Os Terúlyans - 02

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Jimmy esforçava-se para dormir, mas devido a ansiedade e o cansaço, passou a ter sonhos conturbados, acordando vez ou outra na parte mais escura da madrugada. Em um de seus sonhos, o garoto estava em um lugar muito escuro, onde a única fonte de luz, eram dois olhos brilhantes e gigantes, de cor amarelo-queimado. Ouvia uma respiração pesada e sentia o calor do ar que soprava das narinas da criatura.

- Que-quem é você? - perguntou amedrontado.

- Como pode não saber quem sou? Nunca sentiu minha presença, quando sente-se preso, sem estar? Ou quando depois de alimentar-se continua faminto? Eu sou sua outra metade, jovem Terúlyan. Embora distantes, estamos sempre compartilhando nossas emoções um com o outro.

Jimmy escutava com atenção cada palavra da criatura misteriosa que era coberta pelas trevas e quando arranjou coragem para continuar a conversa, o monstro tinha desaparecido.

De repente, havia acordado, mas ainda era madrugada. Dormiu mais um pouco e depois de algumas horas, quando os raios de sol começaram a se Infiltrar pelas brechas no telhado e iluminarem seu rosto, ele abriu os olhos absurdamente azuis, esticou os braços e bocejou.

Enquanto vestia sua roupa, Sarah entrou em seu quarto, assustando-se por ver o garoto semi-nu. Suas bochechas coraram e ela cobriu seus olhos com a mão.

- Hey! Você deveria ter batido na porta antes de entrar! - disse Jimmy, envergonhado.

- E você acha que eu não sei?! Nós estamos atrasados! - ela tentou disfarçar o constrangimento.

- Eu já estava indo me vestir. - respondeu o garoto, terminando de amarrar sua calça, enquanto bocejava novamente.

Sarah o fitou intensamente com aqueles enormes olhos azuis-marinhos.

- Como sempre chegaremos atrasados! E por quê? Ora, porque o pirralho dorme tarde e perde o horário.

- Eu sei, me perdoa. Dê-me licença, preciso terminar de me vestir. - Ela bufou e saiu resmungando. O garoto de cabelos lisos e castanhos soltou um sorriso e andou em direção a janela, para abril-la e começar o dia.

Os raios de sol iluminavam todo o rancho, tornando as folhas nas copas das árvores, douradas como ouro. Os galos cantavam e os pássaros assoviavam em sincronia, como se fizessem parte de uma orquestra. As ovelhas berravam, e as vacas comiam o pasto.

O vento forte que soprava do leste, onde situavam-se cidades mais frias, como Sêffas, Montanhas brancas e Lago Fundo, balançava as vastas plantações de milho e trigo, que estendiam-se por milhares de metros quadrados, tornando o cenário em um lugar paradisíaco, onde qualquer aventureiro cansado, gostaria de pernoitar depois de um longo dia de caças ao tesouro e incríveis lutas contra feras místicas.

O jovem Jimmy sentia o frescor do ar puro que enchia seus pulmões e bagunçava seus finos cabelos castanhos, tranquilizando seu coração e trazendo paz ao seu espírito.

Ele olhou de volta para o seu quarto e percebeu que não o arrumava há dias; haviam livros e roupas jogados por todo os lados. Tirou uns minutos para arruma-lo e quando juntou do chão um livro de capa grossa avermelhada, onde dragões, minotauros e guerreiros portando espadas flamejantes estavam estampados, uma pintura caiu.

O título do livro era "O passado nunca esquecido de Truce". O garoto pegou cuidadosamente o papel fino que havia caído e percebeu que era um retrato desenhado de sua mãe. Na pintura bem detalhada, a beleza dela era impressionante: Tinha a pele bronzeada, seus olhos eram tão azuis quanto as águas do rio Soranso, que banhava todo o mundo.
Seus lábios eram carnudos e rosados e tinha um rosto meigo e simpático.

A pintura estava assinada por Hugo, que dias após a morte de sua cunhada, chamada Alexsandra, desenhou o retrato. Jimmy sentiu um aperto no coração e tentou conter suas emoções. Já haviam se passado quase dez anos desde a morte de sua amada mãe, que infelizmente não pôde presenciar o crescimento de seu filho e apreciar sua evolução na arte da esgrima.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora