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TRILHA SONORA DO LIVRO
Toda a trilha sonora foi composta e produzida pelo autor originalmente para este livro https://soundcloud.com/brunodiedrichs/sets/saga-depois-do-mundo

ARTE DO LIVRO
Todas as imagens foram desenhadas à mão pelo Autor
https://brunodiedrichs.wixsite.com/brunodiedrichs


O céu acendeu-se em cinza claro desbotado, despertando triste e magoado, pagando o preço daqueles que respiravam o seu ar, dos que contemplavam sua formosura debaixo das amendoeiras, dos que atravessavam seus limites à bordo dos pássaros de aço. Sua existência permanecera retorcida, sem alma, vazia e desmotivada.

O garoto acordou sonolento e vitorioso. Dormiu tão bem que nem a touca de sua cabeça moveu, e não precisou pentear os cabelos, se é que penteava. Olhou ao redor e viu que estava só. Daniel havia partido.

– Aquele idiota! – levantou-se catando o que tinha.

Um estranho som brotou na mata, e o garoto correu para a janela. Seus olhos se esbugalharam ao ver Escamoso se aproximando solitário, procurando algo.

– Que merda! – ele escondeu-se atrás de um bloco de concreto.

O Escamoso vasculhou o quarto, e por fim desceu as escadas e Nick o seguiu. Um Jirath surgiu e desafiou o Escamoso, e o pobre animal avançou, mordendo-o com força e despedaçando os seus dentes, soltando ele um forte grunhido de dor, e nem mesmo seu forte ferrão foi capaz de perfurar sua pele. Escamoso acertou um único golpe com sua espada, decapitando o animal tão rápido que o garoto não viu a lâmina sair e retornar à bainha. Nick assustou-se, dedurando seu esconderijo, e tremeu suplicando:

– Eu gosto muito da minha cabeça, seu Escamoso! Poderia deixá-la no lugar? – ele caminhava para trás.

Escamoso o seguia lentamente, abrindo seus braços, intentando agarrá-lo a qualquer custo, mas o menino pulava para os lados como um coelho astuto:

– Calma, seu pedrinha!

Nick correu o mais rápido que pôde e passou veloz por debaixo de uma laje, e Escamoso conseguiu segurar apenas o cordão que o jovem conquistara na feira. O rapaz tateou seu pescoço, vendo que perdera sua barganha para seu perseguidor.

– Pode ficar! Presente! – falou e correu tão rápido que deixou Escamoso sem ação.

Dois Jiraths surgiram ferozes e distraíram o homem de pedra, enquanto o menino fugia. "Quem diria ser salvo por essas criaturas?", pensou Nick agradecido.

Daniel cruzou a ponte de volta à Costa com sua mochila e bolsas em ambas as mãos. Mais gafanhotos gigantes rodeavam o lugar, e caminhar escondido com bolsas pesadas não seria tarefa fácil. Ele adentrou vagaroso, calculando riscos, e o forte cheiro de carne dedurava a sua posição, precisando ele mover-se rápido entre os contêineres, aguardando o melhor momento para avançar, e sempre que tentava, uma nova besta se aproximava, o encurralando, e foi questão de tempo para que meia dúzia de gafanhotos o cercassem.

– Merda! Como sairei daqui agora?

Uma violenta pancada acertou a parte traseira do contêiner, e um gafanhoto a forçava, lançando-se contra a estrutura. Se fosse um pouco mais inteligente, o cercaria pela frente, já que a porta estava aberta e sem tranca. Outro golpe amassou escandalosamente a porta, e a terceira pancada rendeu formas convexas, e Daniel temeu por sua vida. Um deles soou um fino apito, roçando suas penas, e uma multidão de irmãos saltaram para perto, vindos de todos os lugares. Daniel aproveitou o alvoroço e correu para outro contêiner, trancando-o rapidamente. O próximo esconderijo estava à boa distância e ele precisava do tempo certo. O problema é que o cheiro forte da carne as atraíam, e elas transformaram aquele lugar em um grande poleiro.

– Malditas bestas! – ele irritou-se ainda mais.

A saída estava próxima, porém inacessível, e correr não era opção, pois os gafanhotos são exímios saltadores, mesmo em longas distâncias. A morte tornou-se questão de tempo, até que o encontrassem.

Uma forte explosão abalou a entrada da ponte, ensurdecendo-as, inclusive a Daniel. Zonzo, ele tentou recobrar os sentidos, apoiando-se na porta do contêiner, tentando entender o que havia acontecido. Uma espessa cortina de fumaça cobriu os gafanhotos, e o momento tornou-se perfeito. Daniel atravessou rápido, enquanto elas se perdiam na poeira. Ele sentiu-se aliviado, e chegou até a pequena caverna onde deixara seu fiel amigo à salvo. Para sua surpresa, Nick o aguardava.

– Só pode ser pesadelo! – Daniel espantou-se ao vê-lo.

– Seu cavalo é muito maneiro! Já o dono... – ele o alisava.

– Como chegou aqui primeiro?

– Ah! Você é muito lento!

– Espere aí... Você está me seguindo!

– Você me deixou sozinho, seu idiota!

– Você não é problema meu!

– Ah! É assim que me agradece?

– Não te devo nada!

– Ah é? E como acha que passou pelas bestas? Eu coloquei o explosivo!

– Não te devo nada!

– Deveria me agradecer, pelo menos!

– O que quer? Um beijo e um abraço?

– "Obrigado" já é um bom começo!

– Obrigado! O que mais deseja, oh! Mestre?

– Você está sendo irônico...

– Olha só quem fala!

Daniel segurou seu cavalo, aferiu tudo e se preparou para partir.

– Sabia que eu quase morri naquele lugar?

– Já disse que não é problema meu.

– É sério! O Escamoso apareceu lá e tentou me matar!

– Não quero saber!

– Ele é feito de pedra!

Daniel estranhou a princípio, mas deu de ombros, resmungando sarcástico:

– Não quero saber.

– E ainda roubou o meu cordão!

– Não quero saber!

– "Não quero saber!" – ele deu língua.

Daniel montou em seu cavalo e intentou retornar, deixando o garoto para trás, e Nick o seguiu, reclamando:

– Hei! Como é que eu irei? Não dá pra ir caminhando!

– Segue o seu rumo!

– O quê?! Vai me deixar de novo?

– Deixar? – Daniel virou-se para ele e falou encarando-o: – Não está comigo, não te conheço, você não é problema meu!

– Você é um egoísta! – gritou o menino.

Daniel novamente deu de ombros e seguiu. Ele até achou o menino engraçado e esperto, mas como ele mesmo dizia, não era problema seu.

Nick jogou algumas pedras em Daniel, gritando:

– Me arrependo de tê-lo salvado!

– Sobrou um pouco de ração! – Daniel zombava rindo.

– Covarde!

– Também tem água... Um pouco babada... Mas serve!

– Egoísta! Ingrato! Babaca! Se tivesse um filho, jamais faria isso!

Daniel puxou a rédea e parou por um tempo emudecido, fechando seus olhos. Algumas lembranças invadiram a sua alma, e seus olhos brilharam, engolindo saliva, e seu coração encheu-se de amargura. Ele retornou até o garoto e o encarou por um curto tempo. Finalmente falou e estendeu suas mãos, resmungando e mostrando precoce arrependimento:

– Se disser uma só palavra ou me aborrecer, juro que te lanço aos Jiraths, entendeu?

Nick sorriu e pulou na traseira do animal. Sentiu-se feliz na companhia do homem ranzinza que conquistara.

– Qual o seu nome?

– Daniel. Agora cale a boca!

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora