Capítulo 34

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Pérola



Acordamos juntos na cama. Clara fez uma farra por ter o irmão deitado ao lado dela. Olhar para Márcio tão feliz ao lado dos filhos encheu meu coração de amor. Quando entrei nessa casa a primeira vez ele era a figura muito distante de um pai amoroso. E ver como agora ele tratava Clara só me dava a certeza que ela não podia ter pai melhor. 

Márcio: Cuidado, borboletinha. - falou ao colocar Enzo em seu colo. Ela pediu e não tivemos como negar. Seus risos ao ver a agitação de Enzo nos fizeram rir também. Enzo estava agitado e parecia não gostar muito de ser o motivo da graça. Até nisso tinha puxado ao pai. Sangue é um bichinho complicado.

Pérola: Vou descer para preparar a mamadeira dele. - falei a contragosto por sair de lá. - Clara também precisa comer.

Márcio: Pensei em fazermos um passeio. Sei lá! Almoçar fora e depois andar por aí. Topa?

Pérola: Pensei que Valéria viria almoçar novamente conosco. - lembrei de ter escutado ela falando algo do tipo ontem.

Márcio: Ela até disse que viria, mas antes de ir embora recebeu uma ligação e falou comigo que almoçaria com meu pai. - deu de ombros brincando com as crianças.

Pérola: Você notou algo de estranho com sua mãe?

Márcio: Não. Por quê? - voltou a atenção para mim. - Ela te falou algo?

Pérola: Não, mas... - não queria parecer intrometida - Pode ser impressão minha, sei lá. Deve ser bobagem.

Márcio: Fala. - estava curioso

Pérola: Ela estava com um olhar triste. As poucas vezes que me pareceu a Valéria de sempre, alegre, foi quando estava com as crianças. Pode ser só besteira da minha cabeça. 

Márcio: Provavelmente não. Pérola, a vida naquela casa não é nada agradável. Me pergunto o porquê de minha mãe já não ter acabado com a farsa que é seu casamento.

Pérola: Não fala isso, Márcio - o recriminei - Casais têm problemas às vezes. É normal.

Márcio: Eles não têm problemas " às vezes". desde que me entendo por gente que vejo minha mãe tentar salvar a relação com meu pai. Ela faz de tudo e até se anula, mas aquele lá não vai mudar nunca.

Pérola: Por que diz isso? 

Márcio: Meu pai é uma pessoa que só enxerga as suas vontades no mundo. Nem sei te dizer o tanto de amantes que já teve. Minha mãe não é feliz com ele, mas insiste por não querer admitir que os pais estavam certos. Meu avô nunca quis esse casamento. Aceitaram porque não queriam perder a filha e consequentemente o convívio comigo. Minha mãe casou grávida e eles sabiam que o único jeito de estarem presentes na minha vida era aceitando meu pai no pacote.

Pérola: Não sabia disso. - não podia nem imaginar o que Valéria, aquela mulher tão especial, passava.

Márcio: Não ficaria nem um pouco surpreso se esbarrasse em um irmão por aí. - falou pegando Enzo nos braços. - Ele já aprontou muito e tenho certeza que ainda apronta.

Pérola: E por que ELE não se separa da sua mãe? - peguei Clara e fomos em direção a porta. 

Márcio: E perder tudo? - por essa eu não esperava - Meu avô aceitou o casamento, mas não foi tolo de confiar no genro. Ele tinha a certeza que o único interesse do meu pai era o dinheiro.

Pérola: Por quê? Como ele perderia tudo? - descemos as escadas ainda conversando e fomos para a cozinha. 

Márcio: Eles se conheceram na faculdade. De cara minha mãe se encantou com ele. Pelo menos foi o que minha avó sempre contou. E segundo meu avô, meu pai só mostrou interesse quando soube que ela era herdeira de uma das maiores fortunas do Rio de Janeiro. Por esse motivo meu avô convenceu minha mãe a casar com regime de total separação de bens. Assim ele protegeu o que passou a vida toda construindo. Caso se separem, meu pai terá direito somente ao que construíram juntos depois de casados, que para alguém tão esnobe quanto ele, é pouco.

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