Lapso de Loucura

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Estou sentada na poltrona da sala, olhando fixamente para o gafanhoto asgardiano megalomaníaco, que está acomodado no sofá ao meu lado e me encarando com uma expressão interrogativa, talvez esperando que eu diga alguma coisa sobre o que acabei de ouvir dele.

Pisco algumas vezes, finalmente assimilando suas palavras e indago:

— Então, basicamente, o seu plano B consiste em me jogar pela janela? — Loki me encara visivelmente intrigado, talvez com a calma e a naturalidade com que eu resumi o seu plano homicida, mas, ao invés de esperar ele responder, eu me levanto com um impulso e anuncio: — Bem, neste caso eu vou fazer a pipoca.

Enquanto caminho até a cozinha, me lembro de que eu não posso deixar o gafanhoto saber que eu estou envolvida até o pescoço na missão de ajudá-lo a se libertar do bracelete. Me lembro também de que tenho que fazer o possível e o impossível para que Thor & Cia não precisem interferir, vindo ao meu socorro. Me convenço de que não posso ser jogada pela janela. E tudo isso significa que eu tenho que manter a calma, usar e abusar dos meus dotes de atriz e dissuadir o deus trapaceiro do seu plano B.

Estou pensando em tudo isso, quando abro o armário e ouço os passos do Loki vindo da sala e parando na soleira da cozinha. Então eu pego uma panela de pressão e cogito arremessá-la na cabeça dele. Mas, guardo-a em seguida, afinal é uma ótima panela e eu não quero amassá-la naquela cabeça dura. Além disso, partir para a violência física não vai resolver o problema, apenas adiá-lo ou quem sabe agravá-lo.

Tenho que manter a calma. É isso. Pego a pipoqueira, o milho, o óleo e fecho o armário.

— Eu não entendo. — o Deus da Trapaça diz e eu ergo o olhar em sua direção, enquanto coloco tudo sobre o balcão e começo os preparativos para aquela que é, teoricamente, minha última, derradeira e fatídica refeição. Teoricamente. — Eu digo que pretendo te jogar pela janela e você resolve fazer... Pipoca?

— Pretende? — eu repito, fingindo confusão. — Engraçado, eu pensei que você já tivesse decidido isso. — articulo, mas ao perceber que tal observação não está me ajudando, decido recomeçar em tom divertido: — Bem, já que eu estou com o pé na cova, prestes a vestir o paletó de madeira, esticar as canelinhas e fazer a grande viagem, eu acho que tenho todo o direito de assistir os meus episódios favoritos do Pica Pau e devorar uma tigela todinha de pipoca antes do meu suspiro final, não?

Por incrível que pareça, consigo arrancar uma leve risada do gafanhoto e a tensão no ambiente se dissipa um pouco. Só um pouco, já que na sequência, ele recomeça de um jeito inquisitivo:

— Então você não está com medo?

— De você? Bitch, please! — deixo escapar aos risos, surpresa comigo mesma, pois constato que realmente passei da fase de sentir medo deste asgardiano maquiavélico. Porém, percebendo que irritá-lo não é o melhor caminho para dissuadi-lo da ideia de me jogar pela janela, eu pigarreio e recomeço seriamente: — Digo... Eu só acho que você não vai fazer isso. Aliás, eu não vejo como fazer isso vai resolver a sua atual situação e te ajudar a voltar para Asgard.

— Eu explico como, midgardiana tola. — Loki anuncia, se aproximando lentamente até se sentar do outro lado do balcão, enquanto me encara de um jeito intimidador. Ou melhor, de um jeito que seria intimidador, se eu ainda tivesse medo deste traste.

No instante em que ele abre a boca para prosseguir, eu rasgo o pacote de milho e despejo o conteúdo na pipoqueira, fazendo um barulho irritante. Automaticamente, Loki me fuzila com o olhar.

Em resposta, eu faço uma reverência e digo com sarcasmo:

— Desculpe, Excelentíssimo Loki, de Asgard. Prossiga, por favor.

Trapaças do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora