Ação e Reação

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Três anos atrás

Não sei onde estou ou o que aconteceu. Tudo o que sei é que meus pulmões doem, minha cabeça dói, meu corpo dói, minha alma dói.

Sinto que estou começando a despertar, mas ainda não tenho forças o suficiente para lutar contra o torpor que domina o meu corpo e que me impede de abrir os olhos.

No entanto, meus ouvidos começam a perceber pequenos sons à minha volta. A sirene de uma ambulância ao longe, passos apressados em um corredor, o bipe constante de um aparelho perto de mim. E uma voz... Uma voz feminina e gentil que praticamente sussurra:

— É um milagre ela ter sobrevivido, doutor.

— Nem me fale, Nancy. Eu ainda estou tentando entender como isso é possível. Em todos esses anos como médico, eu nunca vi alguém sobreviver a um acidente assim. Ela ficou quanto tempo submersa? Quarenta minutos? — uma voz masculina e grave sibila em algum lugar da minha mente.

— Talvez mais, doutor. — a tal Nancy responde.

Um médico e provavelmente uma enfermeira. Estou em um hospital.

O que aconteceu comigo? Como eu vim parar aqui? De que acidente eles estão falando? Eu estive submersa? Eu me afoguei? Minha cabeça lateja quando tento me lembrar e uma dor profunda domina o meu ser pouco a pouco.

Então, eu ouço o ruído de papéis sendo folheados e a voz masculina retoma:

— Tem alguma coisa errada com os exames dela. Refaça-os, por favor, Nancy.

— Sim, doutor. Eu vou providenciar uma nova coleta de sangue. — a enfermeira responde.

Sinto uma onda de desespero que se mistura à confusão que está a minha cabeça. Meu coração acelera e o bipe do aparelho, que parece estar bem perto de mim, se torna mais constante e ritmado.

— Não agora, Nancy. Ela está acordando. — ouço a voz masculina de novo e depois escuto os seus passos se aproximando de onde estou. — Srta. Mills? — ele me chama, enquanto luto para abrir os olhos.

Finalmente consigo e o branco do quarto quase me cega por alguns instantes. Em seguida, estreito o meu olhar e focalizo a figura de um homem de aproximadamente trinta anos me encarando. Ele usa um jaleco branco, tem um estetoscópio em volta do pescoço e usa óculos.

Percebo um discreto sorriso em seu rosto anguloso, como se ele estivesse diante de um milagre, e na sequência o médico diz:

— Oi, eu sou o Dr. Lance. Como você se sente, Srta. Mills?

— Péssima. — respondo, surpresa com o som quase inaudível da minha voz.

Minha garganta queima e o quarto parece girar por um instante. Enquanto isso, o médico parece sorrir largamente quando diz descontraído:

— Sinceridade. Eu gosto disso. — após um instante e enquanto a enfermeira se aproxima da cama, ele retoma mais sério, porém ainda de um jeito gentil: — Você passou por muita coisa, é normal que se sinta assim. Mas não se preocupe, você não corre nenhum perigo, está se recuperando melhor do que qualquer médico aqui poderia imaginar e logo poderá ir para a casa.

Casa. Férias. Texas. Fazenda. Minha avó.

Sinto o meu coração disparar à medida que vários flashes surgem em minha mente como um efeito dominó. Minha avó. Nossa discussão. O caminhão. O acidente. Nós duas nos afogando. A dor. A sensação sufocante de não conseguir respirar. A sensação desesperadora de morrer pouco a pouco. A sensação desesperadora de não conseguir morrer.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora