capítulo 1

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Eu esfreguei os olhos e as lágrimas que teimavam em se acumular ali desceram por meu rosto já inchado de tanto chorar. Com os cotovelos apoiados na mesa da cozinha, enfiei o rosto nas mãos e assim fiquei, quieta, esperando que um milagre acontecesse e eu me livrasse de todos aqueles problemas. Mas eu sabia que nada seria tão fácil assim.

Meu balcão estava repleto de faturas,contas de casa e várias outras coisas para serem feitas..

Mais uma manhã se iniciava e eu já me desesperava sem saber o que fazer com aquela vida penosa que eu levava há um tempo longo demais. Os problemas só se acumulavam e eu rezava ardentemente para que algo de bom ocorresse e alguma solução aparecesse. Mas meu tempo se esgotava e tudo piorava. Tentei me acalmar. Tudo ali dependia de mim e eu não podia me entregar à exaustão.
Precisava pensar e encontrar uma solução. O meu prazo se esgotava rapidamente.

Assustei-me quando bateram na porta e ergui a cabeça, temerosa. Às sete horas da manhã, aquilo devia significar mais problemas. Rapidamente pensei no agiota que vinha aumentando suas ameaças e nas pessoas que eu devia e que poderiam estar vindo mais uma vez cobrar, inclusive o dono daquela casa. Eu estava com quase três meses de aluguel atrasado e ele vinha avisando que nos jogaria na rua.

- Claryyy!– Chamou-me uma forte voz de mulher e eu relaxei um pouco. Era  Isabelly, minha vizinha e melhor amiga. A pessoa que mais me ajudava no mundo e em quem eu mais confiava.

Sequei bem o rosto com as mãos, respirei fundo e me levantei, saindo da cozinha apertada e indo até a porta de vidro e ferro da sala. Tentei aparentar tranquilidade ao destrancar a porta, mas assim que me viu, percebeu o meu estado e me abraçou com compaixão.

- Ei..estou aqui lembra? Não chora por favor..

- Não estou... Acabei de acordar só isso..é.. entra

- Como vão as coisas?

- Bem. – Dei de ombros, trancando novamente a porta depois que ela entrou.

- Já tomou café?

- Ainda não. – Não disse que o pó de café já havia acabado há dias. – Sente-se um pouco.

- Vim tomar café com você. – Izzy sorriu e mostrou a sacola de plástico que trazia em uma das mãos. Senti um misto de vergonha e agradecimento. Sem que eu pudesse impedir, lágrimas vieram aos meus olhos já vermelhos, mas eu disfarcei, impedindo que elas rolassem.

- Você não devia gastar desse jeito com a gente iz.

- Deixe de besteira. Aqui só tem um pó de café, um leite, algumas panquecas,mel, geleia,torradas e ovos e bacon. Eu não ia me convidar sem trazer nada, não é?

- Não sei como um dia vou poder agradecer tudo o que você faz por mim.

Isabelly sabia dos problemas que me desesperavam. E sempre dava um jeito de aliviar o meu fardo.

– Vem..vamos fazer nosso café..

- Como estão as coisas? – Ela se sentou no banquinho em volta da mesa.

- Tudo na mesma.

Enchi a caneca com água e pus no fogão velho para ferver, rezando para que o gás durasse bastante e não acabasse, embora eu soubesse que isso devia estar prestes a acontecer. Resolvi não me preocupar com aquilo, pois só ficaria com mais um problema sem solução.

- E a nossa princesa?

- Está dormindo. – Sem querer sorri, ao falar de minha filhinha de quase três anos de idade.

Aproximei-me da mesa e olhei para as coisas que izzy trouxera e espalhara sobre a mesa. Controlei-me para não chorar ao ver a caixinha de leite.

– Obrigada iz.

chantagem -CLACE Onde histórias criam vida. Descubra agora