Capítulo 3

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Pérola


Estava no meu quarto dia de trabalho e depois daquele encontro na cozinha, não vi mais o ogro gostoso. Valéria andou conversando comigo sobre a possibilidade de eu dormir algumas noites aqui com Clara quando fosse preciso. Não era uma coisa que estava nos meus planos. Nem tão pouco nos do meu pai, que quase teve um treco quando contei. Para ele era um absurdo uma moça solteira dormir fora de casa. Pensei até em negar, mas depois que ela me disse o valor do adicional que eu receberia, não tinha porque jogar dinheiro pro alto.

Tinha acabado de colocar Clara para tirar sua soneca matinal e iria aproveitar para agilizar umas coisas da faculdade. Não via a hora de receber meu primeiro salário. Precisava urgentemente comprar uns livros e assim não perder tanto tempo esperando que uma alma caridosa tivesse a gentileza de me emprestar.  Ouvi o som do telefone residencial e me assustei. Nem lembro mais a última vez que ouvi um som assim. Só podia ser a casa do ogro mesmo.

Pérola: Residência da família Porto. - tive vontade de rir

Márcio: Passa para a minha mãe agora! - uma pessoa educada, é uma pessoa educada. Arrogante!

Pérola: Ela não está. - me limitei a responder

Márcio: Vai ter que ser você mesma. - Hã? Eu o quê? - Dentro de mais ou menos uma hora, estarei indo com uns clientes para casa. Preciso que liguei para o restaurante que entrega seu almoço e peça um  para quatro pessoas. Eu sempre peço esse tipo de serviço e não será difícil para eles saberem o que devem entregar. Será que você consegue fazer isso? 

Pérola: Claro! - ele pensava que eu era idiota?

Márcio: Quero apenas que ligue e diga que é o pedido de sempre. Peça também que mandem alguém para servir. Duvido que isso você saiba fazer. - falou e quando eu pensei em mandá-lo para o inferno, ele desligou. Infeliz prepotente!

Sempre detestei ter que provar algo a meu respeito, mas esse arrogante estava pedindo. Ficava me perguntando como que um ser bruto desse poderia ser filho de uma mulher tão educada e amável. Vai ver foi trocado na maternidade e essa pobre mulher teve que criar esse arrogante do caralho.

Fiz o que pediu, ou melhor, mandou. O gerente parecia já saber de quem se tratava e mal falei seu nome, ele já foi logo dizendo que em menos de meia hora o pessoal estaria chegando. O que o dinheiro não paga tenho certeza que a arrogância daquele homem toma.

Aquele arrogante vai ver se não consigo fazer melhor do que ele imagina. Arrumo toda a área da piscina e antes do horário já estava tudo preparado. O pessoal do restaurante estava na cozinha cuidando dos últimos detalhes e eu fui dar o almoço de Clara.

Não demorou para ele chegar acompanhado por três homens altamente bem vestidos. Márcio pediu licença e foi para a sala de jantar. Não demorou e voltou praticamente cuspindo fogo. Eu estava com Clara nos braços e ele praticamente me fuzilou com o olhar. O que eu fiz agora?

Márcio: Pensei que não tivesse dificuldade para entender uma ordem. - tinha menos dificuldade ainda para manda-lo se foder. - Por que não tem nada preparado na sala de jantar?

Pérola: Boa tarde para o senhor também. - falei me fazendo de sonsa e pude ouvir o homem mais velho que havia chegado com ele, dar uma risada. - O dia está quente, então eu pensei que seria mais agradável que esse almoço ocorresse na área da piscina.

Márcio: Você não é paga para pensar. - falou afrouxando o nó da gravata. Se pensamento realmente tivesse força, agora ele estaria com um palmo de língua para fora, porque aquela gravata estaria quebrando todos os ossinhos do seu pescoço.

Pérola: Também não sou paga para aguentar desaforo, mas veja... - falava com a maior calma do mundo - É exatamente o que estou fazendo. - a porta do inferno tinha sido aberta e eu sabia que ele não iria deixar barato. Cheguei até a pensar em sair correndo, mas antes que tivesse tempo um dos homens veio ao meu socorro agradecendo a gentileza e levando o arrogante para fora.

Resolvi ficar um pouco no jardim com Clara, ele que se preocupe em bajular seus convidados. O jardim dessa casa é um verdadeiro sonho. Clara pareceu gostar muito da brisa e acabou adormecendo em meus braços enquanto caminho. Sentei num banquinho para que ela pudesse descansar direito e fiquei pensando um pouco na vida.  Passei um tempinho assim,até que o sol foi substituído por uma sombra. Quando abri meus olhos, dei de cara com ele olhando fixamente para mim. Meu Deus, de cabeça para baixo ele é mais lindo ainda! Levantei com cuidado, mesmo tendo levado um pequeno susto, para não acordar Clara. Seus olhos acompanharam meus movimentos e tive a ligeira impressão que o arrogante lambeu os lábios, mas tirei logo esse devaneio da cabeça. Ele não me suporta! 

Márcio: Já terminou seu banho de sol?  - perguntou com a petulância que só ele tem.

Pérola: Desculpe. - estava desnorteada - Clara dormiu e eu achei melhor...

Márcio: Cala a boca e vem! - mandão dos inferno nem deixou eu terminar de falar. 

Pérola: Estou com Clara nos braços. Não está vendo? - falo um pouco mais alto e a pequena se mexe em meus braços.

Márcio: O que estou vendo é que você é uma porra de atrevida e me desafia na minha própria casa. - começou a andar de um lado para o outro. - Você tem noção do que fez?

Pérola: Pode ser mais específico? - eu precisava saber a hora de parar, mas é que aquele homem me tirava do sério e quando dava por mim já estava falando mais do que devia.

Márcio: Aqueles são clientes importantes e você me envergonhou na frente deles. Tirou minha autoridade.

Pérola: Desculpe, papai. - falei segurando o riso. parecia meu pai me dando bronca. - Não vou mais te envergonhar.

Márcio: Você se acha muito engraçada, né? - o homem estava vermelho de raiva e já berrava, Nem se importou quando viu a filha acordar e ameaçar um choro.

Pérola: Não. - tentei me controlar para não assustar mais minha pequena.

Márcio: Venha comigo. - pegou em meu braço - Agora!

Pérola: Solte-me! - puxei meu braço e ele pareceu notar que Clara já chorava. - Está assustando a menina. Vou deixa-la no berço e desço para ouvir o que quer me dizer. 

Ele não protesta e faço o que havia dito. Clara logo estava brincando no berço. Liguei a babá eletrônica e me certifiquei que ela ficaria em segurança. Respirei fundo e fui enfrentar o que me aguardava. Pelo silêncio presumi que ele já tinha espantado os convidados. De certo deve ter mordido algum quando começou a latir.  Bato na porta do escritório e ouço sua ordem para que eu entre.

Márcio: O que porra acha que está fazendo? - esbravejou assim que entrei não me deixando nem respirar.  - RESPONDA PORRA! - perdeu o controle e gritou me assustando. Cambaleei para trás e acabei caindo sentada, mas me levantei rapidamente. 

Pérola: Na... nada! - agora estava realmente com medo. Pra que fui cutucar a fera com palito de dente? Estou ferrada !

Márcio: Nada o caralho! Você faz ideia da vontade que eu estou de te matar? Dos pensamentos que estão se formando na minha cabeça agora? - não tive forças para dizer uma palavra. Fechei meus olhos pensando no quanto estava ferrada com aquele homem. Tentei formular algo para dizer e nesse momento senti meu corpo ser puxado para em seguida se chocar numa muralha de músculos. - Vou te dar a última chance de ir embora desta casa agora e não voltar nunca mais. Estou fazendo isso, porque diferente do que você pensa, não sou um monstro. Agora vá e não volte. Se voltar, não diga que não foi avisada. Eu vou te machucar!

Sai de lá chorando e sem rumo. Tenho ódio desse prepotente e quero mata-lo no momento. Não penso e acabo deixando minhas coisas para trás. Caminho sem direção, mas com a certeza que naquela casa nunca mais coloco meus pés.


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