Minha espinha gelou. Mas eu precisava ter essa conversa com o Luís, tentar descobrir a verdade. E já como o Luís se deu ao trabalho de vir até aqui, deve ser porque ele está no clima de falar. Falei então.
– Claro Luís, quer entrar?
– Na realidade estava pensando em um café na lojinha aqui do lado, algum problema?
– Não, nenhum, tudo bem – Bianca me olha com uma cara curiosa. Claro! Ela não sabia nada da investigação do incêndio, nem das minhas suspeitas do e-mail.
– Que bom, vamos?
– Bia eu já volto viu amiga? – ela me olhou com cara de poucos amigos, mas eu ignorei. Dei um beijo em sua testa e saí do prédio acompanhando o Luís.
Nossa caminhada de dois quarteirões foi feita em silêncio. Pelo o que eu conhecia do Luís, ou pelo menos achava que conhecia, ele estava muito nervoso, olhava constantemente para o chão e mesmo assim tropeçou diversas vezes pelo caminho. Respirava pesadamente e parecia que o que ele ia me contar era muito sério. Qual seria o grau de envolvimento dele com o incêndio?
Quando chegamos na cafeteria, ele foi se sentar logo numa mesa pequena localizada no canto do estabelecimento e eu me sentei mesmo na frente dele. Um garçom veio anotar o nosso pedido, ele pediu um café e eu somente uma água. Nosso pedido veio rápido e o garçom nos deu a solidão novamente. Como parecia que ele não ia tomar coragem para iniciar a conversa, tomei a frente.
– Então Luis, sobre o que você quer conversar?
Ele tomou uma longa respiração e apertando as mãos ele começou a falar. Seu tom era baixo, quase que não conseguia ouvi-lo.
– Bem Camila, eu não sei se você já está sabendo, mas eu sou um dos suspeitos de ter começado o incêndio que acabou causando perca total no bar e o seu coma...
– Já estou sabendo, e aí? – perguntei com um pouco de raiva na minha voz.
– Bem eu gostaria de te falar a verdade, antes que você escutasse da boca de outra pessoa...
– E que verdade é essa? – perguntei, mas no fundo eu já sabia. Mas me agarrando na última ponta de esperança que tinha que Luís não ia me machucar de propósito.
– A verdade é que eu realmente comecei o incêndio... – meus ouvidos começaram a zunir e minha visão escureceu um pouco. Tentei me acalmar. Senti Luís segurar a minha mão, seus lábios se mexiam, mas não conseguia discernir o que ele estava falando.
Tive que respirar fundo várias vezes, e somente assim que percebi minha audição voltar a se fazer presente. Minha cabeça estava um turbilhão de emoções, mas a maior de todas era decepção.
– Camila? Camila? Você está bem? Está me ouvindo? Fala comigo, me xinga, to ficando preocupado já...
– Ah, estou te ouvindo sim, é que a notícia ainda me pegou... Como você teve coragem de fazer uma coisa daquelas? Eu não consigo acreditar que passei tanto tempo ao seu lado e nunca tinha descoberto esses seu lado... – Luís abaixa a cabeça, visivelmente envergonhado.
– Camila, eu realmente sinto muito, depois que eu te vi lá na academia com o James, fiquei cego de ódio, bebi o que eu não devia e quando meu juízo voltou, eu já estava com uma garrafa de gasolina vazia em minha mão e meu isqueiro aceso no meio do líquido inflamável. Tudo aconteceu tão rápido. Quando eu vi o fogo já estava fora de controle... Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas eu vou pagar pelos meus erros...
Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas nenhuma escorreu. Não sabia se acreditava nele. Aquelas poderiam ser lágrimas de crocodilo. Tinha que tomar muito cuidado. Mas meu coração me disse que ele estava sendo sincero. Ele estava completamente errado, mas estava sendo sincero. Além de sinceridade, ele realmente parecia arrependido do que tinha feito...
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Marcas de Fogo
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