Sinta medo e o enfrente

6.6K 676 647
                                    


Estou dentro do meu carro, no estacionamento do prédio onde moro. Estou aqui há no mínimo uma hora, mas ainda não tive coragem de sair do veículo e subir para o meu apartamento. Ainda estou com medo, muito medo, do que vou encontrar lá. Ou melhor, de quem eu vou encontrar lá.

Durante o caminho até aqui, vim ensaiando o que dizer quando eu tiver que encarar os olhos frios e intimidadores do desalmado Loki. Uma parte de mim quer simplesmente expulsá-lo do meu apartamento e da minha vida à pontapés, quer mandá-lo para o Inferno, afinal o cara é um monstro, um dissimulado e não merece que eu perca mais um minuto da minha existência com ele.

Mas, esta parte de mim é meio covarde, então eu não sei se conseguirei expulsar o Loki. Pelo menos, não sem gaguejar a cada palavra e talvez ter um infarto de tão apavorada que estou. Por isso, eu tenho um plano B, que consiste, basicamente, em ouvir o meu outro lado. O lado ainda mais covarde que está preocupado apenas com a minha sobrevivência. O lado que quer simplesmente dizer:

Querido Loki, me desculpe por ter te comparado a um gafanhoto. Sua roupa é linda, na verdade. Eu só estava com inveja. Inveja branca, não se preocupe. Me perdoe por tudo o que eu disse. Em troca da sua clemência, pode ficar com o meu apartamento. É todinho seu. Faça bom proveito dele. Por favor, não me mate.

Obviamente, eu não posso me rebaixar a esse nível, muito menos deixar aquele crápula asgardiano se apoderar do meu cafofo. Mas, eu também não posso dizer o que realmente tenho vontade de dizer. Eu não posso desafiá-lo e irritá-lo ainda mais. Eu não posso mandá-lo embora porque, certamente, ele não iria. Não sem antes acabar comigo.

Respiro fundo e tento afastar os meus temores. Repito para mim mesma que se o Loki quisesse me matar, ele já teria feito isso. No entanto, por algum motivo, ele não só não me matou, como pediu a minha ajuda. Pediu não, né? Porque ele não pede nada. Ele simplesmente exigiu a minha ajuda para voltar para Asgard.

— Asgard... — murmuro sozinha no carro, enquanto me lembro de uma coisa. De algo que o Loki disse na noite passada, no meio da chuva, quando ficou olhando para o céu e ignorou minha presença bem diante dele.

O Loki disse o nome do Thor. Gritou, na verdade. Esbravejou. E eu sou inteligente o suficiente para deduzir que, para ele ter ficado tão possesso, foi o Thor que o colocou naquela situação, que o enviou para a Terra. A questão é: por quê?

A missão do Thor, assim como a de todos os Vingadores, não é de proteger nós, reles mortais, de ameaças como o Loki?

E antes de mais nada, como eu pude me esquecer do Thor? Loiro, forte, cabeludo, lindo e dono de um martelo espetacular. O Deus do Trovão não é o tipo de rostinho e corpinho que a gente esqueça tão facilmente.

E ele apareceu muito na televisão e na internet na ocasião do ataque orquestrado pelo Loki em Nova York. Todos os Vingadores apareceram, aliás. Então, como eu pude ser tão burra? Como eu pude esquecer tudo isso? Qual é o meu problema? Deficiência de fósforo? Era isso que tinha afetado a minha memória?

Seja como for, há pouco tempo, o Thor tinha aparecido de novo na Terra. Isso porque, há uns seis meses, um tal elfo do mal muito bizarro havia tentado acabar com o nosso já defasado planeta, trazendo um elemento alienígena que espalhava escuridão e destruição por toda a parte.

Thor o venceu, graças a Deus, e desde então tudo tem estado calmo. Eu não ouvi mais falar dele, de outras ameaças, muito menos da ovelha negra da família, o Loki.

Então, o que será que aconteceu em Asgard para o Thor lançar o seu irmão adotivo e problemático aqui? Bem debaixo dos nossos narizes? Será que os outros Vingadores sabem disso? Será que concordam com isso? O que diabos está acontecendo?

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora