A reunião dos três - 05

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Morlun e Hugo trotearam com seus garanhões durante a metade de um dia. Eram os animais mais rápidos do mundo, pois vieram de terras muito distantes. Eles foram enviados de Gugdan até Quarttions, para o uso exclusivo de reis e guardiões.

Chegaram tão rápido em Fidélis, junto de um pequeno exército, que nem as estrelas conseguiram os acompanhar. Somente os raios de sol tiveram o mérito de alcançá-los enquanto atravessavam as cidades de Nír e Köl, que eram recheadas de muitas colinas, vales e imensos bosques, até chegarem em Krãn; Uma cidadela, guardada por grandes magos-guerreiros e mestres dos livros. Lá viviam somente humanos, mas muitas outras raças vinham de terras longínquas para adquirir conhecimento através dos Sábios.
Em Krãn, encontrava-se a sede dos guardiões​; Uma torre com trinta metros de altura, feita de pedras polidas. No primeiro andar, pois havia muitos andares, estava o grande salão. Era alí, que quando necessário, os guardiões se reuniam para debater assuntos de extrema importância, que envolviam todos os nove reinos.

- Acha mesmo que isso é um assunto de extrema importância? - perguntou Morlun, ainda desconfiado das intenções de seu parceiro, enquanto abria as grandes portas de madeira da torre. Hugo acabara de descer do seu cavalo branco, quando o respondeu.

- Sei que deve estar pensando que fiz isso pela minha filha. E se quer saber, meu velho amigo, você tem meia razão. - Morlun arqueou as sobrancelhas, confuso.

- Sarah ter sido sequestrada pelos servos de Tríbax, não é um simples evento sem significado.

Fez-se uma pausa até entrarem na torre e começarem a preparar o local para a reunião. Logo depois haviam retornado á conversa de outrora.

- O que está insinuando? - perguntou Morlun, acendendo a lareira do salão. Hugo acendeu algumas velas no candelabro de prata, acima da mesa de madeira escura e estendeu um mapa que continha a geografia de todas as nove cidades de Sódres.

- Tenho minhas teorias. E embora eu ache que estou certo, é preciso que todos os guardiões pensem igual. Agora devemos esperar que nosso companheiro, apesar de atrasado, chegue logo. - Com um pincel, Hugo fez um círculo ao redor de Império Natural.

- Shall pode ser um patife, admito. Mas com certeza não é um homem que costuma se atrasar. Acha que aconteceu algo? - perguntou Morlun com uma preocupação no olhar.

Hugo suspirou olhando para o mapa, em seguida voltou sua atenção para Morlun.

- Penso que não. Geralmente ele se encontra ocupado resolvendo assuntos próprios. Mas dessa vez vou lhe dar um sermão, pois este é um assunto que não deve esperar tanto para ser debatido.

- Tem razão. - disse Morlun

- É inacreditável que estejamos nos reunindo depois de... De... - O velho de cartola franziu o cenho, tentando lembrar-se.

- Treze anos. - retorquiu Hugo.

- Isso mesmo. - Começou Morlun, olhando para os guerreiros que andavam de um lado para o outro, descarregando os mantimentos que trouxeram para passar o mês.

- Éramos jovens como estes rapazes. Não que estejamos tão velhos, mas ainda assim, tínhamos mais vigor do que agora. - Morlun gargalhou e Hugo soltou um breve sorriso.

- Se não fosse por Shall, nós dois teríamos perecido na grande guerra, em Truce. Tudo bem que as lendas sobre ele são bastante exageradas. No entanto, me parece que algumas partes são reais. Desconheço alguém que tenha lutado sozinho contra milhares de bórians e druníliris, usando somente uma faca.

- Ele tem muitos dons, é verdade. Mas não nos esqueçamos de que é pouco confiável. Fique atento, Morlun, pois sua lábia é desigual e pode persuadir até mesmo um guardião, como você e eu. Além​ disso, fazem muitos anos que não o vemos. Fica difícil saber como ele pensa, agora.

Nos portões da cidadela, Shall foi interrogado pelo porteiro, que desejava saber quem era este, que ia entrar sem permissão. Também lhe perguntou sobre suas intenções na cidadela e o alertou de que ladrões eram punidos severamente de acordo com seus respectivos crimes. Apesar da noite ainda não ter se mostrado, seu rosto estava escurecido, pela sombra do chapéu marrom surrado, que nos dia de hoje, diriam ter sido usado por algum cowboy. O guardião de sobretudo, ao invés de lhe dizer a verdade sobre quem era, resolveu testar a segurança do lugar, inventando para o porteiro que ele pertencia á um grupo de estudiosos dos livros de geografia, que passariam alguns dias alí para fazer pesquisas e tudo mais. Também disse ao pobre porteiro, que seus parceiros tinham o enviado na frente para evitar quaisquer problemas com permissões e etc.

Como naquela época não havia um sistema de agendamento de visitas, quer fossem para estudos, turismo ou outras coisas, o porteiro acabou acreditando em suas mentiras e permitiu sua entrada, sem lhe perguntar mais nada e desejando um bom estudo. Algum tempo depois desse evento, por causa de Shall, a segurança foi redobrada e um sistema de agendamento foi implantado na cidadela, para evitar que algo como aquilo viesse a ocorrer novamente.

- Espero ter chegado a tempo. Desejo que o mundo não seja destruído por minha causa. Mas estive focado em um assunto que visa também, salvar o nosso lar. - disse Shall, em reposta as perguntas que lhe seriam feitas.

- Ürdis me enviou em uma busca, para encontar seu sobrinho, pois este deve partir o quanto antes para Sol Nascente.

- O que um voully tem a tratar com o povo do sul? Não vejo fundamento em tal informação, visto que há muito, ambos os povos não tem contato. Se bem lembro, Klaus nunca se dispôs a uma aliança com Ürdis e isso os afastou. - respondeu Hugo.

Shall olhou para ele sorrindo de canto, depois para Morlun e fez uma reverência.

- É um prazer revê-los, velhos amigos. - disse ele, sentando-se junto de seus companheiros, ao redor da grande mesa.

- Seus cabelos estão ficando brancos como a neve, Hugo. - riu Shall.

- É, parece que agora todo mundo sabe que eu envelheço como todos de minha raça. - disse Hugo ironicamente.

- Brincadeiras á parte. Peço para não ser mais interrompido. Como ia dizendo, o sobrinho de Ürdis, será enviado até sol nascente. E isto não é um pedido de seu tio, mas sim dos deuses, louvados sejam Shannom, Válleriz​ e Mullossous.

- Louvados sejam. - disseram Morlun e Hugo em uníssono.

- É de se admirar que vocês não saibam disso. Pois se precisaram falar com os três grandes para dar início a esta reunião, eles certamente deveriam tê-los informado sobre sua vontade. - disse Shall, desconfiando de seus dois parceiros.

O clima ficou tenso, e olhares desconfiados foram trocados.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora