Caçada aos traidores - 02

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Klaus e seus convidados estavam á horas discutindo sobre certas questões dentro do salão de reuniões, enquanto Kerolaine e Eliaquim faziam guarda do outro lado. Os dois entreolhavam-se de vez em quando e mesmo que quisessem, não podiam conversar, pois muitos soldados e servos andavam pelos corredores do Palácio.

Eliaquim olhou para todos os lados e quando ninguém mais andava por alí, voltou a atenção para sua amada, sussurrando algumas palavras.

- Será hoje. As águias nos esperam na última floresta, que dá para o deserto. Se nós fizemos tudo certo, não seremos pegos.

Aquelas palavras não soaram muito bem para Kerolaine. Um medo súbito tomou conta de seu coração, temeu que o pior pudesse acontecer se fossem pegos e levados sob sentença até Klaus. No entanto, sua vontade de fugir daquele lugar era maior, e foi por esse motivo que ela preparou tudo. Comprou uma casa mais afastada da capital, para seu pai e seu irmão, os instruiu para que mudassem de nome e não andassem por um tempo pelas ruas da cidade.

O lugar onde encontrava-se a porta do salão, era um enorme pátio, nele haviam muitas colunas que sustentavam o gigantesco teto, e não haviam paredes, a não ser a que abrigava a porta do salão de reuniões e a porta da entrada para o pátio. Então, o lugar era iluminado pelos raios de sol e podia-se admirar a visão que abrangia uma boa parte do Império de Sol nascente.

No momento em que os dois conversavam, uma figura que passava desapercebida pelo labirinto de colunas, ouviu de relance a conversa dos dois e escondeu-se atrás de um dos pilares. Era um homem alto e magro, trajando armadura de guarda, ele segurava um elmo de ouro e com a outra mão, uma lança. Gugh estava em seu horário de descanso e caminhava até o casal, para lhes avisar que o expediente dos dois estava prestes a acabar. Porém, ao se aproximar sorrateiramente, percebeu que seu grande amor trocava cochichos com o melhor guerreiro de Klaus, fazendo-o querer ouvir a conversa e espiona-los, detrás das colunas.

Finalmente, a relação do casal havia sido descoberta, Gugh tomou conhecimento sobre o plano de fuga dos dois. O guarda magricelo não conseguia e nem queria acreditar que o amor de sua vida desejava fugir com um traste daqueles. Desta forma, seus pensamentos tornaram-se escuros como as trevas que há muito tempo engolfaram os reinos de Quarttions.

- Continuem a sonhar alto, enquanto podem. Pois assim que eu puder provar para meu senhor, a conspiração que tramam contra ele, será o fim de vocês. - Pensou Gugh, consigo mesmo.

O tempo de guarda dos dois havia terminado, e logo, Gugh e seu companheiro dorminhoco, Dugh, vieram para os substituir. O homem magricelo de olhos amarelados olhou profundamente pela última vez, para a sua amada. Aquele olhar trocado lentamente pelos dois, foi o suficiente para que Kerolaine tivesse um mal pressentimento.

Eliaquim se dispersou para o dormitório onde passou parte de sua vida, e ao entrar nele, muitas lembranças o agarraram, deixando-o atônito, olhando fixamente para seu colchão.
Um pequeno garoto corria pelos corredores, brincando com sua espada de madeira e uma longa capa vermelha enrolada em seu pescoço. Ele caçava trolls e queria salvar uma princesa, que dizia ter sido sequestrada. Correu rapidamente até que se deparou com o seu ídolo, o lendário matador de goblins, que destruiu a tirania do rei drunílirir em uma das inúmeras cavernas das Montanhas Brancas.

- Sir... Eliaquim! - O garoto abriu um enorme sorriso, porém, o guerreiro não lhe respondeu, permanecendo em seu estado de inércia. O pequeno garoto de cabelos espetados e ruivos puxou suavemente a capa azulada do seu ídolo, e só assim o rapaz voltou sua atenção para o menino.

- Hey, vejam só, se não é o pequeno Keron, filho de Klaus. Como você cresceu garoto. - disse Eliaquim, bagunçando os cabelos da criança.

- Eu estava brincando por aqui e vi o senhor parado, na frente do dormitório. O senhor não conseguiu chegar na sua cama e dormiu em pé, não foi?

- Hahahahaha! Essa foi boa. Na verdade, garoto... Eu estava refletindo sobre o tempo. Ele nos dá coisas e também nos tira. A passagem do tempo muda não só o mundo ao nosso redor, como também nossos pensamentos e o interior de nossos corações.

- Isso é... Muito lindo, senhor. Eu queria ser um guerreiro forte e sábio desse jeito. - Disse Keron, fascinado com a sabedoria de seu ídolo. Ele certamente nunca se esqueceria daquelas palavras.

- Que os deuses te livrem desse destino, garoto. Eu desejo que você viva a vida que uma criança  deve realmente ter. Neste lugar, não há nada além de sofrimento e maldade.

- Falando desse jeito, parece até que está se despendido, senhor Eliaquim.

- Você tem razão, porém, toda conversa pode ser a última, nós não sabemos que futuro o destino nos reserva. - Em seguida o guerreiro abriu um sorriso carinhoso e os dois se despediram.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora