Quebra-cabeça

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Quando tive o desprazer de conhecer a midgardiana Olivia Mills jamais imaginei que um dia eu, Loki de Asgard, apreciaria tanto beijá-la.

Sim, eu não nego. Eu gostei. Eu quis fazer isso. Beijá-la. Então, eu fiz.

Claro que, se eu pudesse escolher, teria preferido que ela, e não eu, tivesse cedido primeiro. No entanto, no momento em que Olivia me deu as costas e ameaçou ir embora de vez, este detalhe perdeu completamente a importância, porque a única coisa que importava realmente era a minha total incapacidade de vê-la partindo sem fazer nada.

Nunca fui um sentimental idiota, mas simplesmente não pude ficar parado, vendo-a se afastar cada vez mais. Como Olivia mesma costuma dizer, me julguem.

Então sim, eu me deixei levar pelas coisas que ela havia me confessado antes e por uma fagulha que eu vinha sentindo dentro de mim, já há algum tempo. E em poucos segundos, esta fagulha se transformou em chamas intensas que me consumiram por completo. Principalmente, quando Olivia correspondeu ao meu beijo, meio no susto, é verdade, mas com a intensidade que eu ansiava.

Naquele momento, eu tive certeza de que não havia imaginado os seus olhares indiscretos sobre mim e o seu nervosismo cada vez maior na minha presença.

Sim, me chamem de presunçoso, mas eu sabia. No fundo, eu já sabia que Olivia nutria certos sentimentos por mim. E se no começo eu a julguei completamente estúpida por isso, durante o nosso impensado beijo, eu me senti profundamente grato. Grato por ela se sentir assim. Por ela sentir algo por mim. Algo bom. Isso é tão raro na minha existência que custo a acreditar que é mesmo verdade.

Resumo da ópera, eu gosto da ideia de exercer este tipo de controle sobre os sentimentos de Olivia. E, por mais impróprio que possa parecer, descobri que gosto do controle que ela exerce sobre mim. Por isso a beijei. Porque ambos exercemos este controle mútuo e não há o que se fazer, apenas... Ceder e deixar-se queimar entre fagulhas e chamas.

Mas, se por um momento, as coisas ficaram claras para mim, agora tudo está nebuloso e confuso. Embora profundamente satisfeito por ter me libertado do bracelete, não consigo entender como ele se desfez subitamente.

Tampouco, consigo encontrar uma explicação plausível para tal fato, pois estou ocupado demais encarando o imbecil do Thor, que surgiu de repente no meio desta estrada midgardiana e agora caminha determinado até nós, segurando o seu inseparável Mjölnir. Patético...

Eu deveria ter me tornado alguém melhor, certo? Então por que a sua presença ainda me incomoda tanto? Será que um dia serei realmente capaz de não odiar Thor? Ou pelo menos, voltar a fingir que sou seu irmão?

Seja como for, sua expressão é uma mistura de tensão e serenidade, alívio e incredulidade, quando o excelentíssimo Deus do Trovão finalmente para diante de mim e Olivia.

Estou pronto para confirmar se realmente recuperei os meus poderes, me preparando para criar várias ilusões de mim mesmo e partir para cima deste paspalho como em nossos últimos duelos, mas hesito assim que Olivia sibila:

— Oi...

Então Thor olha para a midgardiana e eu faço o mesmo, confuso com certa naturalidade que senti em seu tom de voz, apesar dela parecer tensa com toda esta situação.

Olivia parece arrependida de ter dito isso em seguida, já que me encara com os olhos um tanto arregalados, percebendo que eu notei como ela se dirigiu ao Deus do Trovão sem qualquer indício que denunciasse surpresa, espanto, admiração, qualquer coisa. Como se esta não fosse a primeira vez que ela está diante dele.

Essa suspeita surge dentro de mim e se confirma, quando Thor a encara com a mesma naturalidade, repousa a mão direita em seu ombro e diz:

— Eu nem sei o que dizer, mas... Obrigado. Muito obrigado.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora