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Os Solkers pouco se importavam com sua presença, mesmo que os passos dele abalassem o chão. Na visão deles, era apenas um escárnio insignificante, mesmo sendo ele aterrorizante, e zombavam e riam a todo instante.

Sua expressão era de derrotado, e então buscou um pouco de conforto em uma enorme pedra. Respirou e retirou de sua cintura uma pedra brilhante, um diamante de grande porte, e uma lágrima saltou de seu abatido e engraçado olhar. Uma lembrança o transportou para algum lugar desconhecido:

– Nunca esqueça o nosso lema! – disse seu pai, forjando a pedra sobre uma afiada lâmina. – Nossa família é a fortaleza que nos une!

O pai o entregou a pedra, e o fez repetir:

– Agora, repita: eu, Goliah, prometo servir a minha família com minha própria vida!

– Eu, Goliah, prometo servir...

O Patriarca o colocou de frente aos outros gigantes, seus irmãos, e anunciou:

– Meus queridos filhos! Vivemos em tempos difíceis! A estrela nos expulsou de nossos lares, e estamos aprisionados neste desprezível mundo corrompido. Por causa dela, cruzamos os portões, e agora somos cativos de nossas lembranças e esperanças! Somos exilados, viajantes buscando o retorno ao lar.

Eles levantaram suas mãos, alegres, e o Patriarca continuou:

– Temos nos purificado dessas imundices criadas pelos homens, nos libertados do mau, caminhando para o centro do universo espiritual, harmonizando a vida e criando o sentido para a existência de tudo que há. E agora, eu saúdo o novo membro dessa jornada, seu irmão!

– Uuuuuh! – Eles grunhiam e mostravam suas pedras.

– Hoje, Goliah recebeu a pedra da pureza! E agora ele é um de nós, não em matéria, porque sempre esteve, mas em espírito, com a mesma chama que nos devora a alma!

– Uuuuuh!

– A pedra da pureza é o que une nossos propósitos. Viver em paz e harmonia com o universo. Respeitar o criador e sua criação. E ele nos presenteou com a imortalidade como aliada e estará sempre conosco.

– Uuuuuh!

– Somos uma família! Protegemos uns aos outros!

– Uuuuuh!

– Agora, todos se curvem ao mais novo membro da família! Goliah!

– Goliah!

O Profeta surgiu como uma ávida raposa, e examinou Goliah, e seus olhos escureceram.

– Já vi cães mexerem suas patas ao sono, mas um gigante dramático e melódico é a primeira vez.

Goliah fechou-se e abaixou a cabeça.

O Profeta o examinou novamente e comentou:

– Poderei eu contar com os gigantes? Ou servirão apenas para enfeites de jardim?

– Há tempos servimos ao império.

– E contesta o nosso acordo?

– Não, meu senhor... – ele retraiu-se.

– Muito bem. Seu Patriarca provavelmente está orgulhoso de sua escolha e resposta.

– Me permitiria vê-lo?

O Profeta se irou, e segurou o pescoço de Goliah com duas vezes o tamanho da cintura de um homem, e o agarrou com extrema força e facilidade, como se dobrasse papel, levando-o ao chão e sufocando-o.

– Sua raça não passa de um equívoco! São como ratos de laboratório!

– Mestre... – ele suplicava, tentando soltar-se.

O Profeta o soltou, e ele caiu de joelhos, recuperando-se.

– Nunca mais ouse me contestar! Não terei misericórdia da próxima vez, e aniquilarei de vez o seu Patriarca, dando fim a sua raça miserável!

– Sim, meu mestre! – ele se recompôs.

– Prepare seus irmãos. Antes que o próximo dia termine, terei Thális em minhas mãos!

O Profeta retirou-se e Goliah juntou-se aos seus irmãos. Abriu sua mão e vendo novamente o seu diamante, meditou:

"Nós o libertaremos, Patriarca!", ele sussurrou.

O Profeta seguiu para uma tenda, e o comandante Élder o aguardava.

– Meu senhor...

– Ele chegou?

– O aguarda aí dentro.

– Perfeito. Não deixe ninguém se aproximar. Manteremos sua identidade segura, por enquanto.

– Sim, mestre!

Uma ilustre figura o aguardava, envolvido por um manto negro, impedindo a visão de seu rosto e escondido por detrás de um véu ao canto. Ele segurava uma arma de fogo dourada, chamando a atenção. O Profeta fez um comentário:

– No antigo mundo, as mulheres religiosas cobriam-se com o véu. Acreditava-se que era poderio diante dos anjos. Engraçado dizer que estes mesmos anjos lançaram a estrela, e que por azar elas morreram. Será que faltou o poderio?

Ele tomou uma taça de vinho em suas mãos, bebendo galantemente, e continuou:

– Eu sou a estrela que cairá em Thális, e se o poderio estiver sobre este véu que te esconde, será recompensado.

– Quero o trono de Thális.

– Bem, vejo que de santo nada tem... – emendou. – Mas, garanta a minha vitória, e eu te darei.

– Eu mesmo o levarei até o interior do castelo, e lá fará como desejar.

– E as muralhas?

– Com o exército despreparado a invasão é inevitável.

– Você é uma víbora maliciosa – O Profeta admirou-se. – Se eu contasse, certamente não acreditariam. Também... Eu sou o pai da mentira. Mas o fato é que até eu me surpreendo com você, fazendo papel de "bonzinho", enganando e colocando-os debaixo de suas asas. Agora os entrega à morte. Você é um verdadeiro psicopata!

– O que é um psicopata?

– Extraordinários homens como eu e você, desprovidos de remorsos ou sentimentos alheios, narcisistas. Confesso que sua frieza me causa arrepios. Será um excelente ancião e perfeito aliado ao império.

– Viva o imperador!

– Viva! – brindou o Profeta.

Depois do Mundo ★ Livro 1 [FANTASIA/FIM DO MUNDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora