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A Caverna era sombria e tenebrosa, na metade da subida da Montanha Vermelha, e sorria aterrorizante para eles. A grande passagem deu lugar a um corredor escuro, feito em pedras de granitos cinza, polidas e brilhantes, com grandes vasos de metal, e os conduziam a uma grande porta dourada. Atravessando-a, eles chegaram ao grande salão de paredes feitas do mesmo granito, adornadas com poderosas e altas colunas boleadas, e um teto côncavo de grande altura. Cortinas negras de seda movimentavam-se com a brisa e ao fundo, uma pequena parede transparente como pérola vedava uma passagem oculta. Ao centro, um grande prato de metal, como uma grande bacia redonda, e nele o magma borbulhava. Eles aproximaram-se cautelosos e admirando tudo, pois em nenhum outro local dos reinos, nem mesmo em Thális, havia um lugar como aquele. Uma voz ecoou de um trono pouco iluminado:

– Finalmente é chegado o tempo!

Uma mulher emergiu das sombras, vestida de um grande vestido negro, feito em pedras cor de pérola. Seus cabelos longos se espalhavam ao vento, e sua pele branca como o sal soltava pó quando se movimentava. Vendo ela que estavam assustados com sua bela e ao mesmo tempo terrível aparência, examinava-se: – Maldita maldição!

Sentada em um grande trono, a pouquíssima luz mostrava parte de sua coxa até aos pés descalços, e Daniel a circulou, aproximando-se lentamente, com sua espada na mão, enquanto os outros permaneceram ao redor.

Ela falou a Daniel:

– A coragem é a sua força! Mas aqui será em vão! – Ela movimentou suas mãos, e todas as armas se desprenderam e flutuaram a metros de altura sobre o prato de lava, e eles se assustaram.

– Você é a Feiticeira? – ele a perguntou.

– Feiticeira, profetisa, mãe... Depende de quem chama!

– Precisamos de sua ajuda.

– Eu esperava por vocês!

Ela levantou-se e caminhou até ele, rodeando-o e admirando-o. Ela explicou:

– Eu não sou o que imagina que sou.

– E o que imagino? – ele ironizou.

– Eu nem sempre fui assim. Aquele maldito me amaldiçoou!

– Não compreendo.

– Eu nasci humana, e o meu coração é humano, apesar de enxergarem em mim apenas um monstro.

– Há muita contradição em suas palavras.

– Por quê? Já me viu antes? Conheceu-me tão profundamente para me julgar?

– A sua fama lhe persegue.

– Fama... – ela sorriu. – Nem tudo que ouvimos é verdade, principalmente quando a boca que difama vem do pai das mentiras, ou melhor, da pior de todas as bestas, e seu nome é Profeta.

Daniel franziu a testa e ela continuou:

– De fato, tenho muito a explicar. Então ouçam com atenção:

Meu nome é Ulda, nasci em Porto Belo e desde pequena eu recebi um talento: a revelação. Ela vem até mim de forma espontânea, e por isso, fiquei conhecida em meu vilarejo como a Profetiza.

Muitos me procuravam. Eles queriam saber sobre o futuro, passado, presente, amores, fortunas, poder. Eu os saciava em troca de suas riquezas. Eles me amavam.

Jáhva e seu irmão também vieram: "Conte-nos tudo!", obrigou-me o Profeta, o pior e mais demoníaco deles! Eu tive visões, e evitei contá-los os segredos que os levariam à glória. Eles queriam Thális, para conquistá-la e submeter os reinos ao império, e eu neguei. Furioso, o Profeta me aprisionou neste lugar e lançou-me uma maldição, e a todas as mulheres que tinham algum dom, transformando nossas peles em sal, proibindo-nos a andar sob a luz do dia, ou luz forte. Por isso não posso sair desta caverna, até que a maldição seja quebrada.

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora