Sentindo coisas estranhas

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Em toda a minha existência como Deus da Trapaça, eu nunca me senti tão... Estranho e confuso quanto agora.

Para começar, contrariando todas as probabilidades do universo, eu, Loki de Asgard, aceitei dançar com a midgardiana Olivia Mills. E, embora uma parte de mim não ouse admitir, até que... Foi bem agradável.

Por um momento, ela não me pareceu tão insuportável assim e foi bom conduzí-la pelo terraço desta humilde propriedade midgardiana, enquanto dançávamos à moda de Asgard.

Eu me senti... Diferente. Vivo. E meio idiota também, o que, convenhamos, não combina nem um pouco comigo.

Em dado momento, tive a impressão de que Olivia ia ter a audácia de me beijar. E o pior é que eu não sei se teria sangue frio o suficiente para impedí-la, caso ela prosseguisse com tal plano. O que, convenhamos, também não combina comigo, já que eu não deveria sequer cogitar tal intimidade entre nós.

No entanto, subitamente, não consigo parar de pensar nisso. E o pior — sim, tem uma parte ainda pior — é que o meu corpo se aquece de um jeito impróprio, quando penso em tal maluquice.

Como Deus da Trapaça, eu conheço muitos truques e formas de ilusionismo. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que os meus poderes me tornaram um verdadeiro mestre nisso. Mas, o que Olivia Mills tem feito comigo... Com certeza, se enquadra em outro patamar de magia. Parece ser uma magia ainda mais forte. Desconhecida. Uma magia que tem vontade própria.

Como eu disse, estou muito confuso e me sentindo muito estranho. A única coisa de que tenho certeza neste momento é que Olivia Mills, esta midgardiana desprezível e audaz, me intriga muito e, embora eu odeie admitir, ela tem me despertado... Coisas e pensamentos que eu não entendo.

Desde que o idiota do Thor me exilou aqui em Midgard, esta criatura peculiar tem sido a minha única companhia, a minha única aliada, o meu único... Refúgio.

De certa forma, Olivia me distrai, me ajuda a não pensar na raiva que sinto de Thor, de Odin e na culpa que sinto pelo o que aconteceu com... Frigga. De certa forma, sem que eu pudesse controlar, Olivia se tornou importante para mim de um jeito que só agora começo a perceber, embora eu ainda não saiba explicar precisamente do que se trata. Se alguém disser que isso é amor, eu mato.

O fato é que aqui estamos nós, diante do seu amigo insuportável e inconveniente que, além de nos interromper, está sorrindo irritantemente, segurando um celular na frente do rosto, em nossa direção — acredito que ele esteja nos gravando com tal aparelho — e pedindo que eu e Olivia... Que eu e ela nos... Que nós...

— Ah! Vamos lá, pombinhos! — o infeliz intima com uma empolgação ainda mais irritante. — Eu quero o beijo!

Olho na direção de Olivia, esperando que ela tenha alguma solução para este impasse constrangedor, mas tudo o que encontro é o seu rosto mais ruborizado do que nunca, quando ela me encara de volta, vacilante e visivelmente tensa.

Tal postura faz com que eu me pergunte se, por acaso, Olivia quer que eu a beije. Pior, me faz perguntar se eu quero beijá-la. E, mais uma vez, meu corpo se aquece de um jeito estranho e impróprio ao cogitar isso. De repente, estou tão tenso quanto ela e me obrigo a parar de olhá-la.

Finalmente, a midgardiana desprezível parece se recompor um pouco, já que ri de um jeito nervoso e diz ao seu amigo inconveniente e maluco:

— Josh, que palhaçada é essa? Você quer que eu beije ele... Digo, o meu... Namorado na sua frente?

— Qual é o problema, Liv? — ele rebate um tanto impaciente e confuso. — Não seria a primeira vez mesmo. — completa, dando de ombros.

No entanto, percebo que Josh se arrepende em seguida, já que, com certeza, isso não é o tipo de coisa a se dizer diante de mim que, para todos os efeitos, sou o atual namorado de Olivia.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora