Eu vou sobreviver

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Minha avó costumava me dizer que todos nós temos o direito de passar um dia inteiro na cama, quando temos alguma desilusão amorosa. Ela me dizia que durante essas vinte e quatro horas, nós podíamos chorar, relembrar certas coisas que vivemos com a pessoa que partiu nosso coração, sofrer em silêncio, amaldiçoar o mundo. Mas, que no fim deste prazo, temos a obrigação de juntar os cacos, sair do fundo do poço, erguer a cabeça e dar a volta por cima. Afinal, a vida continua.

Geralmente, minha avó nunca me deixava passar mais do que um dia reclusa no meu quarto, em nossa fazenda no Texas, quando meus namoros naufragavam por algum motivo. E mesmo quando eu me mudei para Nova York, ela parecia sentir quando algo assim acontecia e vinha me visitar. E sempre dava um jeito de me arrancar da depressão e me obrigava a voltar a viver.

No entanto, infelizmente, minha avó não está aqui desta vez. Não há nada que ela possa fazer por mim agora.

Por isso, já faz uma semana que estou reclusa no meu cafofo. Faz uma semana que o gafanhoto asgardiano voltou para o seu habitat natural, depois de me dizer aquelas coisas horríveis na frente do top model asgardiano, de Steve Fofo Rogers e do Homem de Ferro. Faz uma semana que aquele traste partiu o meu coração e, por mais que eu me esforce, sempre acabo voltando para o fundo do poço. Parece ser mesmo o meu lugar, afinal.

Durante esses dias, só me levantei da cama para tomar banho, trocar de pijama, me obrigar a comer alguma coisa e tomar meus antidepressivos. E depois voltei para cá, para a minha cama, para a minha reclusão.

Nunca pensei que poderia ficar tão mal por causa do Loki. Justo por causa dele. Arrgghh! Como que eu, Olivia Mills, fui me apaixonar por aquela coisa? Como?

E como aquele infeliz pôde duvidar dos meus sentimentos e me acusar daquela forma? Será que ele não sentiu o que eu senti durante o nosso beijo? Será que ele acha mesmo que aquilo não foi real? Que nada foi?

Cansada de me fazer essas perguntas, me reviro na cama e afasto tais pensamentos. Com isso, meus olhos acabam encontrando algo em cima da cômoda. O Caco.

Fico alguns instantes olhando para o sapo de pelúcia tão fofo, enquanto me lembro do dia em que o Deus da Trapaça me presenteou com ele.

Sinto certa nostalgia e um vazio se alastra dentro de mim. Se pelo menos o meu cafofo não estivesse repleto de tantas lembranças daquele traste...

É isso! Me sento na cama rapidamente ao ter uma ideia que pode, finalmente, me ajudar a sair do fundo do poço. Ou pelo menos, vai me ajudar a não lembrar de Loki a cada trinta segundos.

Pensando desta forma, me ponho de pé e caminho resoluta até a cômoda. Então, pego o Caco com certo desprezo, o segurando pelo pescoço, e deixo o quarto logo depois, disposta a jogar esta coisa medonha na lixeira do prédio.

Hesito quando chego na sala e vejo várias roupas de Loki espalhadas pelo sofá. Algumas ainda estão dentro das sacolas, acomodadas em cantos estratégicos do lugar.

Uma parte de mim quer voltar para a cama e não sair de lá nunca mais. Todavia, faço um esforço, largo o Caco em cima da poltrona e começo a recolher as roupas e as sacolas.

Vou até o banheiro social e pego os itens de higiene pessoal também. Jogo boa parte fora, mas poupo o shampoo e o condicionador que Loki quase não usou.

Em seguida, dobro a toalha — sim, aquela famigerada toalha com a qual o deus trapaceiro desfilou na minha sala — e a enfio em uma sacola qualquer.

Então, coloco tudo o que pertencia a Loki em algumas caixas que usei na minha última mudança, depois chamo o porteiro pelo interfone e as entrego a ele. Lhe digo que não me importa o que ele vai fazer com aquelas coisas. Se vai pegar para si ou doar, contanto que ele não faça perguntas e leve tudo aquilo daqui o mais rápido possível.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora