Eu devia estar pensando no que Bruce descobriu sobre mim, ao analisar o meu DNA. Eu devia estar pensando no meu misterioso pai, afinal, o cara, definitivamente, não é das bandas deste Reino. Eu devia estar me fazendo uma série de perguntas, querendo mais informações sobre ele e entrando em parafuso, afinal, não é todo dia que você descobre que o seu pai é parente do ET de Varginha e que, portanto, você não é completamente humana.
Eu também devia estar remoendo a discussão antológica que tive com boa parte do time de Vingadores ontem. Eu devia estar remoendo o fato de que agora eles sabem tudo sobre o meu passado, meus traumas e sobre a minha avó. Eu devia estar pensando em tudo isso. Mas, ao invés disso, desde que abri os olhos esta manhã e fitei o teto do meu quarto, só consigo pensar no Deus da Trapaça e no nosso inconveniente e inimaginável abraço.
Onde diabos eu estava com a minha cabeça, quando pedi ao Loki para me abraçar? E por que diabos ele acatou o meu pedido desvairado, aparentemente, sem muita relutância? O que diabos está acontecendo entre nós? Está acontecendo alguma coisa ou eu estou apenas imaginando isso? Por que meu coração bateu mais forte ontem diante daquele abraço? E por que bate mais forte toda vez que me pego pensando naquele traste?
Incapaz de responder tais perguntas, me reviro na cama algumas vezes, depois me obrigo a parar em determinada posição, respiro fundo e procuro esvaziar a minha mente. Mas, assim que eu fecho os olhos, os flashes da noite anterior vem com força total em meu pensamento...
Eu praticamente me jogando nos braços do gafanhoto. Meu choro ridículo. Eu implorando para que ele me abraçasse. Loki, visivelmente confuso e pego de surpresa, mas me abraçando no final das contas. A sensação reconfortante do seu abraço. Os seus batimentos cardíacos, estranhamente acelerados, se propagando no meu ouvido, quando eu encostei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos. Eu, finalmente, me acalmando. Me desvencilhando aos poucos dos seus braços em volta do meu corpo. Eu encarando o deus trapaceiro de um jeito patético. Olhando para a sua boca de um jeito ainda mais patético. Me obrigando a parar de lhe olhar daquele jeito... Patético. Lhe dando as costas e me afastando, sem dizer uma palavra sequer, enquanto meu rosto queimava de tão quente e vermelho que ficou.
Qual é o meu problema, afinal? O que deu em mim?
Respiro fundo novamente e me convenço de que só abracei o Deus da Trapaça porque eu estava muito sensibilizada com tudo o que havia acontecido na Torre Stark. Eu não estava no meu juízo perfeito, nos meus melhores dias, é isso. Foi um momento de fraqueza, certamente. Algo que eu não deveria dar tanta importância assim. Algo que passou. Algo que não vai se repetir.
Inexplicavelmente, sinto certo vazio ao repetir para mim mesma que nunca mais abraçarei aquela gentalha. Loki tem muitos defeitos, é verdade, mas uma coisa eu tenho que admitir, o seu abraço fez eu me sentir bem melhor, mais calma, segura e... Me fez sentir outra coisa também. Uma coisa que eu prefiro não descobrir o que é. Uma coisa que eu não posso sentir. Seria loucura sentir, afinal, é do Deus da Trapaça que estamos falando.
Tenho que esquecer o que senti ontem, quando o gafanhoto asgardiano me abraçou. Mas como farei isso, se assim que eu levantar desta cama e sair deste quarto, vou dar de cara com ele?
Faço uma careta de vergonha e cubro o meu rosto com o cobertor ao imaginar as milhares de piadinhas que aquela gentalha fará quando me ver. Ou as perguntas que fará sobre aquele fatídico abraço. Ou o que estará pensando sobre a minha atitude.
Enfim, estou perdida. Mesmo que num milagre de Deus, Loki deixe essa questão para lá, isso não muda o fato de que eu o abracei. E de que eu gostei. E pior, de que agora eu terei que encará-lo.
Embora a ideia de passar o resto dos meus dias trancada neste quarto me agrade muito, sei que não posso fazer isso. Então, sem outra escolha, me levanto devagar, me dirijo ao banheiro do meu quarto e tomo um banho demorado.
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Trapaças do Destino
FanfictionOlivia Mills é uma estagiária que tem sérios problemas com os seus dois chefes, que ela costuma chamar de demônios. Moradora da cidade de Nova York e prestes a se formar na faculdade de Publicidade e Propaganda, sua vida muda completamente quando um...