O retorno dos mortos - 01

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Naquela noite, o grupo de escolhidos assinou seus nomes no livro dos guardiões. A partir daquele momento, suas vidas foram marcadas para sempre, pela vontade dos deuses.

A noite deu lugar à uma manhã nublada, de nuvens densas e cinzas. O frio penetrante foi o culpado pela lentidão com que a caravana seguia viagem, pois os ossos dos peregrinos pareciam congelar a cada passo que davam.

Naquela altura, já haviam alcançado o início dos Pântanos Sombrios, a última etapa restante para alcançarem o reino de Ürdis. Aquele lugar era conhecido por muitos viajantes, devido ao alto número de pessoas que desapareceram naquelas águas nojentas, esverdeadas.

A caravana precisou se dividir em dois grupos; Um deles teria de atravessar o pântano nadando, apesar dos perigos escondidos naquelas águas misteriosas. O outro deveria contornar a floresta e encontrar um caminho de solo firme, para que os cavalos e os pôneis, pudessem chegar em Fízladrin.

Hugo aproximou-se do grupo de novos guardiões, com o semblante preocupado. O pequeno varíg que era um dos três paladinos, queria poupar ao máximo a vida de suas crianças. Mas Sarah e Jimmy sabiam se cuidar muito bem, e concordaram em seguir o grupo que atravessaria o pântano.

- Sei que estou sendo caçado, tio. Mas se vocês acham que vou me esconder diante do perigo, estão errados. Vou lutar até o fim, e com a bênção dos deuses, protegerei aqueles que precisam de ajuda. - disse o terúlyan. Aquelas palavras sinceras, encheram o coração de Hugo com orgulho. Sírus voltou-se para Fülgh, o animal ainda estava em sua forma pequena, voando sobre os ombros de Jimmy.

- Por que não nos ajuda a atravessar, senhor dragão?

- Sinto que há um grande bloqueio de poder aqui, por isso não posso retornar a minha verdadeira forma. Você também deve estar sentindo, senhor karaki.

- Era para ser uma piada? - Sírus perguntou. Por um breve momento todos riram da incapacidade do pequeno karaki de usar magia. Mas as preocupações eram maiores. Então prepararam-se para partir nas duas direções. Nôah partiu com os cavalos, junto de Kerolaine, Morlun, Hugo e Sírus, deixando Jimmy ser acompanhado por Shall, Sarah e o resto dos peregrinos na travessia do gigantesco Pântano Sombrio.

Os guerreiros foram os primeiros a afundar na água verde-escura.

- É preciso ter coragem, crianças. Se quiserem, podem esperar até que eu atravesse... - Shall percebeu que falava sozinho, pois Sarah e Jimmy já nadavam ao longe. O caçador os seguia, indo logo atrás deles, nadando cautelosamente.

Mal sabiam eles, que segredos aquele pântano escondia. Dentre eles, uma fera tão antiga, quanto a criação dos primeiros terúlyans. Imagine um cruzamento entre uma cobra e um polvo, agora adicione centenas de dentes semelhantes a espadas em sua boca. Por fim, complete tudo com uma extensão corporal, de aproximadamente oito metros, e um diâmetro de cinco metros.

Um grito desesperador quebrou o silêncio entre os nadadores. Um dos guerreiros foi puxado por algo, para baixo das águas viscosas. Depois outro, e mais um, em seguida mais dois.

- Sarah, Jimmy, subam nas árvores! - Gritou Shall. Ele referia-se aos troncos enormes que surgiam desde o fundo do pântano até a superfície. Neles não existiam folhagem, somente galhos secos. O restante dos guerreiros fez o mesmo.

Eis que houveram movimentos bruscos nas águas, criando enormes ondulações. Os presentes temeram pelo pior.

- O que é isso? - Gritou Sarah.

- Talvez seja um movimento nas placas tectônicas. - disse um dos guerreiros.

- Antes fosse. - disse Shall, sabendo do que se tratava aquilo. Ele fechou seus olhos cinzentos e recitou palavras esquisitas. Jimmy mantinha-se de pé, em um galho largo e grosso, que conseguia suportar seu peso sem quebrar. Com a sua mão livre, sacou a espada dos paladinos e preparou-se para enfrentar a fera.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora