queen of darkness

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|| Clarie's point of view. ||

Flash back on...

A dor interminável invadia o meu corpo fragilizado de tal maneira que, não conseguia me manter parada ou simplesmente quieta. Os espasmos, eram cada vez mais frequentes e minhas cordas vocais vibravam toda vez que um grito era expulso de meu corpo. Sinto calor e minha pele parece derreter diante daquilo, a visão torna-se turva e lágrimas ferventes percorrem um pequeno caminho até tocar o travesseiro onde minha cabeça estava apoiada. ganho uma cor diferenciada, e minha coluna se sustenta no ar por alguns segundos, até cair novamente na cama macia e úmida pelo suor.

Os homens presentes naquele quarto com pouca iluminação, têm seus olhos assustados virados para mim, embora suas faces não mostrassem a mesma expressão. Certas vezes, em meus momentos de delírios, via alguns deles andando de um lado para o outro e dizendo coisas que meu cérebro não conseguia compreender, mas o fato era que nenhum deles tinha permissão para tocar em meu corpo e auxiliar no parto.

— vamos senhora, força! — uma voz conhecida gritou, virei para o lado para ver de onde vinha tamanho vigor em seu timbre, mas tudo o que vi foram esculturas negras na escuridão.

Mais uma vez, liberei um urro de dor e elevei o meu corpo, sentindo algo grande rasgar-me entre as pernas de forma brutal. E o vento parecia soprar em meu ombro, sussurrando coisas que não sei explicar se eram reais ou apenas fruto da minha imaginação. Naquele momento, eu culpava high por ter posto essa criança em meu ventre. Mas eu precisava, de uma maneira ou de outra, colocar aquela vida no mundo sem a ajuda de mais ninguém, pois eu estava sozinha.

— por favor...chamem Natanael...— sussurrei para praticamente ninguém pela vigésima vez, sabendo que seria respondida com apenas um "ele não está aqui, foi resolver umas coisas", mas estava enganada, pois ninguém se atreveu a me responder.

Outra pontada. Eu sentia a necessidade de cuspir aquela criatura de meu corpo antes do amanhecer. Se pelo menos Natanael estivesse ali para segurar a minha mão, a criança já estaria em meus braços a tempos. Empurrei mais uma vez. Meus gritos são tão altos que temo em fazer os vidros daquela casa quebrarem. O ar parecia me faltar em alguns momentos, mas a pouca força que eu tinha, ainda era útil para algo.

E de repente, tudo ficou em silêncio. Senti o alívio e a fraqueza me dominarem, e o que me restou foi cair para trás com lágrimas quentes escorrendo dos meus olhos. Mas algo não estava certo. Não ouvi o choro de meu filho. Não ouvi seu primeiro suspiro de vida. Não ouvi nada que me provasse de que ele estava ali comigo. Então, ergui meus ossos fracos e abri caminho entre as pernas, enxergando um corpinho frágil e ensanguentado com o cordão umbilical ao redor de seu pescoço. Por um segundo, a voz pareceu ter ido embora. Depois de tanto tempo em uso, minhas cordas vocais pareciam estar arrebentadas. Meu corpo inteiro paralisou. Eu olhava para aquela criança e via o retrato vivo do homem que um dia eu amei.

— saiam daqui...— minha voz parecia mais um chiado na janela, mas foi ouvida por todos ali, que sairam em linha reta em direção a saída e me deixaram só com o meu filho morto.

Estiquei meus dedos magros na direção dele, e puxei lentamente o cordão de seu pescoço, sem querer quebrar a ligação que tínhamos antes mesmo de eu poder ver seu belo rostinho. Levei meu bebê até o ombro e o consolei, fazendo som de mar com os lábios e balançando meu corpo calmamente para que ele se sentisse seguro.

— pronto...já passou...está tudo bem, estou aqui com você — falei para ele, não obtendo resposta. Acariciei seus cabelos sujos e quando achei que a água de meu corpo havia acabado, chorei mais uma vez, apertando seu corpo sem vida e o ninando como se ele pudesse me ouvir de alguma forma.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora