Eca!

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Eu e o energúmeno que atende pelo nome de Loki estamos dentro de um táxi, seguindo pela Quinta Avenida em direção ao meu apartamento do outro lado da cidade, enquanto o silêncio dentro do veículo se torna aterrador a cada instante.

Desde que saímos da boate Inferno, não trocamos uma palavra sequer e, honestamente, eu não sei se comemoro, — afinal são abençoados minutos sem ouvir a voz irritante deste ser — ou se encaro isso como um péssimo sinal.

A questão é que eu consigo lidar com um gafanhoto falante e que me xinga a cada frase que pronuncia, mas o Loki calado é extremamente... Desconfortável.

Por falar em desconfortável, toda essa situação está me incomodando bastante, afinal eu estou no banco de trás de um táxi, ao lado de um ser desprezível, cuja língua afiada parece ter sido devorada por um gato, enquanto o taxista continua dirigindo tranquilamente sem saber que um dos seus passageiros é um deus asgardiano que quase destruiu Nova York, há alguns anos.

E por falar nisso, não consigo parar de pensar que o taxista não está enxergando o Loki como ele realmente é. E isso me intriga muito.

Espera um pouquinho aí... Será mesmo que o taxista não está vendo o Loki como ele é de verdade? Ou será que ele não está ligando os trajes extravagantes a pessoa? Será que assim como eu pensei no começo, o taxista está convencido de que o Loki é só um cosplay de um personagem desconhecido?

Infelizmente, quando eu e o dito cujo entramos no veículo, dez minutos antes, não reparei na reação do taxista. Porém estou convencida de que alguém mais em Nova York, — uma reles alminha viva que seja — tem que estar vendo o mesmo que eu. Eu não posso ser a única que enxerga o Loki do jeitinho meigo e cativante que ele é. Por que eu seria a única?

É ao me perguntar isso que tomo uma decisão. Então, sem pensar duas vezes, me inclino para frente, posicionando minha cabeça entre o banco do taxista e o do passageiro, e começo:

— Com licença.

— Pois não, senhorita? — indaga o taxista, me olhando rapidamente pelo retrovisor.

Quando vou dar seguimento ao meu plano, a voz do gafanhoto me atrapalha:

— O que você está fazendo?

Nossa! Ele fala! Que surpresa!

Respiro fundo e decido simplesmente ignorar o Loki. Em seguida, pergunto ao taxista:

— Será que eu posso te pedir uma coisa? — antes que ele responda, eu despejo: — O senhor poderia descrever o sujeito que está comigo?

Pelo retrovisor eu vejo o taxista franzir o cenho, com certeza achando o meu pedido no mínimo estranho, e vejo Loki revirar os olhos, com certeza achando aquilo totalmente desnecessário.

Ainda bem que eu não perguntei a opinião desta criaturinha fofa, não é?

Disposta a ir até o fim, eu me concentro apenas no taxista e invento uma desculpa:

— Sabe o que é? É que eu bebi demais e agora não tenho mais certeza se ele é mesmo o meu tipo. Então, será que o senhor poderia, por obséquio, descrevê-lo para mim? Assim eu posso me decidir, se devo levá-lo para o meu cafofo ou largá-lo na sarjeta mesmo.

Acho que deixei o taxista ainda mais confuso. E assustado. Tenho que admitir que não posso tirar a razão dele. Eu mesma estou assustada com o que eu falei. Aliás, de onde foi que eu tirei aquela desculpa chula? Cruzes!

Paciência. Foi a única coisa que eu consegui pensar no momento e o importante é que funcione. E acredito que está funcionando, já que o taxista dá uma boa olhada para o Loki pelo retrovisor.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora