6 - Aceitação

4.2K 554 401
                                    

Saudades? Não, certo rsrs nos vimos ontem, e eu ainda tenho que responder os comentários, mas não pude resistir a trazer outro capítulo porque vocês me deixaram tão emocionada ao comentar que eu simplesmente surtei. Obrigada pelo carinho ❤️

Mitsuki sempre fugiu dos estereótipos do seu gênero

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Mitsuki sempre fugiu dos estereótipos do seu gênero. Sempre foi meio irritada e indelicada demais para ser considerada uma donzela, bebia em excesso e farreava sem se importunar com regras ou o que os outros poderiam dizer a seu respeito. Aos dezoito anos era uma mulher bem resolvida, com os cabelos curtos em um ato de rebeldia, de fios desorganizados que mostravam ao mundo que naquele corpo residia uma alma independente.

E como toda jovem bem resolvida, ser mãe não estava em seus planos, no entanto foi justamente o que o destino reservou a si depois de uma noite de bebedeira, escolhendo-a como a felizarda da vez. Sorte ter sido com o sujeito mais pacato e tranquilo do universo.

A aceitação daquele fato foi um caminho tortuoso, mas ela seguiu em frente, casando-se com Masaru. Quanto ao que viria, se seria uma menina ou menino, não se importava, acreditando não ser um bom sinal preferir um gênero em detrimento do outro.

Então ao final dos nove meses ambos foram presenteados com uma garotinha a quem Masaru orgulhosamente nomeou Naomi enquanto chorava feliz por ter conseguido ter sua tão ansiada princesinha, enchendo-a de mimos, presentes e carinho desde sempre. Mitsuki se resignou, satisfeita por tudo na sua vida estar se encaminhando a despeito do início conturbado.

No entanto havia algo de diferente em Naomi que Mitsuki não conseguia decifrar, uma sensação que a deixava em alerta, seu sexto sentido materno. Ao passo que crescia, a pequena ia se distanciando do mundo ao qual deveria pertencer, sempre desgostosa de ter que se vestir como uma garota, repudiando todos os brinquedos do universo feminino, e quanto maior se tornava, mais e mais insatisfeita ficava, ao ponto de pegar as roupas dos primos para poder brincar na rua e cortar os cabelos, insistindo em nunca mais deixá-los crescer. Quem a visse aos dez anos facilmente a confundiria com um garoto.

Então, junto a adolescência vieram as crises cada vez piores. Naomi nunca foi uma menina de alma branda, pelo contrário, era agitada, nervosa e decidida como a mãe, e se antes já se impunha quanto a necessidade de usar roupas de garota, questionando e se negando veementemente a necessidade - chegando a surtos de rasgar seus vestidos e saias -, agora se posicionava com mais furor, escondendo seu corpo com o uso de moletons folgados, estressando-se com os seios que embora pequenos, começavam a ganhar volume e chorando irritada a cada menstruação. As brigas eram frequentes e cada vez mais desgastantes. Mitsuki nunca fizera questão do gênero, mas se havia tido uma filha ela ao menos deveria se comportar e vestir como uma.

A revelação do que ela chamava de "sua verdadeira identidade de gênero" atingiu Mistuki em cheio, como se o universo, o mesmo que a premiara com uma gestação precoce, houvesse lhe dado uma rasteira. Ela não conseguia compreender, processar ou mesmo aceitar o que por anos chamou de "carma". Somente depois de muitos embates, com o marido e a filha, resolveu enfim tentar.

Nosso Segredo (Livro 1/Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora