Quarttions - O Último Terúlyan

Unidos pelo destino - 02

- Vamos, Jimmy! Esquive e ataque esse anão! - gritou Sarah eufórica. O incentivo era o que fortalecia o garoto, fazia com que sua força aumentasse e sua destreza melhorasse. Sírus estava cansado, não conseguiu em nenhum momento acertar o garoto ou a espada dele, para quebra-la em vários pedaços como antes. Mas era uma questão de tempo até conseguir o fazer, isso é, se Jimmy não soubesse que a espada de madeira do anão era na verdade de aço disfarçada com magia.

O garoto de olhos azulados respirou fundo e correu ao encontro do anão, fez menção de que ia atacar com um corte vertical, mas ao invés disso, ele acertou o anão com um golpe de punho fechado em sua barriga com força bruta, forçando o homem pequeno a cuspir sangue. Aproveitando o momento de atordoamento do tornado, ele acertou o braço de Sírus com sua espada, fazendo com que ele largasse a sua arma no chão. Jimmy trocou as armas na mesma hora, ficando com a espada de Sírus deixando a sua para o anão. A platéia gritava enlouquecidamente, o espetáculo estava valendo a pena, as pessoas jogavam moedas para o apresentador, que não estava nada alegre com o rumo que seguia a luta.

O tornado vermelho retomou a consciência a tempo de evitar a próxima investida do querido da platéia. Ele pegou do chão a espada que achou que fosse a sua e girou seu corpo para o lado algumas vezes até conseguir sair da zona de ataque do garoto. Fechou seus olhos, concentrou sua energia interior e respirou fundo. Quando os abriu novamente, brilharam em um tom roxo, era essa a ativação da sua espada, com isso sua consistência deixaria de ser frágil como a madeira e tornaria apenas o interior da arma em aço puro. Jimmy sentiu a espada em suas mãos ficar mais pesada, mas sua aparência ainda era a mesma. Ele entendeu que aquele era o momento. Esperou a vinda de Sírus, que desferiu um corte diagonal com a intenção de acertar o ombro do garoto, mas Jimmy desviou e acertou a espada de madeira do anão, quebrando ela em vários pedaços. O olhar do tornado vermelho era de um medo indescritível, em seguida o garoto de cabelos castanhos o acertou em cheio no peito com um golpe de espada poderoso, arremessando o pequeno homem para o meio da platéia.

A multidão aplaudia em peso o jovem que venceu com pouco esforço o duelo. Jimmy dirigiu sua atenção para o apresentador de cartola, ele precisava cobra-lo. O senhor de roupas sociais não estava nada contente com aquilo, por tanto, fez alguns movimentos com seus dedos por dentro de seu bolso, desfazendo a magia de ilusão. A espada de madeira que Jimmy carregava tornou-se uma espada com lâmina de aço sêffaniano, diante dos olhos de todos. Sarah não conseguiu acreditar na maldade do apresentador, ficou furiosa, mais do que em qualquer outro dia. A mulher que assistia tudo no meio da multidão ficou chocada, ela admirou tanto o garoto e se decepcionou com ele no final.

- Vejam, é magia, ele é um trapaceiro! - gritou o apresentador. A platéia vaiou quase que sem parar o garoto. Jimmy ficou desconsertado, irado e se sentiu impotente.

- Não, não é verdade, essa espada e do anão! Foi você que usou magia nela, você que é o trapaceiro, seu covarde! Eu quero minha espada de volta, eu ganhei a luta! - A raiva era clara na voz do garoto, mas naquela situação, a razão parecia estar do lado do senhor de cartola.

- Nem mais, nem menos. Você abusou das regras, por tanto, sua vitória foi anulada. - afirmou com convicção o apresentador.

As pessoas na platéia comentavam o acontecido, alguns vaiavam, outros já se retiravam, quando um grito ensurdecedor atraiu a atenção de todos. Uma criança morta, dilacerada, jogada próxima a entrada da Praça, onde um cartaz dizia: "A felicidade é a nossa prioridade."

Próximo á ela, algo que ninguém mais esperava ver, ou algo que para alguns não passava de lenda ou contos populares. Sua aparência era diferente de qualquer outra raça. A pele pálida destacava as veias que corriam pelo seu corpo musculoso. A criatura tinha um rosto horrível, seus olhos eram fundos e somente negros, as orelhas pontudas eram largas, também
não tinha nariz, no lugar dele haviam duas fendas e sua boca enorme cobria quase todo o rosto, com centenas de dentes mais afiados que aço sêffaniano. Os braços longos ultrapassavam os joelhos e sua altura era nada mais do que três metros e meio. Um Norvill, mais conhecido como Elfo Negro, um nome irônico, pois a pele era tão branca quanto o próprio branco.

O monstro gritou ferozmente, a multidão de pessoas no local estavam desesperadas, corriam para longe, escondiam-se em barracas ou fugiam para a floresta. Algumas dezenas de guardas do reino tentaram por um fim no caos que o festival havia se tornado e confrontaram a criatura horrenda. Mas quando parecia que eles conseguiriam derrota-lo, surgiram de dentro da floresta centenas de elfos negros, eles corriam muito rápido, devoraram e destroçaram cada pessoa que viram pela frente. Logo, mais guardas vieram e a Praça de Válleriz se tornou o palco de uma tragédia que há muito não ocorria.

A platéia, os dois trapaceiros, Sarah e Jimmy se mantiam imóveis, estavam logo atrás de um grupo de guardas que os protegia.

- De onde vieram essas coisas? - Sarah perguntou em prantos. A sensação de morte era horrível. A esperança de que os guardas poderiam dar conta de matar os monstros era extremamente baixa. Jimmy estava agarrado a sua companheira, mas por um instante a deixou de lado e virou-se para o apresentador de cartola.

- Me dê a espada, ela tem mais serventia para mim. Por favor, essas pessoas precisam de alguém que guie elas para fora daqui. Precisamos fazer algo agora, se não todos morreremos!  - disse Jimmy com a voz trêmula de medo. As palavras do garoto caíram como uma bigorna na consciência do senhor de cartola, então ele a entregou.

- Precisamos encontrar uma brecha entre esses monstros. - disse o anão Sírus. Jimmy assentiu com a cabeça, Sarah armou seu arco e a mulher de cabelos negros que antes observa o duelo, tomou a frente.

- Sei como podemos sair vivos daqui. - todos olharam para ela, perguntando-se quem era a estranha. Mas naquela altura isso não importava, precisavam segui-la.