A reunião dos três - 03

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Mal sabia Nôah, de que seu salvador já estava a caminho. Seu sono pesado, uma hora se dissipou, dando lugar ao medo por estar desperto, ao redor de duas criaturas bisonhas.

Wárus e Dratinír esperavam famintos para atirar o corpo do voully azarado no caldeirão, e saborear sua carne rara e deliciosa. Ainda recordavam-se da última vez que ceiaram alimento parecido, próximo á Sêffas, quando trabalharam para um caçador de recompensas.
Isto ocorreu a centenas de anos atrás, eles precisavam encontrar três viajantes, que rumavam de Sol Nascente, para Fizladrín - o primeiro reino Voullyano.

Os três carregavam bolsas cheias de moedas caríssimas, como Jhíons e Rúnions. Isso se dava por conta de uma antiga dívida, que os humanos tinham com os Voullys. Se não pagassem logo, uma guerra seria travada por ambos os povos, entretanto, nem um dos lados ansiava por tal acontecimento.

Dessa forma, o décimo rei de Fizladrín, chamando Ürdis, enviou um de seus servos, para encontrar-se com os três viajantes paladinos na ponte dos mundos, que atravessava um enorme rio, divisor das terras Voullyanas e Humanas.

O servo do rei Ürdis, deveria entregar aos representantes dos humanos, a medalha da confiança, que ilustraria o símbolo da paz entre ambos os povos.

Aconteceu, então, que enquanto tal servo dos Voullys adentrou em uma floresta macabra e pouco confiável para se viajar, se deparou com duas criaturas já conhecidas pelos Voullys. Eram uma sub-raça de seu povo, apesar de nunca admitirem ter parentesco com aqueles seres imundos e tão diferentes deles.

Wárus e Dratinír sempre possuíram a capacidade de tomar posse do corpo de qualquer um, mas nunca pensaram grande, a ponto de se fazerem passar por reis, ou grandes guerreiros. Os irmãos usavam esse poder das formas mais levianas possíveis.

Mataram o pobre servo e tomaram seu corpo, depois disso, encontraram-se com os três paladinos na ponte, e lhes disseram que o acordo não seria feito alí, mas sim no palácio de Ürdis. O modo como falavam, cheios de persuasão e confiança, não fizeram os paladinos desconfiar de nada, então eles seguiram Wárus e Dratinír, que estavam transformados em um Voully, para dentro da floresta.

Alí, todos os três foram pegos de surpresa, por armadilhas e pacandas, que os levaram a morte. Os dois slinders, saquearam todas as moedas que puderam e fugiram para o leste, chegando em Cidade Nova.

Foi em um pequeno bar, chamado Chifre De alce, que encontraram Chall, o caçador de recompensas. Tinha uma aparência comum, de um homem qualquer, vestia um sobretudo de couro marrom, e um chapéu velho, que lhe escurecia o rosto cheio de cicatrizes. Carregava duas espadas em suas costas, e não tinha uma das pernas, no lugar, havia um apoio de madeira.

Ele havia lhes prometido um pagamento razoável.
O que significa, alimento e bebidas. Isso já estava de bom tamanho para os dois irmãos.

- Ainda acho que poderíamos ter passado a perna nele e ficado com todas aquelas moedas. Já imaginou, maninho, teríamos comida para sempre. - disse Wárus com uma expressão triste.

- Não diga besteiras, seu idiota! Aquele não era um homem comum. Sei das histórias que contam sobre ele. - Dratinír respondeu.

- Conte logo, não faça suspense. Odeio suspense! - replicou Wárus nervoso. Seu irmão gargalhou daquilo e prosseguiu.

- Pois então, - começou Dratinír - as histórias dizem que foi ele, quem batalhou contra o exército de Záyru, na guerra dos Pinheiros, sozinho, ainda por cima. E quando ele está em seu estado de fúria, como ocorreu naquele dia, uma aura sombria cobre seu corpo e ele se transforma numa espécie de entidade demoníaca. Dizem até mesmo, que ele foi até o submundo, roubar um artefato de Tríbax, e que foi assim que perdeu sua perna.

- Tsc. - Wárus desprezou a história - Conta outra. Com certeza ele deve ser só mais um humano, como qualquer outro de sua espécie.

- Bem, pense o que quiser. - Retorquiu Dratinír - Mas é isso o que dizem, e é o que tenho ouvido há muito tempo.

Enquanto discutiam sobre quem era o caçador de recompensas, Nôah, que prestava atenção a cada palavra das criaturas estranhas, tentava de maneiras insuscetíveis, desamarrar-se das cordas que lhe prendiam.

Aconteceu, então, em questão de segundos: Um vulto, brilhante como um trovão, passou por sobre Nôah, cortando-lhe suas amarras e nocauteando em seguida e de forma surpreendente os dois slinders.

O Jovem voully pensou primeiramente em fugir, sem agradecer a figura que estava de pés a sua frente, e correr em direção ao Sul, onde poderia pegar a estrada da cidade vizinha, que o levaria até Sêffas. Mas antes que pudesse agir, o homem misterioso lhe apontou a mão e paralisou seus movimentos, como se estivesse usando magia.

- Espere aí, rapaz. - disse enquanto ajeitava seu chapéu e esticava seu sobretudo de couro marrom-desgastado. Então voltou sua atenção para Wárus e Dratinír, que acabavam de acordar, sentindo fortes dores de cabeça.

- Da última vez, eu lhes disse que não deveriam abordar viajantes nessa floresta. Os Voullys costumam trilha-la para chegar em Hóde, a cidade vizinha. Lá, eles vendem seus itens mágicos e é desse jeito que a economia dessas terras se mantém. Por tanto, se vocês persistirem em matar esse povo, não só eles,  mas vocês também, perecerão. - Enquanto proferia tais palavras, o homem se dirigia na direção das criaturas, com uma autoridade assustadora, e a medida que se aproximava, parecia ficar cada vez maior, causando por tanto, um medo monstruoso nos dois irmãos.

- P-p-per-perdão, s-se-senhor. - gaguejou Dratinír, que estava agarrado ao seu irmão.

"Maldito seja! Estávamos tão perto de comer aquele verme." Pensou Wárus.

- Espero não ver mais vocês dois, nessas terras. - E estalou os dedos, liberando Nôah da paralisia. A essa altura, nem pensou em fugir, muito pelo contrário! Esperou para ver quais seriam os próximos passos do misterioso homem.

- Vamos, rapaz. O pagamento para lhe escoltar até Sêffas é grande, e não podemos demorar muito. - Naquele momento, quando virou-se para Nôah, o jovem voully percebeu que o homem não tinha uma das pernas, mas sim um apoio de madeira. No mesmo instante reconheceu a figura e um frio na barriga lhe deixou inquieto.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora