Desastre em escala global

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A forma como Loki se referiu a mim — midgardiana desprezível, como nos velhos tempos —, me atinge em cheio, fazendo com que eu recobre a consciência prontamente e pisque algumas vezes, enquanto o encaro.

Então, me lembro que o deus trapaceiro foi até Nova York, se passou por Steve Fofo Rogers e me agarrou em um beco escuro. E isso é o suficiente para reacender a revolta dentro de mim e me fazer jogar o Caco na direção do seu rostinho nada lindo, enquanto xingo indignada:

— Palhaço!

Sinto o Muppet verdinho cair perto dos meus pés e vejo Loki fechar os olhos por um instante, enquanto algumas mechas dos seus cabelos voltam para o lugar. Em seguida, ele abre os seus intensos olhos e me fita de um jeito nada satisfeito ao questionar entredentes:

— Como você ousa vir a Asgard, entrar nos meus aposentos desta forma e me afrontar assim?

O sangue ferve em minhas veias diante da forma sonsa com que o Deus da Trapaça faz tal questionamento e, sem pensar duas vezes, eu rebato cheia de raiva:

— Qual é o problema, chuchu? Por acaso só você que tem o direito de fazer uma visitinha surpresa? Eu só quis retribuir a gentileza! Ou seria a ousadia?

Para meu desespero, o gafanhoto asgardiano, beijoqueiro e abusado desvia do meu olhar e se faz de desentendido:

— Eu não tenho a menor ideia do que você está falando.

— Ah não?! — retruco ainda mais indignada, colocando as mãos na cintura e me sentindo possessa com tamanho cinismo. — Você me atacou, gafanhoto! — o acuso, dando um passo a frente e encostando o dedo indicador em seu peito, fazendo o deus trapaceiro olhar para a minha mão por um momento e voltar a me encarar com aqueles... Olhos lindos em seguida.

Sinto um leve estremecimento e afasto a minha mão do seu corpinho. Engulo em seco, enquanto o fito de volta e me dou conta de que não estava preparada para tal reencontro, já que é bem difícil encarar Loki depois de tudo o que aconteceu. A mágoa e a raiva dentro de mim se misturam constantemente com o desejo e com... Um sentimento que, infelizmente, nutro por este traste.

No entanto, apesar da confusão dentro de mim, faço um esforço para manter o foco e prossigo com as acusações com o dedo em riste:

— Você foi até Nova York, se passou pelo Capitão América e me agarrou em um beco, como se eu fosse uma qualquer! Você me beijou, como se eu não fosse te reconhecer! Você me usou e depois... Olha só que surpreendente! Depois você fugiu! Como fez naquele dia na estrada! Você é um covarde, Loki! É isso o que você é! Um trapaceiro e um covarde!

Noto uma discreta oscilação no semblante de Loki, como se ele estivesse surpreso com o que ouviu, como se estivesse assimilando as minhas palavras, como se estivesse feliz por um lado — talvez por eu ter o reconhecido naquele beco —, mas com raiva por outro — acredito que por eu ter o reconhecido naquele beco. Pois é, difícil de entender este trapaceiro... Irresistível.

No entanto, acho que posso resumir da seguinte forma: Loki quis tirar uma casquinha de mim — fato —, mas não estava contando com a minha astúcia, não estava contando que eu fosse reconhecê-lo e agora deve estar se sentindo ultrajado, pois isso significa que ele não tem como negar que foi atrás de mim por livre e espontânea vontade, que quis me beijar e que fez isso porque... Sentiu a minha falta de alguma forma.

Claro que Loki também estava testando a minha lealdade, afinal, o desgraçado se passou por Steve Fofo Rogers para me beijar. Porém — e me chamem de maluca por isso, se quiserem —, eu sei que havia um sentimento forte em seu beijo, havia entrega, havia paixão, havia desejo. Não era só um teste. Era um pretexto para tirar uma casquinha de mim.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora