1. I'll never be strong

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Este capítulo contém cenas fortes, se possui algum tipo de aversão a cenas com esse tipo de conteúdo, peço que não leia esta historia ou apenas mude o capítulo.

||Marie's point of view.||

Eu estava sentada no canto de uma sala escura, agarrada às minhas próprias pernas, repetindo frases para convencer a mim mesma de que tudo ficaria bem. O único som existente eram os de meus soluços, indo e vindo dos cantos úmidos e sombrios. Era impossível impedir que as palavras enrolassem na língua quando os sentimentos tentavam silenciar-me, tomando nota do meu corpo. Da alma.

Minhas únicas lembranças eram de um acontecimento recente, onde meu próprio pai entregou-me nas mãos de homens perversos. Não fui capaz de reparar nos diversos rostos, pois estava ocupada gritando e tentando correr de volta para ele. Meu pai... Não sei se posso chamá-lo assim outra vez.

Mas a cada piscar de minhas pálpebras, a cena reaparecia. Mais forte. Mais nítida. Com detalhes que ocasionavam uma série de calafrios.
Os socos que levei nas costelas; as vezes que quase arrancaram meus membros conforme eu ainda lutava.
A dor era a prova constante de que tal fato realmente aconteceu, mesmo que tivesse implorado para que não fosse concretizado.

Então me esforço para vasculhar boas memórias, me dando conta de que James fazia parte de todas elas. Ainda que tivessem suas falhas como pai, jamais permitiu que a falta de uma mãe fosse uma tristeza eterna. O fato de que ela morreu após meu nascimento não teve um grande impacto em minha vida, já que ele, empenhava os dois papeis principais no cotidiano de uma criança. Mas nunca pensei que ele fosse capaz de me vender, ainda mais para ser... o que eu nunca pensei que seria. Eu agora tenho um dono, pensar nisso dói a cabeça.

Pude ouvir a porta sendo aberta, então apertei ainda mais as minhas pernas. E mesmo contra todos os meus instintos gritantes insistindo para não olhar, não achei que fechar os olhos poderia me livrar de algo pior. Passos rápidos vieram em minha direção, seguida de uma dor ondulante que começou em minha cabeça e tomou o resto de mim, o que me fez fechar os olhos com força e então abrir a boca para gritar alto. Alguém puxava meus cabelos com tanta veemência, que quando me dei conta estava de pé, na ponta dos dedos.

— Por favor... por favor, me solte — disse com a voz falha e forçada, ainda com os olhos fechados. Os dedos do homem apertavam ainda mais em meus fios de cabelo, forçando minha cabeça para trás até que minha coluna fosse naquela direção, sucumbindo a dor axiomática.

— Mas é claro, minha querida. Como desejar. — a voz era grave e levemente rouca, mas aquela era sem dúvidas, a voz mais repugnante que já ouvi. Senti um empurrão em minha cabeça para frente, o que me fez perder o equilíbrio e cair no chão. Apoiada a minhas próprias pernas e mãos. Finalmente abri os olhos, encarando o chão cinzento. Senti o toque em meu queixo, me fazendo erguer o olhar e encarar um par de olhos opacos.

— Você fica linda nesta posição, querida. — ele disse, com aquela voz impiedosa. Apesar dele sua postura implacável, ele não parecia ser um dos seguranças que me seguraram ontem. Era superior.

Não respondi ao seu comentário, e em questão de segundos senti o lado esquerdo do meu rosto arder, e virar com a pressão de um tapa. Fiquei com o rosto na mesma posição, e qualquer reação básica desvencilhou-se de mim.

— Perdão, eu a machuquei? — disse ele, afastando-se. Virei meu rosto lentamente para encara-lo com fúria, mas sua resposta foi um rosto livre de emoções odiosas.

— Você é tão repugnante que preciso me esforçar para não vomitar em minha propria veste, senhor — me obriguei a dizer a ultima palavra com repulsa nítida e autêntica.

— Você é muito engraçada, garota. Corajosa demais para quem está nessas condições.

— E em que condições estou? — ergui uma de minhas sobrancelhas, formando uma ponte perfeitamente desenhada por cima do olho esquerdo. Obviamente não estava em minhas melhores condições, mas não queria demonstrar meu medo de forma alguma. Se você não é forte, ao menos demonstre ser.

— O seu "papai" — ele da uma pausa e faz aspas com os dedos. — te vendeu para trabalhar pra mim. Você já deve imaginar qual seja o tipo de trabalho, mas eu vou fazer o favor de confirmar os seus pensamentos: você será uma prostituta em minha boate, começará amanhã a noite. Mas antes, preciso te mostrar uma coisinha...— ele diz se aproximando em longos passos, o que me faz encolher ainda mais. Minha própria voz grita nos espaços vazios da minha mente, exigindo reações que não tinha forças para exercer.

Sua mão foi de encontro a meu braço, seus dedos grossos e pálidos apertaram-se ainda mais contra minha pele, o bastante para me erguer do chão quando me puxou. Encarei aqueles olhos profanos, dessa vez com terror absoluto, colocando em mesa a minha fragilidade.

O homem me puxa para mais perto de si, então sinto seus lábios repulsivos tocarem os meus, e sua língua tentar invadir meu espaço. Eu a fecho no mesmo momento, me debatendo perante ele, com minha mão livre e minhas pernas. Seus braços então me envolvem por inteiro, completando o objetivo de me imobilizar.

— Por favor... Não! — digo com dificuldade e ainda ofegante, obrigando-me a tentar golpeá-lo, mas nenhuma de minhas ações ou súplicas causam o efeito que deveriam.

— Isso menina, grite o quanto puder. Você deveria aproveitar a sensação, muitas adorariam estar no seu lugar. — sinto náuseas com seu hálito serpenteando em minha pele. Aquilo era tão insano quanto verídico, e eu desejei estar sonhando para acordar em meu quarto.

Sou lançada em outra direção, mas sou salva por um colchão que se encontrava a baixo de mim naquele momento. Não sabia quando aquilo foi parar ali, mas tinha certeza que era obra daqueles outros caras, que ficam a me vigiar mesmo por trás das portas.

Eu o encarei naquele ângulo, com meus cotovelos sustentando o meu tronco. Meus olhos rapidamente descem a sua calça, quando ele leva ambas as suas mãos para lá, retirando seu cinto com calma, como se quisesse me hipnotizar com aquilo.
Eletricidade ondula em meu interior quando deduzi o que faria, e temi pela minha vida.

Sentia-me fraca demais para me levantar e correr, meu corpo parecia doer ainda mais, e vozes continuavam a suplicar que eu me salvasse. Mas eu nunca conseguiria sair dali sozinha, não quando as probabilidades eram mínimas.

Ele já estava com sua box, quando senti suas mãos irem de encontro ao tecido fino de minha blusa, rasgando-a por inteiro. Só o que faço é impulsionar o meu corpo para frente, pelo impacto que tal ato causa aos meus neurônios.

— Por favor, me deixe em paz! —gritei a me virar, com minha mão a tampar meus seios mesmo coberto pelo sutiã. Então suas mãos fortes vão de encontro a minha calça, puxando-a para baixo, o bastante para deixar metade de minha calcinha para fora. Consigo sentir a vibração de minhas cordas vocais no momento que gritei.

Mas mesmo que as chances de ser salva fossem ainda menores naquele momento, clamo por ajuda. Peço aos céus que leve minha alma, mesmo que antes do tempo. E quando minha resposta não foi atendida, blasfêmei. Duvidando que Deus pudesse intervir.

Lutei até o último segundo, esgotando minhas forças enquanto me debatia contra ele, mas quando ainda assim, minhas vestes estavam em frangalhos e apenas alguns tecidos me impediam de ficar completamente nua.

Seu corpo me imobolizou de modo que eu não pudesse mover um único músculo, e senti minha garganta queimar ao proferir mais grunhidos. E então, ele me invadiu; dor era tão violenta que arrancou o resto de minhas forças. Mais investidas. Lágrimas desbotam dos meus olhos, e tento mover minhas pernas para chutá-lo para longe, mas nenhum músculo corresponde aos comandos repetitivos do meu cérebro.

A cada investida, uma parte de mim era quebrada. E enquanto isso acontecia, fragmentos do passado invadiam minha mente: lembrando-me de um episódio recente, que naquele momento me pareceu distante.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora