Matemática

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"E o gato?"

É isso o que diz a mensagem de Josh no celular em minhas mãos.

Claro que levo alguns longos instantes até entender de que gato meu amigo está falando e, inevitavelmente, sinto vontade de rir quando finalmente compreendo sua mensagem, mas me contenho.

Discretamente, ergo o meu olhar na direção do Loki, que está sentado de frente para mim no balcão da cozinha. Seus olhos encontram os meus imediatamente e ele franze o cenho de um jeito questionador.

Rapidamente, volto minha atenção para o celular e digito a resposta:

"Você não vai acreditar. Ele é gay."

Ai que vontade de rir! Socorro!

Me controlo mais uma vez, respiro fundo e leio a mensagem de Josh, que chega instantes depois:

"Não acredito! Que esquisito... Mas ele estava olhando tanto para você. Tem certeza?"

Respiro fundo novamente e penso no que responder. Olho para Loki por um instante e em seguida digito:

"Absoluta. E ele não estava olhando para mim exatamente, ele estava mais interessado no meu vestido mesmo. Disse que queria um igual. Que achou um verdadeiro arraso! E que ficou super divo em mim! Com essas palavras."

A resposta de Josh não demora quase nada:

"OMG! Sério? Bem... Neste caso, por que você não me apresenta este gatinho manhoso? Tenho me sentido tão sozinho ultimamente."

Desta vez, o riso escapa da minha garganta de uma forma descontrolada e o celular treme um pouco em minhas mãos.

— Qual é a graça, midgardiana? — Loki indaga nada satisfeito, como se soubesse, ou pelo menos desconfiasse, que é o motivo da piada. — Eu te conto toda a minha vida, conforme você queria, e em troca você começa a mexer neste dispositivo de comunicação e me ignora completamente? Qual é o problema com este Reino, afinal? Cada vez mais escravo da tecnologia...

— Schhhh. — eu o corto, mesmo sabendo que, em parte, o gafanhoto tem razão. As pessoas deste Reino estão cada vez mais escravas da tecnologia mesmo. Cada vez mais mergulhadas em seus pequenos mundos e presas em suas redomas.

Mesmo concordando em parte com o que Loki disse, eu preciso continuar aquela conversa com o meu amigo. Por isso, envio a resposta:

"Desculpe, nem lembrei de pegar o telefone dele. Passei meio mal por causa da tequila."

Josh responde na sequência:

"Ah... Que pena :-( Mas e você? Está bem?"

Fora o fato de que tem um deus asgardiano insuportável na minha cozinha e que eu tenho que ajudá-lo a se tornar menos insuportável, tudo perfeito. É o que penso. Mas o que respondo é isso:

"Sim, estou melhor. Só com um pouco de ressaca."

Por um momento, penso que a conversa com o meu melhor amigo acabou, mas então, para minha surpresa, ele recomeça:

"Liv..."

Oh, não... Eu sei exatamente o que significa a junção do meu apelido com essas malditas reticências. Josh vai tocar no assunto proibido de novo. Há meses, ele vem tentando falar sobre isso comigo, mas eu sempre dou um jeito de me esquivar.

Sinto o meu corpo ficar tenso e um nó surgir em minha garganta. Me apresso para encerrar a conversa, antes que ele continue com aquilo:

"O assunto proibido continua proibido."

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora