Unidos pelo destino - 04

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- Meledine... Você... - Antes que Füler terminasse de falar, o mago o interrompeu.

- Sim, eu senti. No entanto, a hora do nosso embate deve ser adiada. A vontade do nosso senhor é prioridade. Quero enfrenta-lo quando ele e eu estivermos em um nível superior, para uma batalha digna.

Na praça, Morlun tentava manter seu Dragão de fogo inteiro, mas estava chegando ao seu limite. O jovem hábil e forte que um dia foi, não existia mais, agora era velho e cansado.

- Venha! - Gritou para a menina, ela obedeceu e correu assim que ele a chamou.

- Obrigada, senhor? ...

- Morlun. Vá encontrar seus pais, garota.

- Você é o meu herói! - A garotinha ruiva abriu um lindo sorriso e o abraçou. Espero não me arrepender de ter feito isso. Pensou Morlun.

Sarah sorria alegre, a garota foi salva, os monstros estavam sendo derrotados e agora era hora de se juntar aos sobreviventes novamente. Virou-se para descer as escadas da sentinela, precisava encontrar Jimmy e os outros, sua ajuda ali não era mais necessária, mas um homem alto e forte impedia a passagem. Ele era familiar para Sarah, Onde foi que o vi? Ela se perguntou.

- É uma pena você ter usado toda as suas flechas. Preciso que venha comigo. Então, eu prefiro que você se entregue sem que eu precise te forçar a fazer isso. - disse Füler com o rosto assustadoramente inexpressivo.

- Você é o homem que perguntou sobre o meu arco. Já devia ter desconfiado. O que quer comigo? - A garota tentava disfarçar o medo e estava conseguindo.

- Eu, nada. O tempo está passando. Como vai ser? - perguntou, sacando uma adaga de sua cintura e entrando em posição de ataque. Sarah olhou para trás de si e analisou a altura da Torre.

- Do jeito difícil! - Gritou em fúria, enquanto fez do seu arco, uma espada, atacando Füller com uma investida diagonal, esperando acertar seu pescoço. O homem careca de olhos negros, desviou com facilidade e agarrou o arco com sua mão livre, abrindo um sorriso em seguida.

- Errou. - disse com deboche. Sarah discordou com a cabeça, e acertou o órgão genital do brutamontes com um chute. Afastou-se rapidamente e depois se atirou na direção de Füler, acertando-o com os seus dois pés, e com o impulso que tomou, ela flexionou os joelhos e esticou-os, se jogando da Torre e passando por cima do pequeno muro que impedia quedas acidentais, em um mortal magnífico. Ela não chegou a cair no chão. Por sorte, havia ficado perto o suficiente da sentinela para se agarrar aos pequenos tijolos mal colocados, isso serviu para que descesse sem problemas.

Os monstros não vinham mais de nenhum lugar, Jimmy estava aliviado, mas seus braços estavam exaustos de tanto usar a espada pesada dos paladinos. A essa altura, ele e os sobreviventes estavam seguindo Kerolaine por dentro da floresta de árvores gigantescas e marrons. O silêncio do lugar era assustador, parecia que algo de ruim aconteceria a qualquer momento. A medida que corriam, a terra passava a ficar para trás e a lama se manifestava.

- Tem um rio a frente? - Gritou Sírus.

- Sim! - Kerolaine respondeu sem olhar para trás. Jimmy pensou nas crianças de colo, sobre como elas atravessariam para o outro lado de Vallériz nadando. Um largo caminho estava se mostrando para os presentes e a luz do sol refletida no Rio soranso fazia com que as pessoas semi-cerrasem os olhos. Eles conseguiram chegar.

As pessoas não entenderam, não tinha para onde ir, somente água existia até onde os olhos conseguiam ver. Mas Jimmy viu um pequeno amontoado de árvores a sudeste dalí. Os sobreviventes estavam exaustos de cansaço e medo, e agora que perceberam não ter mais chances de fugir, deixaram o desespero reinar sobre eles. Crianças choravam, adultos reclamavam e os guerreiros não sabiam o que fazer.

- Acalmem-se. Eu prometi que teríamos ajuda. - disse Kerolaine tentando conforta-los. Sírus não sabia onde estava seu chefe, o pensamento de perder ele não lhe era muito agradável. Mesmo com seu jeito bruto e arrogante, ele sentiria falta dele. O anão sabia o que era sofrer na mão de monstros como os norvills, por isso ele também precisava salvar aquelas pessoas.

- Você deu esperança a essas pessoas, para no final elas chegarem até aqui e perceberem que nada disso valeu a pena. Você prometeu ajuda, ENTÃO ME DIGA, ONDE ESTÁ ESSA AJUDA?! - Kerolaine estava prestes a dar uma boa resposta que calaria a boca coberta por barba do anão, mas algo maior fez isso por ela. Um grunhido ensurdecedor assustou todos que estavam ali, na fronteira da terra com a água. Uma águia gigantesca sobrevoava o lugar, de modo que suas asas batiam e criavam ondulações no rio.

- Lady Gaugh... A senhora das águias. - disse Jimmy maravilhado com a soberania do animal. O garoto já tivera lido sobre ela nos livros de folclore. Sabia que não era uma lenda, e naquele momento teve ainda mais certeza.

- Essa deve ser a ajuda. - Jimmy zombou do karaki, que estava pasmo de medo.

Na Praça, Morlun acabava de destruir as criaturas vindas de Império Natural. A magia tinha seu preço e, naquele momento estava começando a cobrar do mago de cartola. Todo o lado esquerdo de seu corpo tivera sido envolto por queimaduras de segundo grau, isso o obrigou a cessar sua invocação do dragão de fogo, que por sua vez, desfragmentou-se nos céus em pequenas luzes brilhantes.

A garota de cabelos quase ruivos corria em direção à floresta, estava contente, porque conseguira fugir de Füller. O brutamontes terminava de descer as escadas da pequena Torre, quando ao se aproximar da saída da sentinela, viu uma figura envolta por névoas escuras, era seu parceiro de missão. Por telepatia, Meledine disse-lhe.

- Deveria se envergonhar, por deixar que uma criança tenha o derrotado.

- Ainda posso alcança-la, espere um momen... - O guerreiro careca foi interrompido pelo levantar de um dos braços de Meledine. Sarah estava prestes a chegar ao fim da praça e adentrar no labirinto verde de árvores, quando sentiu seu corpo parar em pleno movimento. Uma sensação estranha, que nunca tivera sentido antes, seus ossos pareciam terem sido congelados, a única coisa que ela conseguia controlar, eram seus olhos.

- Pegue a garota e me siga, imprestável! - disse o ser encapuzado.

Meledine olhou de relance para o velho jogado no meio da Praça, próximo a uma pilha de corpos monstruosos queimados. Morlun, deitado de bruços no chão, virou sua cabeça para o lado e sentiu o medo percorrer por todo o seu corpo. Sabia que naquele estado, não conseguiria nem se levantar para confrontar o seu rival. Desespero, essa palavra definia bem o que se passava em sua mente. Não havia nada mais que pudesse fazer, pelo menos morreria como um herói.

Füller pegou a menina com tamanha facilidade que parecia estar carregando um pena em seus ombros e aproximou-se de Meledine. O mago servo de Séfratus, estava em pé ao lado de Morlun. Esticou sua mão em direção ao rosto do senhor de cartola e lançou-lhe um olhar sinistro.

- Faça depressa! - gritou Morlun.

- Que desperdício. Você deveria ter ficado do meu lado, quando fugimos daquela prisão. Acredite, tudo seria diferente. No entanto... Nossa última batalha será travada quando os deuses permitirem. E esse dia não é hoje. Continue a viver seus dias, com a certeza de que eu poupei sua vida. - Então, o mago conjurou um portal circular, onde do outro lado, mostrava-se uma fortaleza enorme. Os três entraram, Sarah pediu ajuda através de um olhar angustiante para Morlun, até que desapareceram ao atravessarem o círculo de fogo.

O ódio, a impotência e a vergonha lhe engolfaram em uma profunda depressão.

Quarttions - O Último TerúlyanOnde histórias criam vida. Descubra agora