Chocolate e Cafézinho

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Uma coisa que aprendi nesses poucos dias de convivência com o traste do Loki é que com ele nada funciona de primeira. Eu sempre tenho que insistir e argumentar — no mínimo, duas vezes — acerca de algo que ele se recusa a entender ou fazer, para que enfim ele compreenda que não tem outra escolha e faça o que é necessário. Foi assim quando eu insisti para que ele me contasse toda a sua vida e foi assim com a... Louça.

Finalmente, depois de muita insistência e argumentação, o gafanhoto asgardiano entendeu que se quiser mesmo se libertar do bracelete algum dia, ele terá que seguir à risca tudo o que eu disser.

Bem, pelo menos, em relação à louça, o Deus da Trapaça parece ter entendido isso. Mas, sobre as roupas que eu comprei — inclusive sobre as cuecas maneiras que eu ainda fui gentilmente trocar na loja — Loki ainda não se manifestou. Estou esperando até agora que ele demonstre um pouquinho que seja de gratidão e me agradeça pelo meu gesto.

Mas, como estou me deliciando muito com a imagem daquele ser petulante lavando a minha louça com suas mãos caracteristicamente delicadas e que, provavelmente, nunca tinham tocado em um detergente na vida, resolvo não insistir para que ele me agradeça pelas roupas. Pelo menos, por ora.

Quando Loki finalmente termina de lavar a louça, sua expressão não é nem de longe a mais amigável. Ele, que me ignorou o tempo todo enquanto realizava tal tarefa, finalmente se vira na minha direção e me lança um olhar bem... Mortal.

Em outros tempos, eu estaria tremendo nas bases neste exato momento, mas agora tudo o que sinto é uma irresistível vontade de rir da cara de limão azedo do gafanhoto.

Porém, resolvo ser profissional, me contenho, faço um tremendo esforço para não rolar de rir no chão da cozinha mesmo e pergunto do jeito mais sério que consigo:

— E então? Como você está se sentindo?

Loki comprime os lábios e me fuzila com um olhar ainda mais raivoso e intimidante, antes de responder de um jeito seco:

— Humilhado, entediado, infeliz e revoltado.

Permito esboçar um leve sorriso ao ouvir isso. Em seguida, coloco a minha mão no seu ombro e replico:

— Bem, eu não posso dizer que não te entendo. Lavar louça, geralmente, faz a gente se sentir assim mesmo.

Quando o deus asgardiano olha na direção da minha mão em seu ombro, eu me dou conta do que fiz sem perceber e a afasto imediatamente dali.

Inexplicavelmente sem graça por ter tocado nele, eu limpo a garganta e recomeço:

— Mas você não está se sentindo uma criatura um pouco melhor por ter sido útil, lavando a louça para mim? Por ter feito uma boa ação, me ajudado, sido generoso e prestativo?

Sua resposta vem seca, curta e direta:

— Não.

Depois de absorver isso, eu resolvo insistir:

— Nem um pouquinho melhor? Mais puro ou quem sabe... Digno?

— Não. — Loki repete com uma expressão antipática. E depois de indicar o bracelete, ele completa com um resmungo: — E esta coisa nem se mexeu. Honestamente, eu não acho que o seu plano genial está funcionando, midgardiana imprestável.

É com certa surpresa que percebo que os xingamentos do deus trapaceiro não me abalam mais, muito menos fazem o meu sangue ferver.

Na verdade, depois da sensação estranha de ouvir aquele ser dizendo o meu nome com todas as letras, eu aceito que o gafanhoto me chame de qualquer coisa. Menos de Olivia.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora