Decisão

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Tem certos dias em que eu penso mais na minha avó. Dias em que sinto mais a falta dela. Hoje é um desses dias.

Queria muito que a Sra. Susan Mills estivesse aqui comigo. Ela saberia exatamente o que me dizer, que conselho me dar, ou talvez ficasse no mais completo silêncio, apenas me ouvindo, e isso já me ajudaria muito. Nós tínhamos nossas desavenças, é verdade, mas ela sempre foi uma ótima conselheira. Uma ótima avó. E a única mãe que tive.

Por que estou pensando tanto em minha avó? Porque ontem eu tentei beijar o Loki. Sim, eu me lembro. É um fato.

E eu adoraria ser daquele tipo de pessoa que não se lembra de absolutamente nada no dia seguinte a uma bebedeira, mas não sou assim. Adoraria ser daquele tipo de pessoa que usa o álcool para justificar determinado comportamento, mas eu também não sou assim.

Não poderia ser, já que sou neta de Susan Mills, e, embora não esteja aqui comigo, eu me lembro muito bem de uma coisa que ela costumava me dizer: nada do que se faz ou se diz bêbada, não foi se pensado sóbria antes.

Sabem o que isso significa? Significa que eu realmente quis beijar o gafanhoto asgardiano. Por quê? É uma ótima pergunta. E a verdade é que eu tenho medo de tentar respondê-la. Me julguem.

Me reviro na cama, atormentada por tal pergunta e tento afastar esses pensamentos. Mas, é só fechar os meus olhinhos de noite serena que tudo vem à minha mente como um filme, fazendo o meu coração bater mais forte.

Eu e o Deus da Trapaça dançando no terraço, aquele clima estranho, mas muito bom entre nós, o ímpeto que tive de beijá-lo ao final da dança, Josh aparecendo, o constrangimento, eu bêbada e me insinuando para Loki, nós dois voltando de táxi, eu me insinuando para ele de novo, desta vez no elevador, e depois aqui no meu quarto...

Droga! Eu ainda cheguei a dizer que aquele traste é bonito! Eu, Olivia Mills, encarei Loki com o meu olhar 43 e afirmei com todas as letras que o acho bonito! Que ódio!

E, para fechar com chave de ouro — só que não — eu ainda anunciei que iria beijá-lo. E estava pronta para fazer isso. Mas, por sorte, apaguei antes que cometesse tal insanidade.

Sim, porque beijar Loki seria uma verdadeira insanidade, certo?

Certo, certíssimo, com certeza! Sem sombra de dúvida!

Me reviro na cama mais uma vez, pouco convencida disso e ciente apenas de uma única coisa: de que não posso culpar o álcool pelo meu comportamento ontem à noite, porque não sou deste tipo de pessoa e porque, de fato, não foi culpa da bebida.

Em algum momento, sóbria, eu reparei no deus trapaceiro e megalomaníaco. Em algum momento, eu o achei... Bonitinho sim. Pegável. E, em algum momento, eu quis beijá-lo. Mais precisamente enquanto dançávamos no terraço da casa de Vicky. Ali, eu não estava chapada ainda. E eu quis beijá-lo. É um fato. E talvez, mesmo antes daquele momento, eu tenha pensado em Loki de um jeito diferente.

Fecho os olhos e levo minhas mãos ao rosto, enquanto me lembro das inúmeras vezes em que Thor e seus companheiros de equipe me alertaram sobre isso. Sobre não me deixar envolver pelo charme vilanesco do Deus da Trapaça, sobre não... Me... Apaixonar por ele.

Droga...

E, mesmo com tantos alertas e conselhos chatos, aqui estou eu. Pensando demais naquele estrupício, sentindo o meu coração acelerar toda vez que relembro o que aconteceu naquela festa e admitindo para mim mesma que eu, realmente, quis beijá-lo. Aqui estou eu, mais confusa do que nunca, com medo de sair do meu quarto e ter que encarar o mequetrefe do Loki.

Como lidar?

Não posso passar a vida inteira neste quarto, evitando um reencontro, fugindo de Loki como o diabo foge da cruz. Mas, também não posso vê-lo. Não agora. Não assim.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora