3 - Vindouro

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Então, chegando mais uma vez com att.

Desde criança Katsuki percebia incomodado que havia algo de errado consigo, a começar pela imagem que o espelho refletia não condizia com o que sentia, pois aquele reflexo lhe mostrava o corpo de uma garota quando na verdade ele obviamente não era...

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Desde criança Katsuki percebia incomodado que havia algo de errado consigo, a começar pela imagem que o espelho refletia não condizia com o que sentia, pois aquele reflexo lhe mostrava o corpo de uma garota quando na verdade ele obviamente não era uma.

Naquele tempo, quando ainda se dirigiam a si usando os pronomes e o nome de batismo com os quais não se identificava e que, de maneira alguma, o representavam em sua essência o deixavam frustrado a ponto de torná-lo uma criança agressiva, Katsuki acabava por dar vazão a frustração que sentia ao se envolver em brigas com outros meninos na ânsia de ser reconhecido como um deles.

Por sorte ainda era possível passar despercebido quanto ao seu gênero de nascença se andasse com roupas masculinas, sem acessórios e mantivesse o cabelo curto, algo que tinha providenciado com as próprias mãos e que despertou a fúria materna e trouxe lágrimas aos olhos do pai que pranteou o novo visual de sua princesinha, um apelido que invocava constrangimento e raiva em Katsuki tão logo ele pode compreender que não lhe fazia jus e passou a rebater com veemência.

Seria inocência dizer que seus pais não percebiam os indícios, chocando-se contra a sua realidade idealizada pronta a rechaçá-la em mil estilhaços, mas preferiram ignorar tranquilizando-se ao afirmar que era apenas uma fase e logo passaria.

— Não fica bonito uma mocinha se sentar desse jeito. — os adultos teimavam em repreender-lhe, ao que ela passou a dedicar um olhar de mofa a medida que foi crescendo.

— A minha filha era meio moleque assim também, Masaru e hoje é uma verdadeira princesa. Vai passar, pode crer.

Talvez passasse, e por certo tempo o próprio Katsuki tentou ser o que "deveria" ser, tentando se encaixar em no padrão esperado, agindo, falando e se comportando como o figurino mandava, até se dar conta de que simplesmente não conseguiria. Não importasse como visse ou o que os demais falassem, ele era um menino e essa certeza com o tempo apenas se enraizou em seu âmago.

Fatidicamente a temida/ansiada puberdade chegou e com ela as dificuldades aumentaram em se sentir aceito como queria. Os hormônios passaram a delinear em si as curvas e formatos de um corpo feminino que ele tentou ocultar ao máximo com roupas mais folgadas, detestando quando se dirigiam a si como se fosse uma garota, ou mexendo consigo com piadinhas e gracejos de cunho pejorativo ou sexual, os famigerados e infames flertes. Deve ter obliterado, ou ao menos tentado, a cara de pelo menos uns trinta sujeitos.

Foi observando o comportamento arredio e descontente do filho depois de anos de tentativas infrutíferas de manipulação, censura e descrédito pautado por uma convivência familiar conturbada e várias tentativas de fuga que os pais enfim decidiram resignar-se e chamá-lo para uma conversa no intuito de entenderem seus motivos e posicionamento.

— Tá tudo errado nessa porra! — revelou fatigado em meio as lágrimas — Eu não sou o que o meu corpo mostra, mãe, essa imagem não representa o verdadeiro eu... sei que pode parecer estranho e impossível, ou talvez uma loucura ou fase, mas não é! Eu nunca me senti confortável em ter que aceitar essa maneira errada como me veem e chamam, me machuca, dói por dentro... por favor,entendam... eu não sou um monstro, nem uma pessoa doente, nem quero apenas chamar atenção... eu... só quero ser livre, poder ser eu de verdade... — sentou-se trêmulo quando o choro bloqueou sua garganta impedindo-o de falar.

Nosso Segredo (Livro 1/Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora