito arriscado – Elimar comentou receoso. – Ela não é confiável!

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora