Um destino improvável - 02

24 5 0
                                    

Um portal exigia muito esforço e prática para ser conjurado, mas quando feito, passava a ser o meio mais rápido de transporte instantâneo. Por isso, em um piscar de olhos, Sarah se viu em uma ponte de concreto, suspensa por grossos e gigantescos pilares que desciam até o fundo do mar escuro de Império Natural.

A sua frente, havia um portão de mármore, e nele tinham centenas de runas que somente criaturas asquerosas, como as que viviam por lá, podiam ler. Dois monstros de três metros de altura, com corpos de homem, mas rostos semelhantes aos de touros e que tinham grandes chifres, mantinham a segurança da entrada principal. Eles carregavam lâminas curvas e avermelhadas, iguais a uma foice. Conhecidos como Nilluz, eram geralmente feitos de guardas e caçadores, por serem resistentes e extremamente brutais em combates de corpo a corpo.

Alí o clima era totalmente diferente dos outros reinos; O céu era sempre negro, chovia três vezes por semana e no entanto, de uma hora para outra, o ar tornava-se rarefeito e trovões raramente ribombavam nas nuvens, ajudando as tochas a iluminarem os ambientes sombrios. Não que a escuridão fosse algum problema para as raças de lá, pois todos contavam com olhos capazes de enxergar através das trevas.

Ambos na entrada comunicavam-se de uma forma peculiar. De suas bocas não saíam palavras decifraveis. Longe disso! Eram apenas rosnados, pareciam lobos ferozes disputando carne de veado. Porém, o que era considerado para Sarah como "grunidos", para eles eram seu idioma próprio. Meledine disse ao guarda para que autorizasse sua entrada. O enorme Nillú cheirou a jovem inocente, e permitiu que prosseguissem. Logo atrás de Sarah e Meledine, veio o brutamontes Füler; Aliás, todos de Império Natural eram gigantes, quaisquer criatura, por mais insignificante que fosse, media por volta de três a quatro metros.

Mal sabia a pequena varíg, de que logo mais encontraria um ser da pior espécie que poderia conhecer.

Isto é, bem... Ele costumava ser assim, quando queria. Digo, veja por si mesmo.

Na fortaleza de tamanho imensurável, sobre a mais alta das montanhas, residia o temível Lorde Séfratus, o exterminador de raças. Foi ele quem dizimou todos os Terúlyans de Truce. Era nisso, pelo menos, o que acreditava. No alto de sua morada, o elegante lorde Séfratus sentia o calor aconchegante de sua lareira, ornamentada com pilastras de ouro e prata, que embelezavam ainda mais o ilustre salão, onde repousava sentado sobre um sofá feito das penugens de um grifo, que teve o azar de encontrar o senhor do submundo em uma de suas caminhadas nas florestas cinzentas, pouco distante daquelas montanhas, onde governava como um deus.

Uma de suas escravas humanas, entrou em seu salão, empurrando duas portas vermelhas relativamente grandes. Trazia consigo uma bandeja de prata, com pratos cheios de carne de leopardo fritas, e duas jarras de vinho. A coitada tremia, os talheres faziam um barulho irritante batendo sobre o prato, ela não ousou se aproximar mais do seu senhor distraído. Ele estava deitado de bruços no sofá, lia um livro que contava histórias de como os antigos deuses criaram Quarttions, e como um deles sucumbiu as trevas.

- Se-se...Senh-r... - Oque quer que estivesse balbuciando, soava como chiados quase inauditiveis. - Séfratus sabia de sua presença, só estava tentando reunir paciência para lhe dar a atenção. Então, lentamente ele se endireitou no sofá, fechou seu livro, - tendo o cuidado de deixar marcado a página que lia - e penteou seu longo cabelo liso e escuro para trás, revelando um rosto de um homem sereno, com um olhar firme e intimidador. A escrava desviou o olhar dos penetrantes olhos amarelos-escuros do seu senhor ao abaixar sua cabeça em reverência. O feiticeiro, usuário da repugnante magia negra, que era Séfratus, respirou fundo e se levantou. Ficou de pé, na frente da coitada que a essa altura, além de se tremer toda, segurava sua urina. O homem alto e musculoso pôs uma de suas mãos delicadamente no rosto sujo e mal tratado da escrava.

- Kimberli. Este é o seu nome, não é? - Ela confirmou com a cabeça enquanto engolia em seco. - Ótimo. Kimberli, sabe que hoje meu humor está incrível! Finalmente vou poder dar início ao meu plano, digo, ao plano do Mestre. Então, minha cara, tire o dia de folga e tome um banho.

As palavras de Séfratus quase fizeram a escrava chorar, seus olhos ficaram marejados, se pudesse ela beijaria os pés do seu senhor. E antes que pensasse em terminar de servi-lo, ele retirou a bandeja de suas mãos e ordenou que a mulher fosse embora, educadamente. Sem o contrariar, Kimberli, a jovem escrava de vinte e cinco anos apressou-se para sair.

Logo depois, batidas em sua porta. Um sorriso de satisfação que há muito não se manifestava no lorde de Império Natural, deu um ar de homem pacífico e feliz ao feiticeiro.

- Entrem! - As portas abriram-se lentamente, revelando três figuras, iluminadas pelas luzes das tochas apoiadas nas paredes da montanha que sobressaia-se sobre o salão. Eram Füler, Meledine e Sarah.

- Trouxe a criança, do jeito que o senhor pediu, a última de sua raça. - Disse Meledine com um sorriso maquiavélico.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora