Quarttions - O Último Terúlyan

Reencontros e despedidas - 03

- Há algo errado. - disse Fülgh para Jimmy.

- Não mude de assunto agora. Como posso ser eu o último terúlyan? - perguntou o jovem. Fülgh deu as costas e olhou em direção ao abismo da caverna atrás dele.

- Vem vindo alguém, esconda-se garoto. - Apesar de não ter acreditado de fato, Jimmy obedeceu.

O dragão viu uma luz tênue se aproximar, e ouviu uma respiração ofegante, seguida de muitos passos desesperados. Inflou seu pulmão e preparou um ataque, concentrando todo o fogo que podia em suas mandíbulas.

Então avistou uma varíg, que gritou desesperada ao vê-lo.

Sarah havia ficado um tanto aliviada de poder ver as florestas verdes atrás do dragão, embora tivesse saído da frigideira para o fogo. Ainda parada, feita estátua na frente do dragão, ela olhou para trás e viu que uma multidão de monstros se aproximava.

Jimmy pôs metade de seu rosto sobre a entrada para ver o que estava acontecendo, e a visão não podia ser melhor. Além de surpreso e alegre, também ficou assustado.

- Sarah! Como foi parar aí? - gritou para sua prima. A jovem varíg quase chorou por ver novamente aqueles brilhantes olhos azuis de seu primo. O dragão percebeu que se tratava de uma conhecida de Jimmy e saltou para trás da jovem, cuspindo uma rajada de fogo nos monstros que vinham tropeçando uns nos outros. Logo todos viraram pó. Sarah correu para abraçar Jimmy, mas deu de cara com a parede invisível, o que fez seu coração ser tomado pelo desespero.

Kerolaine e Sírus notaram o sumiço de Jimmy, mas pensaram que o pequeno estava apenas explorando a antiga cidade. A águia tivera se atrasado e não havia chegado, o que fez com que os dois seguissem o jovem de olhos brilhantes. Viram-no espiando a entrada de uma caverna. De longe não podiam ver o que se passava lá dentro, então chegaram perto da criança, ficando boquiabertos diante da situação.

- Pelas barbas de meu pai! Um dragão! - exclamou Sírus.

Sarah bateu incessantemente na barreira, com os punhos fechados.

- É inútil. - disse Fülgh. Sarah se espantou ao ouvir a voz grave do dragão.

- Você me salvou. - retorquiu Sarah.

- Por quê?

- Os amigos de meu companheiro, tambem são meus amigos. - afirmou Fülgh.

- Espera. Você é amigo de um dragão, Jimmy? Perguntou dirigindo seu olhar ao seu primo.

- Não exatamente. Parece que estamos ligados espiritualmente. - respondeu Jimmy, cheio de dúvidas. Nesse momento ouviram muitas vozes e gritos, que vinham do abismo da caverna. Eram mais monstros. Sarah se lembrou finalmente da pedra que sua amiga havia lhe dado. Ela segurou em sua mão, mas antes que escolhesse escapar para o outro lado, ela olhou para o dragão e deduziu que a criatura devia estar alí a bastante tempo.

- Você vem? - perguntou.

- Isso depende da vontade de Jimmy. - disse o dragão.

- Parece que o que você diz, faz sentido. Venham logo para cá! - gritou o pequeno terúlyan. Sarah segurou firme a pedra reluzente com uma mão, com a outra ela tocou timidamente no dragão e fechou os olhos, desejando que saltassem para o outro lado da barreira. E num piscar olhos, ambos foram teletransportados para a floresta, aparecendo ao lado de Jimmy, Kerolaine e Sírus. A pedra se transformou em pó, caindo das mãos da pequena varíg.

Sarah abraçou Jimmy com toda a sua vontade. Jimmy sentiu toda a dor que o coração dela deixou transbordar. Sírus e Kerolaine sentiram medo do monstro a sua volta e afastaram-se.

- É normal sentirem medo, embora não precisem se preocupar. Pois só farei mal àquele que ameaçar a vida do meu companheiro. - disse Fülgh com a voz suave.

Nos céus, um grunhido ecoou. A grande águia tivera retornado, e em seguida, pousou perto dos que se encontravam na floresta.

- Quanto tempo, Fülgh. - disse a Águia fazendo reverência para o réptil.

- Sabia que a veria de novo, lady Gaugh. Que suas asas nunca se cansem de sobrevoar sobre os céus! - respondeu Fülgh.

- E que o fogo que percorre seu interior jamais se apague. - retorquiu Gaugh.

- Agora devemos partir. - disse Kerolaine olhando para os monstros que haviam acabado de chegar á barreira, e tentavam a todo custo atravessá-la. Sarah e Jimmy montaram no dragão que se ofereceu para os levar, Kerolaine e Sírus foram com a águia. Ambos os seres voadores alçaram vôo, deixando a floresta de Truce para trás.

Séfratus finalmente apareceu na entrada da caverna e olhou para cima, onde viu a imagem de Jimmy. O jovem olhou para trás e seus olhos encontraram os do lorde. Pela primeira vez, Séfratus contemplou de longe, um troféu não conquistado. Agora ele sabia quem estava procurando e não descansaria de dia, nem de noite, enquanto não conseguisse capturar o último terúlyan!

Lado a lado, voavam antigos amigos. Gaugh e Fülgh. Conheceram-se há muito tempo, quando o mundo ainda era jovem. Durante muitas batalhas, eles se ajudaram e sobre muitos lugares sobrevoaram.

- Juntos, novamente. - disse Gaugh.

- O destino costuma me surpreender muito. Embora sentisse que nos encontraríamos cedo ou tarde. - replicou Fülgh.

Enquanto esteve fora, a águia soube em Válleriz, da partida de Morlun e Hugo, e soube também que a reunião dos guardiões aconteceria em breve, por isso resolveu comunicar os viajantes sobre tal informação.

- Sarah e eu iremos para Fidélis, então. Vocês dois podem decidir se irão conosco ou não! - gritou Jimmy, tentando sobrepor sua voz ao barulho do vento.

Sírus balançou a cabeça para cima e para baixo.

- Tenho de encontrar Morlun. O que significa que mais uma vez viajaremos juntos. - respondeu o Karaki de barbas e cabelos ruivos.

- Sinto que devo permanecer com vocês, mesmo não sabendo que futuro os espera. - gritou Kerolaine.

Desse modo, partiram. Sarah contou a Jimmy sobre Kimberly, disse que sem a ajuda dela, jamais teria escapado de Império Natural.

- Nunca nos esqueceremos dela, Sarah. Quando nossa jornada chegar ao fim, escreverei um livro, e o nome dessa nobre mulher estará nele. - disse Jimmy confortando Sarah.

Em em Fidélis, na cidadela de Krãn, os três guardiões preparavam-se para partir, em direção a império Natural. Seus cavalos os esperavam no celeiro, carregando alguns mantimentos, como comidas e roupas para a neve. Hugo foi o primeiro a sair da torre. Contemplou por um tempo, o lindo céu estrelado de outubro, pois sabia que nos dias seguintes, este clima teria se esvaído, dando lugar para muitas nuvens e chuvas de neve. Quando pensou em se dirigir para o celeiro, ouviu um grunhido alto, e avistou duas manchas escuras atravessarem a lua cheia. Chamou seus companheiros e alertou os soldados. Todos foram para o campo gramado, que rodeava a torre e se puseram em posição de ataque.