Doll

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||Claire's point of view.||

— aqui está o seu presente tão esperado — falei em alto tom, colocando a grande bolsa de cores denegridas bem à cima da mesa de Natanael, que tem um sorriso oblíquo nos lábios ao me ver desfadigar após carregar o peso de papéis valorosos até sua amada sala de trabalho.

— fico feliz que tenha de fato conseguido convencer aqueles...amigos — diz a última palavra com desamor, e eu calo a voz que me pergunta o que high e os outros fizeram de tão mau para ele. Não era de meu interesse. — só mais uma coisinha... — sinaliza com o dedo indicador, dizendo que eu deveria aproximar-me um pouco mais. Curvo o dorso diante da mesa e aproximo meu rosto do dele, com a valiosa bolsa entre nós. — você sabe que me deve muito mais do que isso, não sabe? — ele sussurra de maneira arrastada, mas eu não consigo responder, não com a aproximação que estávamos.

Seus lábios úmidos tocaram os meus, e eu permiti que o ato fosse concretizado, até que senti sua língua invadir meu espaço e eu não pensei em outra maneira de impedir aquilo a não ser prende-la entre meus dentes com toda a força. De um toque sutil para o peso de uma mordida sanguinária.

— filha da puta! — ele gritou, afastando-se rapidamente e levando as mãos à boca. Sorrio com suavidade e desdém, voltando a minha postura implacável.

— na verdade, sou eu quem define o que devo ou não para você — digo, dançando em torno da verdade. Mas então ele estreita os olhos, recuperando-se da dor aguda que a mordida em sua língua provocou.

— você se acha esperta demais, não é? — no instante em que ele fala, uma mecha de meus cabelos recai sobre meus olhos, e eu tenho que sopra-la para que não atrapalhasse a visão que eu tinha daquele homem proemimente.

— isso tudo é culpa sua — falo, mas não em um tom de acusação elevada. Ele não protesta, então prossigo: — o tempo que passei presa nesse lugar foram o bastante para que eu pudesse alimentar o meu ego. Sou uma mulher melhor agora, graças à sua bondade de me acolher aqui e me proteger daqueles... — faço uma pausa, escolhendo uma palavra que melhor os define. — homens bondosos.

— eu posso simplesmente acabar com toda a sua felicidade e te manter aqui novamente — quase solto uma gargalhada, mas me contenho. — é só você continuar me provocando...

— oh, meu querido...— uma pausa; as unhas deslizando livremente na madeira escura, ocasionando ruídos quase que inaudiveis. — eu daria um jeito de escapar daqui

— se soubesse como escapar, teria feito antes — novamente, os dentes enfileirados dão às caras na fenda de meus lábios, um tanto próximo do rosto longo e sério de Nate.

— está certo de que eu não tenha feito isso antes? — não foi preciso gritar para cravar as palavras em seu cérebro, bastou um sussurro para que sua feição mudasse drasticamente. Não sei distinguir o que se passava no interior de sua cabeça, mas consigo notar que são emoções não tão boas. — parece que seus seguranças não cumprem as suas regras rigorosas... eles gostam de mim, sabia disso? — desvio o olhar de seus olhos para seus lábios, esperando por uma resposta. Silêncio.

eles não...tinham permissão para tocar em você, eu...

— tem certeza? — deixo a pergunta no ar por alguns segundos, então o silêncio é cortado por uma risada mediana vinda de mim. — precisa rever suas ações, você não tem tanta autoridade quanto pensa ter, e isso eu posso provar — ele permanece calado, o maxilar travado a formar uma pequena onda em sua bochecha. Nenhuma reação. Me coloco em posição de saída, retirando-me de sua sala e acenando no ar, sem obter resposta imediata.

É claro que nunca nenhum dos homens de Natanael ousaram tocar-me nem que fosse para auxiliar em alguma tarefa árdua, mas às vezes é necessário mentir para simplesmente derrubar a autoridade que algumas pessoas pensam ter.

Por muito tempo, Nate usou a minha vulnerabilidade a seu favor para se aproximar de mim. Com medo de que high pudesse me fazer algum mal, acreditei cegamente em suas palavras, que me garantiam proteção à cima de qualquer outra coisa. Eu estava louca e frágil, demorou anos para que eu conseguisse me livrar da insanidade e da depressão profunda.

Ele parecia gostar disso, pois jamais incentivou a minha recuperação. Quando notei que tudo o que fui para ele não passou de uma simples boneca de argila, onde ele poderia moldar da maneira que quisesse, lutei para reconquistar a minha liberdade. Não diria que foi fácil, pois ele ainda vive com o sentimento de que eu devo algo para ele. Não devo. Sinto que não devo temer suas ameaças, mas sei que ainda sou induzida a cumprir suas ordens mesmo que meu corpo não queira. Meu cérebro passou a entender que é o correto. Talvez por medo, ou porque gosto de viver no perigo desde que meu lado desvairado passou a tomar conta de mim na maioria das vezes.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora