Reencontros e despedidas - 05

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Durante a viagem, a caravana desbravou muitos lugares, como florestas sinistras, pantanos que abrigavam criaturas esquisitas, montanhas pré-históricas e passaram por muitos vilarejos, lar de camponeses que os encaravam com olhares curiosos.

No vigésimo dia da viagem para Fízladrin, a caravana tivera acampado em uma clareira, em uma das florestas de Tír. Jimmy e companheiros estavam curiosos a respeito de um dos guardiões da ordem dos paladinos. Sírus havia apostado com Kerolaine, a respeito da origem de Shall. Alguns achavam que ele trabalhava para deuses, outros para demônios, e assim sucessivamente.

Um dos anciãos que seguiu a caravana, desde a cidadela de Krãn, se aproximou da turma de curiosos. Estes eram: Sarah, Jimmy, Kerolaine e Sírus. Estavam sentados ao redor de uma pequena fogueira feita pelo dragão Fülgh, que iluminava timidamente os rostos dos presentes. O ancião Humbert, pigarreou, chamando a atenção do grupo, ele sabia que muitos estavam entediados, a esperar pela autorização de Hugo, para seguir viagem o quanto antes, por isso resolveu entusiasmado, contar uma das histórias que narrava frequentemente para os jovens de Krãn.

- Vocês dizem coisas que não sabem. - O falatório se dissipou rapidamente e todos voltaram a atenção para Humbert, com olhos atentos.

- Shall, o caçador... É assim que o conhecem, não é? - começou o ancião. - No entanto, para que o conheçam de verdade, é preciso entender pelo o que ele passou há muitos anos atrás.

- Se você conhece o passado dele, conte-nos a história verdadeira, senhor. - disse Jimmy, com um brilho em seu olhar.
 
- São poucos que conhecem a história toda, meus jovens. No entanto, para sua satisfação, eu a conheço. - respondeu o ancião Humbert com um olhar sinistro.

- Essa é a lenda do homem sem nome.
Chovia como nunca antes, nuvens densas escondiam as outrora brilhantes estrelas do céu noturno de Outubro. O barulho da chuva torrencial, misturada ao som de relâmpagos que ribombavam no alto dos céus, abafava o choro de um recém-nascido, de olhos cinzentos e cabelos esbranquiçados como de um ancião. Sua mãe tivera lhe dado à luz dentro de uma caverna com cheiro de limo, escondida por uma vasta e antiga floresta de árvores pré-históricas, que antigamente eram consideradas sagradas. Horas antes ela fugia de um grupo de assassinos, que foram enviados para mata-la, a mando de Gariel VI, o governante de Fidélis e pai de seu filho.

Filho este que não estava nos planos de Gariel, a final de contas, não poderia um nobre de alto nível como ele, ter um herdeiro vindo de uma das suas escravas. Era contra a lei da igreja dos Zaníris e um pecado sem perdão aos olhos dos seus deuses.

Foi sabendo disso que a jovem escrava fugiu dos domínios de Gariel, para longe, para a floresta perdida, lar de um ser que há muito tivera sido esquecido pelos mortais. Um ser do qual a jovem Felícia jamais se esqueceria.

Na caverna, ela acalentava seu filho e lhe dava de mamar, mas sua agonia era horrível por saber que mercenários ainda a caçavam sem parar, floresta a dentro. Assim como a criancinha, ela chorou sem parar, até que um ar gélido veio dos confins da caverna, onde a luz fraca da lua não alcançava. Sons de passos arrastados tomaram o silêncio da noite e da caverna, uma respiração pesada ficava cada vez mais alta, a medida que os passos se aproximavam, e o coração de Felícia, que estava sentada com seu filho á beira da caverna, disparava, parecia que ele pularia pela sua boca a qualquer momento.

O fundo da caverna era iluminado lentamente por algo que parecia ser uma tocha, e uma sombra que lembrava um dragão deformado, ficava cada vez mais alta nas paredes de pedra. Os olhos esbugalhados da jovem complementavam o cenário de terror, junto de sua face que expressava um medo agonizante.

Aproximou-se então, uma figura alta, envolta em trapos, que tinha o rosto coberto por um largo capuz. Sua barba longa e branca cobria parte do seu torso e seus enormes cabelos grisalhos saltavam para fora do capuz. A figura sinistra apoiava-se em um cajado branco imundo, enfeitado por um crânio cadavérico. Na escuridão que nem mesmo a luz de seu cajado conseguia extinguir, seus olhos vermelhos eram as únicas coisas que podia-se enxergar em seu rosto sombrio, eles pareciam penetrar a alma de Felícia.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora