Pérola
Finalmente poderei ver o Enzo, estou angustiada de saudade é como um coração batendo fora de mim. Cheguei ao andar da UTI e enquanto estou me preparando na antessala percebo uma movimentação anormal, mas não dou grande atenção. Já pronta caminho lentamente em direção à área que me foi indicada e sou incapaz de me mover ou pensar. Valéria e Márcio estão ao lado do meu filho, ela olha em minha direção pálida e assustada ao perceber que estou aqui. Márcio demora mais, apesar disso parece ainda mais apreensivo e depois vejo sua postura variar entre a humilhação e o constrangimento.
Pérola: Como foi capaz de trazê-lo aqui? - não sei de quem sinto mais raiva.
Márcio: Pérola...
Pérola: Você me traiu. Não tinha esse direito.
Valéria: Ele é o pai... - falou baixo e caminhou em minha direção. Quero odiá-la da mesma forma que odeio Márcio, mas sei que não fez para me machucar. - Sei pelo que passou, mas não decida por seu filho. Deixe que ele tenha um pai.- eu não disse nada, apenas toquei seu ombro e caminhei na direção do homem que destruiu todos os meus sonhos e sentimentos mais puros. Márcio está quase irreconhecível, abatido, a barba cobre quase todo o rosto e os cabelos lhe dão um aspecto sem vida. Por um segundo lembro-me dele dizer que eu era a sua vida, pelo visto uma vida de merda.
Mesmo sendo mais alto do que eu, ele parece pequeno e devastado, não é mais um homem, é o resto do que um dia já foi.
Pérola: Quero você longe do meu filho, ele não é seu. Nunca será. Saia! - procurei não me exaltar, mantendo a voz baixa, mas grito com os olhos e com a alma. Márcio não discute e simplesmente sai arrastando com ele toda a sua angústia e vergonha. Cabeça baixa, olhar sofrido, rosto molhado e aura negra, a imagem da destruição. Por poucos segundos senti pena do seu suplício, só por alguns segundos, ao olhar para o meu filho, a raiva, a dor e a mágoa voltam com toda a força e meu pequeno parece sentir minha dor. De repente ele começou a se agitar e seu choro era de dor. Médicos e enfermeiras rodearam seu leito e foi quando me dei conta que Márcio estava do meu lado já aflito pedindo que ajudassem Enzo. Sua dor transbordava dos olhos. - Deixa eu pegá-lo nos braços. - olhei suplicante para o médico que prontamente deu a autorização. Com cuidado, porque vários fios estavam conectados ao seu pequeno corpo eu o pegue. Pensei que talvez sentindo a minha pele contra a sua ele fosse se acalmar, mas meu menino chorava em desespero.
Médico: Pai? - ira me consumiu ouvindo aquela pequena palavra. - Pegue o bebê você.
Pérola: Não!
Valéria: Pérola, por favor... - estava me sentindo traída. Depois de tudo o que tinha passado. De toda dor até aqui. Das noites que chorei até dormir e ele não estava lá... Agora ele estava aqui e era chamado de pai? - Pense em Enzo. - o choro de meu filho estava me atordoando e então consenti.
Senti quando sua pele tocou a minha. Foi um leve contado enquanto pegava Enzo de meus braços. Um misto de saudade, mágoa e ressentimento estavam me sufocando, mas tentei me concentrar em Enzo. Somente nele e de repente o silêncio. Um silêncio que alternadamente foi cortado pelo som de bips. Diante de meus olhos estava a cena que me dilacerou por dentro; Enzo reconheceu naquele homem o seu pai. Ficou quieto e como em câmera lenta sua mão tocou a barba de Márcio em um gesto de aceitação. Aquele gesto era o perdão que meu filho dava ao pai. Um perdão que eu me recusava a aceitar. Seu choro foi substituído pelo encantamento. Senti ciúmes ao ver a maneira como ele o olhava com atenção era como se já o buscasse mesmo sem saber.
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Aprendendo a Amar
Fiksi PenggemarAmar vai muito além de pele, de corpo, de toque. Amar é alma, espírito. Nem todo mundo conhece esse tipo de amor... Amor que o tempo não apaga... O vento não leva... Ninguém separa.