Organizar a viagem ao Texas foi relativamente fácil. Eu tenho carro próprio e estou desempregada, então não precisei pedir licença a ninguém, muito menos comprar passagem. Precisei apenas fazer a mala, encher o tanque e tomar coragem.
Confesso que esta última parte não foi tão fácil assim, mas eu consegui, peguei a estrada e é isso que importa.
A princípio, Amy e Josh ficaram receosos, mas quando eu disse que a ideia partiu do Dr. Patel — lê-se meu terapeuta gato que secou discretamente o meu melhor amigo — e que, segundo ele, será bom para mim visitar o passado, me despedir da minha avó e lidar com o meu trauma, meus amigos aceitaram melhor e me deram força para prosseguir.
Josh e Amy até se ofereceram para me acompanhar, mas eu dispensei a oferta porque sei que essa é uma jornada que tenho que fazer sozinha.
Tive que parar em alguns hoteis pelo caminho, afinal Nova York e Texas ficam bem distantes geograficamente. Mas eu consegui, eu prossegui e aqui estou eu, em uma estrada relativamente deserta, prestes a cruzar a ponte que mudou a minha vida para sempre.
O dia está amanhecendo lá fora, colorindo o céu com matizes alaranjadas. Entretanto, quando o meu carro finalmente alcança a ponte, é como se eu tivesse sido levada de volta ao passado, de volta àquela noite, está tudo escuro e chuvoso de novo.
Sinto-me um pouco sufocada, como se estivesse me afogando de novo, mas busco forças dentro de mim e sigo em frente.
Lembranças vêm em meu pensamento mesmo assim. Minha avó puxando assunto sobre o meu aniversário e a frieza como a tratei. Mas na sequência, me lembro dos nossos bons momentos, de tantas festas que ela organizou para mim, sua amada netinha, como costumava me chamar.
Lembro-me do algodão doce e dos pijamas com personagens de desenhos animados ou filmes da Disney, do toque suave da minha avó quando acariciava o meu rosto e do seu abraço sempre caloroso e forte.
Sinto meus olhos marejados quando finalmente deixo a ponte para trás e digo para mim mesma:
— Foi um acidente. Não foi minha culpa.
Sinto-me mais leve ao pronunciar isso em voz alta, porém sei que terei que repetir mais algumas vezes até me convencer disso, até me perdoar e seguir em frente, como certamente a Sra. Susan Mills gostaria que eu fizesse.
Será difícil, mas por ela e pelo meu próprio bem, eu tenho que tentar e conseguir. E eu vou.
Pensando assim, respiro fundo, enxugo as lágrimas e sigo viagem.
Algum tempo depois
A fazenda está como eu me lembro de tê-la deixado. Saí às pressas daqui no dia do velório de minha avó, mas apesar de terem se passado três anos desde então, a propriedade está bem cuidada.
Algumas vacas e bois estão no pasto e erguem suas cabeças, quando meu carro passa por uma estrada de terra no entorno da fazenda.
Vejo alguns porcos no chiqueiro também, quando desço do carro. E quando bato a porta do veículo, ouço o cacarejar alarmado vindo do galinheiro.
Sorrio um tanto incrédula e confusa, mas logo deduzo que o fazendeiro vizinho, Joseph Kent e antigo amigo de minha avó, deve ter cuidado desse lugar depois que ela morreu e eu fui embora. Com certeza, ele deve mandar alguém da sua fazenda regularmente até aqui, sem receber um dólar sequer por isso, apenas em nome da amizade que tinha com minha avó e da consideração que tem com a sua neta fujona.
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Trapaças do Destino
FanfictionOlivia Mills é uma estagiária que tem sérios problemas com os seus dois chefes, que ela costuma chamar de demônios. Moradora da cidade de Nova York e prestes a se formar na faculdade de Publicidade e Propaganda, sua vida muda completamente quando um...