Estou dentro do meu carro, no estacionamento do prédio onde moro. Estou aqui há no mínimo uma hora, mas ainda não tive coragem de sair do veículo e subir para o meu apartamento. Ainda estou com medo, muito medo, do que vou encontrar lá. Ou melhor, de quem eu vou encontrar lá.
Durante o caminho até aqui, vim ensaiando o que dizer quando eu tiver que encarar os olhos frios e intimidadores do desalmado Loki. Uma parte de mim quer simplesmente expulsá-lo do meu apartamento e da minha vida à pontapés, quer mandá-lo para o Inferno, afinal o cara é um monstro, um dissimulado e não merece que eu perca mais um minuto da minha existência com ele.
Mas, esta parte de mim é meio covarde, então eu não sei se conseguirei expulsar o Loki. Pelo menos, não sem gaguejar a cada palavra e talvez ter um infarto de tão apavorada que estou. Por isso, eu tenho um plano B, que consiste, basicamente, em ouvir o meu outro lado. O lado ainda mais covarde que está preocupado apenas com a minha sobrevivência. O lado que quer simplesmente dizer:
Querido Loki, me desculpe por ter te comparado a um gafanhoto. Sua roupa é linda, na verdade. Eu só estava com inveja. Inveja branca, não se preocupe. Me perdoe por tudo o que eu disse. Em troca da sua clemência, pode ficar com o meu apartamento. É todinho seu. Faça bom proveito dele. Por favor, não me mate.
Obviamente, eu não posso me rebaixar a esse nível, muito menos deixar aquele crápula asgardiano se apoderar do meu cafofo. Mas, eu também não posso dizer o que realmente tenho vontade de dizer. Eu não posso desafiá-lo e irritá-lo ainda mais. Eu não posso mandá-lo embora porque, certamente, ele não iria. Não sem antes acabar comigo.
Respiro fundo e tento afastar os meus temores. Repito para mim mesma que se o Loki quisesse me matar, ele já teria feito isso. No entanto, por algum motivo, ele não só não me matou, como pediu a minha ajuda. Pediu não, né? Porque ele não pede nada. Ele simplesmente exigiu a minha ajuda para voltar para Asgard.
— Asgard... — murmuro sozinha no carro, enquanto me lembro de uma coisa. De algo que o Loki disse na noite passada, no meio da chuva, quando ficou olhando para o céu e ignorou minha presença bem diante dele.
O Loki disse o nome do Thor. Gritou, na verdade. Esbravejou. E eu sou inteligente o suficiente para deduzir que, para ele ter ficado tão possesso, foi o Thor que o colocou naquela situação, que o enviou para a Terra. A questão é: por quê?
A missão do Thor, assim como a de todos os Vingadores, não é de proteger nós, reles mortais, de ameaças como o Loki?
E antes de mais nada, como eu pude me esquecer do Thor? Loiro, forte, cabeludo, lindo e dono de um martelo espetacular. O Deus do Trovão não é o tipo de rostinho e corpinho que a gente esqueça tão facilmente.
E ele apareceu muito na televisão e na internet na ocasião do ataque orquestrado pelo Loki em Nova York. Todos os Vingadores apareceram, aliás. Então, como eu pude ser tão burra? Como eu pude esquecer tudo isso? Qual é o meu problema? Deficiência de fósforo? Era isso que tinha afetado a minha memória?
Seja como for, há pouco tempo, o Thor tinha aparecido de novo na Terra. Isso porque, há uns seis meses, um tal elfo do mal muito bizarro havia tentado acabar com o nosso já defasado planeta, trazendo um elemento alienígena que espalhava escuridão e destruição por toda a parte.
Thor o venceu, graças a Deus, e desde então tudo tem estado calmo. Eu não ouvi mais falar dele, de outras ameaças, muito menos da ovelha negra da família, o Loki.
Então, o que será que aconteceu em Asgard para o Thor lançar o seu irmão adotivo e problemático aqui? Bem debaixo dos nossos narizes? Será que os outros Vingadores sabem disso? Será que concordam com isso? O que diabos está acontecendo?
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Trapaças do Destino
أدب الهواةOlivia Mills é uma estagiária que tem sérios problemas com os seus dois chefes, que ela costuma chamar de demônios. Moradora da cidade de Nova York e prestes a se formar na faculdade de Publicidade e Propaganda, sua vida muda completamente quando um...