Finalmente Morlun quebrou o silêncio e contou a Shall tudo o que havia acontecido, desde o ataque dos norvills na praça de Vallériz.
- Somando tudo isso, podemos notar que as engrenagens do destino estão se movendo depressa. Na verdade, as coisas estão acontecendo mais depressa do que havíamos previsto. - disse Hugo, olhando taciturno para o fogo das velas que se balançavam freneticamente por conta do vento frio que soprava do leste e atravessa as janelas da torre.
- O inverno está chegando e o inimigo vem vindo logo atrás. Séfratus planeja algo diabólico, por tanto, precisamos descobrir sem demora o que ele está tramando, antes que seja tarde demais. - replicou Morlun, traçando uma caminho no mapa, que partia de Fidélis e rumava para Império Natural.
- Penso em uma possibilidade. Um ritual talvez. - ao dizer tais palavras, olhos atentos cercaram Shall.
- Todos sabemos que Séfratus vem estudando muitos métodos para trazer Tríbax, o deus do fogo e da destruição de volta ao nosso mundo. E se ele descobriu sobre o ritual de sangue? - Shall perguntou.
Todos ficaram calados. Não ousaram pensar que aquilo poderia ter acontecido.
- Está blasfemando. Já chega! Partiremos o quanto antes para a fortaleza do inimigo. Resgatamos Sarah e desmascaramos Séfratus, então tudo será resolvido. - retorquiu Hugo.
Shall levantou-se abruptamente e chamou um dos soldados que passavam por ali. Cochichou em seu ouvido para que este fosse averiguar se nas bibliotecas da cidadela, ainda permanecia um livro chamado Farrd'gün. Depressa, o soldado partiu. E horas depois, quando as primeiras estrelas piscavam solitárias no céu, sem sua maior companheira, o soldado retornou. Morlun e Hugo perguntaram muitas vezes ao caçador de recompensas o que ele havia pedido ao soldado, antes que ele tivesse regressado, mas ele não os respondeu.
Quando o jovem guerreiro lhe deu a resposta, o rosto de Shall se contraiu em uma expressão de medo. Engoliu em seco, e andou de um lado para o outro do salão, ponderando. Até ter entendido, mesmo que não finalmente, o plano de Séfratus.
- Para o nosso azar, o livro foi roubado. Nele, estavam contidas as páginas que ensinam o ritual de sangue. - disse Shall, olhando para a lareira, que emanava um calor em seu rosto, iluminando suas cicatrizes, seus olhos cinzentos e mostrando sua barba rala. Revelando o rosto de um homem ameaçador, com olhar penetrante.
- E para sua infelicidade, meu amigo, - olhou para Hugo - sua filha parece ser o sacrifício. Se ele quer o sangue dela, e nós sabemos que para o ritual é necessário que seja usado o sangue daquele que é o último de sua raça, então chegamos a conclusão de que ela deve ser a última terúlyan.
O susto só não foi maior para Hugo, porque ele sabia que Sarah não era uma terúlyan. Mas isso não aliviou seus nervos. Embora soubesse que Jimmy seria caçado em breve, estava mais preocupado em resgatar sua filha.
- A essa altura, Séfratus deve saber que Sarah não é o que ele procurava. - começou Hugo. Morlun não entendeu de imediato. Shall ficou irritado, pois já havia posto todas as cartas na mesa, e mesmo assim Hugo o contrariava.
- Na verdade, meu sobrinho é quem carrega o fardo de ser o último terúlyan, mesmo sem saber. - para a surpresa de Hugo, Jimmy estava sendo informado, longe dalí, sobre sua origem.
- Está decidido, então. O último terúlyan deve ser levado para os domínios de Ürdis. - começou Morlun.
- Agora que sabemos dos planos do senhor de Império Natural, precisamos proteger a criança. E sobre a proteção de Ürdis, ele estará a salvo.
- Concordo. - disse Hugo.
- De acordo. Mas onde está ele? - perguntou Shall.
Hugo sentiu a culpa lhe engolir. Imaginou-se voltando no tempo e impedindo que seus filhos saíssem do rancho.
- Em Truce, talvez. Quando viemos de Válleriz, ele ainda estava lá. Imaginei que estivesse seguro, longe dos norvills e priorizei nosso encontro, aqui em Krãn.
Shall não acreditou, ou não quis acreditar. Mas acabou aceitando o fato.
- Rogo aos três grandes, para que guiem esta criança para longe daquele lugar. - disse o caçador.
- Façamos uma oração. - disse Morlun. E os três uniram-se em um pedido para os deuses. A noite caiu, o céu estava limpo, mostrando luzeiros brilhantes e trazendo de volta a lua cheia, que iluminava toda a cidadela e a copa das árvores que a rodeava.
Após terminarem a oração, Morlun e Hugo comunicaram a Shall, sobre a traição de Meledine. O antigo companheiro do trio, passou a trabalhar para Séfratus. O lado sombrio o corrompeu.
- Somos apenas nós três, a partir de agora. Mas tenho esperanças de que juntos, possamos fazer muitas coisas boas, com a ajuda dos três grandes. - disse Hugo abrindo um sorriso alegre.
Muito distante, de todas aquelas terras, Sarah tentava escapar de Império Natural, junto de sua nova parceira, a empregada de Séfratus, Kimberly Cleary, uma pobre humana que há muito perecia naquele lugar, rodeada de ódio e caos.
Com a ajuda de alguns nillúz, Kimberly levou Sarah, que encontrava-se dentro de um dos barris que estavam em cima de uma carroça, para os portos da fortaleza, onde um navio cargueiro estava prestes a zarpar, rumo às minas. O mar era negro, e nem mesmo a luz da luz era refletida nele. A viagem foi tranquila, durando somente algumas poucas horas. Na bagagem, o navio transportava ferramentas como picaretas, martelos, runas mágicas, que eram usadas para fortalecer equipamentos, e também havia muita comida sendo enviada para os monstros que passavam dia e noite nas minas.
Sarah podia ouvir muitas vozes abafadas, o barulho do mar, o som do vento, e infelizmente podia sentir o odor insuportável das carnes cruas, cheias de sangue fresco, que estavam dentro de seu barril e dos outros. Um tempo depois, ouviu o toque ensurdecedor de uma buzina, então sentiu que o navio havia parado. Kimberly bateu com o calcanhar nos pés do barril, e sussurrou que tinham chegado. Tomou cuidado, é claro, para que nenhum dos nillúz e norvills que estavam por perto, ouvissem ela falar com o barril.
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Quarttions - O Último Terúlyan
FantasyQuarttions é um incrível e vasto mundo medieval, regido pela magia dos antigos deuses e formado por quatro reinos, divididos por uma barreira mística, que separa os monstros cruéis das outras raças mais pacíficas. Essa gigantesca divisa foi feita há...