Quarttions - O Último Terúlyan

Reencontros e despedidas - 04

Os arqueiros apontaram para as duas aves gigantes que vinham rasgando as nuvens do céu negro.

- Dragão! - Gritou um soldado. O desespero se alastrou pela cidadela. Moradores em pânico tropeçaram uns nos outros, correndo para suas casas e escondendo-se em fortalezas.

Os três guardiões ficaram lado a lado. Hugo sacou sua nova espada; Uma lâmina prateada longa, acompanhada de escritas estranhas, em um idioma muito antigo. Morlun vergou seus braços e estendeu as mãos em direção aos animais voadores, enquanto um círculo em chamas envolvia seus dedos. Shall retirou de um dos bolsos do seu sobretudo, uma faca curva, de cabo cinza e lâmina negra. Recitou umas palavras inaudíveis e a lâmina tomou a forma de uma grande foice, tornando-se uma arma maior que a altura de seu portador.

- Não atirem! - gritou Jimmy, forçando sua garganta. Hugo reconheceu a voz no mesmo instante e ordenou ao exército para que baixassem as armas.

- Parece que nossas orações foram atendidas. - disse o varíg guardião, enquanto corria até onde Fülgh e Gaugh haviam pousado, com toda a sua velocidade. Seus olhos se encheram de lágrimas após ver suas duas crianças a salvo.
Sarah e jimmy saltaram das costas de Fülgh e correram na direção de Hugo, abraçando-o em seguida com todas as suas forças e assim permaneceram por um tempo, sem dizer nada, deixando todas as suas emoções falarem por eles. Sírus e Kerolaine vieram logo atrás e cumprimentaram os guardiões, cordialmente.

- Perdoem-me pela minha arrogância, peço que compreendam nosso cansaço, estamos exaustos e famintos. - disse Sírus. E todos foram levados para dentro da torre de imediato. Fülgh encolheu, de modo que parecia um gato voador, aos ombros de Jimmy. Ele podia o fazer, pois este era apenas um de seus diversos poderes. Lady Gaugh se despediu de Kerolaine e disse-lhe que quando precisasse de sua ajuda, ela viria. Os quatro companheiros comeram como se tivessem acabado de sair de uma masmorra, o que para Sarah era de fato, verdade. Ganharam roupas novas e limpas e também tomaram um banho revigorante. Dessa forma, reuniram-se com os três guardiões depois de um tempo, no grande salão. Jimmy e Sarah estavam sentados próximos de Hugo. Sírus e Kerolaine também encontravam-se lado a lado. Morlun e Shall estavam sentados, ambos em cada ponta da grande mesa. Sem muita conversa, foi revelado a Jimmy, os planos de Séfratus e o pequeno terúlyan também ficou sabendo que deveria partir para a cidade dos voullys, logo mais.

Jimmy contou a todos como soube com antecedência de que era o último terúlyan. Seu tio confirmou toda a história, deixando Jimmy e Sarah abalados. Mas aquele não era um momento para tristeza, pois os próximos passos que teriam de tomar naquele noite, deveriam ser rápidos e eficazes.

- Em hipótese alguma, podemos permitir que o último terúlyan seja capturado pelo inimigo. Caso contrário, este será o fim do mundo que conhecemos. Tríbax não pode retornar, de jeito algum! - exclamou Shall. O rosto de todos ficou sério.

- Sinto muito por você, garoto. Embora eu soubesse que isso poderia acontecer, quis livrar você desse fardo, adiando a revelação que mudaria sua vida. Mas nós estamos do seu lado e você não estará sozinho. Se eu precisar morrer para lhe manter a salvo, eu o farei. - disse Hugo com firmeza.

- Eu também. - começou Morlun. - Sei que não nos conhecemos da melhor maneira e não me mostrei ser um homem confiável. Tive de fazer muitas coisas ruins para levar a vida em frente e não me orgulho nada disso. No entanto, agora que sei quem você é, e conhecendo suas habilidades e qualidades, posso dizer que darei minha vida se for preciso, para não deixar que Séfratus ou os seus servos lhe peguem.

Jimmy sorriu melancolicamente. Não desejava que isso fosse preciso, e também não guardava rancor de Morlun.

- De forma similar, não ficarei para trás. Vou acompanhá-lo aonde for e darei o máximo de auxílio que puder. - disse Shall.

Sírus seguiria seu amigo até a fortaleza do inimigo, se ele fosse até lá. E além de tudo, ele havia se afeiçoado ao pequeno terúlyan. Estes eram motivos suficientes para permanecer ao seu lado.

- Conte comigo, criança! - sorriu o karaki.

- Está certo, então. Iremos para Sêffas agora mesmo. Lá, nós daremos início a um novo treinamento, meu filho. - disse Hugo, voltando sua atenção para Jimmy, que estava com os olhos marejados de lágrimas, tamanha era sua emoção, ao ver que tantos zelavam pela sua vida, embora soubesse que as coisas não se tratassem exatamente de seu bem estar.

Hugo saiu de imediato, e dirigiu-se a um dos sábios da cidadela, que chamava-se Kalil. Pediu para que o ancião, de longas barbas brancas, enviasse cartas para todas as cidades amigas, pedindo reforço e avisando-os sobre os planos de Séfratus

- Nunca soube de um inimigo que conseguiu derrubar a fortaleza de Ürdis. Mas como esta é sua vontade, enviarei todos os mensageiros que puder, desde animais, humanos e plantas. - disse Kalil.

- Agradeço muito, velho amigo. - respondeu Hugo.

Com tudo pronto para a viajem, os guardiões, os quatro companheiros e o pequeno exército, rumaram para Sêffas, em direção á Fizladrín, atravessado vales e enormes florestas.

Em Fidélis, Nôah esperava impaciente o retorno do homem misterioso que lhe escoltaria até Sêffas. Se eu lembrasse o caminho iria sozinho.

- Oh, Fizladrín, que suas bênçãos caiam sobre mim, e tragam aquele homem de volta o quanto antes. - pediu o jovem voully de cabelos esverdeados em oração, para o deus de sua raça. Para sua surpresa, quando se pôs a olhar através da janela do quarto de madeira da hospedaria, que dava de frente para o riacho, avistou uma extensa caravana de andarilhos aproximando-se do recinto. Com eles, vinha Shall, montado em um cavalo esbelto e negro.

- Desça logo daí, e nos acompanhe. - gritou o homem de sobretudo. Nôah disparou até onde ele estava. Assustando os inquilinos com sua euforia. O dono do Descanso do peregrino foi até a entrada, para ver o que estava acontecendo e viu Nôah subir no cavalo de Shall.

- Obrigado por tudo, senhor! Até a vista! - gritou o jovem voully para ele.

- O que um dragão faz acompanhando aquela criança? Perguntou assustado.

- Longa história. - respondeu o caçador.

- Pois conte sem pressa. - começou Morlun.

- A viajem também é longa. - gargalhou o velho de cartola do rosto enraivecido de seu companheiro.